Santo Estêvão, primeiro mártir.

Ó Senhor, dai-me um coração grande, capaz de empreender por Vós grandes coisas.

1 – Quem aspira à santidade deve ter um coração grande, magnânimo, que não se contenta com fazer por Deus obras de pouca importância e pequenos atos de virtude, mas que deseja fazer coisas grandes e dar-Lhe grandes testemunhas de amor. Do mesmo modo que não há santidade sem virtude heroica, também não se pode chegar ao heroísmo sem praticar grandes atos de virtude..

Certas almas pensam que alimentar grandes desejos e querer fazer por Deus grandes coisas é orgulho e ilusão do demônio. Sê-lo-ia decerto se com isso se buscasse a própria honra e o aplauso das criaturas ou se, por fazer coisas grandes, se descuidassem as pequenas e quotidianas que se encontram todos os dias na linha do dever. Não é assim, porém. A virtude da magnanimidade incita a alma a prestar grandes serviços a Deus, nunca no entanto em detrimento da obediência, da humildade e do cumprimento do dever. Seguindo esta linha de conduta, a alma generosa encontrará com frequência coisas árduas e difíceis que requerem muita virtude, mas permanecem a maior parte das vezes ocultas por completo aos olhos das criaturas. Em circunstâncias semelhantes somos muitas vezes tentados a retirar-nos sob o pretexto de não ser necessário levar a virtude a tais extremos e a desculpar-nos, dizendo: não somos anjos, não somos santos. “Embora não o sejamos – adverte Sta Teresa de Jesus – é um grande bem pensar que, se nos esforçamos, o podemos ser, dando-nos Deus a mão” (Cam. 16, 12). A Santa insiste vivamente em que os que se dão à vida espiritual não alimentem desejos mesquinhos, mas generosos, não temendo rivalizar com os santos e atesta-o com autoridade: “Não vi nenhuma destas almas [corajosas] ficar a meio caminho nem vi nenhuma alma cobarde oculta sob a capa da humildade adiantar em muitos anos o que estas adiantam em poucos” (Vi. 13, 2).

2 – O contrário da magnanimidade é a pusilanimidade ou mesquinhez de espírito, defeito que impede as almas de realizarem obras grandes por excessivo temor de fracassar. É verdade que não devemos ser temerários, expondo-nos por nossa própria vontade a empresas superiores às nossas forças; isto é também defeito, é imprudência e presunção que desagrada a Deus. Mas quando, através das circunstâncias e depois de suficiente exame, vemos com clareza que o Senhor espera de nós certos atos de virtude ou determinadas obras, não devemos retroceder, por muito difíceis que nos pareçam. Porventura Deus não poderá dar-nos a força de realizarmos o que nos pede? Porque duvidamos dEle? O pusilânime que em tais ocasiões se retira com a desculpa de não se sentir capaz de tanto, pode julgar-se humilde, mas no fundo é um cobarde, é um soberbo que duvida de Deus. É cobarde porque, demasiado preocupado consigo, teme o risco, teme expor-se às críticas alheias, teme a fadiga e o sacrifício; é soberbo porque mais confia no seu juízo errado do que em Deus e na Sua graça. O humilde, ao contrário, apesar de estar consciente do seu nada, dá crédito a Deus, e se está convencido da sua fraqueza, mais convencido está de que Deus Se pode servir dela para realizar obras de valor. O verdadeiro humilde, portanto, nunca é pusilânime, mas sempre magnânimo: não teme lançar-se a fazer grandes coisas por Deus e esta disposição ajuda-o muito a progredir. “Embora a alma não tenha forças – diz Sta Teresa de Jesus – dá um voo e sobe muito alto, ainda que, como uma avezinha mal emplumada, se canse e páre” (Vi. 13, 2). Cansar-nos é próprio da nossa fraqueza, mas se temos grande confiança é grande amor, saberemos voltar bem depressa a levantar voo. Quanto mais plena for a nossa confiança em Deus, mais fortes nos tornaremos com a fortaleza divina; quanto mais ardente for o nosso amor, mais nos tornaremos capazes de fazer coisas árduas pelo Senhor: “O amor perfeitíssimo – ensina S. Tomás – empreende as mais difíceis coisas” (III Sent. D. 29, q. 1, a. 8). Amparados pela confiança e pelo amor, poderemos elevar o nosso voo muito alto sem temer os perigos e as quedas.

Colóquio – “Oh! amor forte de Deus! Como parece nada ser impossível a quem ama! Oh! ditosa alma que alcançou a Vossa paz, ó meu Deus! Ela domina os trabalhos e os perigos do mundo e nada teme quando se trata de Vos servir.

“O Vosso verdadeiro servo, ó Senhor, a quem iluminastes e guiastes pelo verdadeiro caminho, quanto mais sente o temor, mais lhe cresce o desejo de não parar. Ensinai-me, pois, ó meu Deus, a seguir sempre para diante, a combater como forte, ajudai-me a furtar-me aos golpes do demônio que tenta amedrontar-me.

“Que faz, ó meu Deus, uma alma se não se consome toda por Vós? E quão longe estou, quão longe – sim, posso repeti-lo mil vezes – quão longe estou de fazer isto! Quantas imperfeições vejo em mim! Quanta frouxidão no Vosso serviço! Muitas vezes, para não sentir tanto mal em mim, quisera perder o sentimento. Dai-me uma grande confiança e aumentai os meus desejos porque se me esforço, pouco a pouco – ainda que não seja logo – creio que poderei chegar onde chegaram muitos santos, coma Vossa ajuda.

“Como é verdade que tudo se pode em Vós e como entendo que por mim não posso nada! Suplico-Vos por isso com Sto Agostinho: ‘Dai-me, Senhor, o que me mandais e mandai-me o que quiserdes'” (T.J. P. 4; Ca. 21, 9; 20, 2; Vi. 39, 6; 13, 2 e 3).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 25 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico

Compartilhe:

Picture of Arsenal Católico

Arsenal Católico

O Arsenal Católico é um blog dedicado à preservação e divulgação da tradição católica, abordando tudo sobre a Igreja Católica Apostólica Romana. Aqui, você encontra orações, novenas, ladainhas, documentos da Igreja e reflexões sobre os santos e a doutrina católica. Nosso compromisso é oferecer conteúdos profundos e fiéis aos ensinamentos da Igreja, promovendo a formação e o fortalecimento da espiritualidade de cada visitante.
Encontre-nos aqui

Relacionados