Depois de termos visto qual a Igreja fundada por Nosso Senhor e quais as notas singulares que a caracterizam, passemos a examinar qual seja, em nossos dias, a autêntica Igreja de Cristo: se a Igreja Católica, ou alguma das inúmeras igrejolas que no protestantismo pululam, quais cogumelos em terreno próprio.
O primeiro característico da verdadeira Igreja de Cristo é a unidade. Manifesta-se, acaso, no protestantismo ou em algum dos igrejós em que se vem continuamente fragmentado?
De modo nenhum.
Primeiro porque, em virtude do seu tão alardeado princípio de livre exame, o protestantismo não pode ter unidade religiosa. Segundo porque, de fato, não a tem.
Não a pode ter em virtude do princípio fundamental, que lhe constitui a própria essência, a
saber, que em matéria de Fé e de Religião, cada indivíduo tem o direito de admitir o que bem lhe parecer, sem que haja neste mundo uma regra ou uma autoridade que lhe possa restringir, num ponto qualquer, a sua liberdade e independência absoluta. Tolerar, ainda que num só ponto, alguma restrição, por mínima que seja, a essa liberdade e independência individual, significaria a rejeição do protestantismo e o regresso evidente ao princípio católico de submissão à autoridade.
Nem se objete que o protestante se submete à Bíblia. Submete-se efetivamente à Bíblia; mas, segundo as teorias da Reforma, não tem ele, acaso, o direito de interpretá-la como entende? E se a interpreta mal, será obrigado a seguir a interpretação alheia? No primeiro caso, conformando-se com a sua interpretação errônea, será vítima do próprio erro. Na outra hipótese, sujeitando-se à interpretação de outrem, de qualquer pastor, por exemplo, já deixa de ser protestante. Logo, em virtude do seu fundamental princípio de livre exame e de absoluta liberdade individual em matéria de Fé e de Religião, não pode o protestantismo possuir o caráter de unidade que Jesus Cristo imprimiu à sua Igreja.
Não a pode ter e, de fato, não a tem. Da história e do estado atual do protestantismo consta que, entre os sequazes da Reforma, tantas são as crenças diversas quantas as cabeças. As suas seitas – ou igrejas, como dizem – dividem-se e subdividem-se continuamente, contradizendo-se umas às outras, e alterando quotidianamente as suas teorias. Só nos Estados Unidos se contam trezentas seitas protestantes; mais de quarenta na Inglaterra; inúmeras na Alemanha, para não falarmos de outros países.
Teríamos o direito de indagar de todas estas seitas, tão diferentes umas das outras e tão mutuamente opostas, qual delas é a verdadeira Igreja de Cristo? Limitaremos, todavia, esta pergunta às seitas protestantes que, por desgraça, infestam o Brasil. São dez, conforme as recentes estatísticas oficiais: (1) anglicana, batista, independente, cristã, episcopal, evangélica, evangélica alemã ou luterana, metodista, presbiteriana e presbiteriana independente. Respondam, pois, esses raros brasileiros que, em má hora, se deixaram arrastar para tais seitas: qual delas é a verdadeira Igreja de Jesus Cristo? E se não podem responder, por lhes faltar a necessária concordância, ouçam o uníssono protesto de todos os católicos brasileiros, concordes na sua crença, os quais constituem a imensa maioria da nação e confessam com ufania a sua Fé, tão antiga como os séculos cristãos e tão vasta como o orbe: Creio na única Igreja, que é a católica!
Só na Igreja católica, efetivamente, se encontra – e visibilíssima – a unidade perfeita que Jesus Cristo conferiu à sua Igreja.
Graças ao Primado do Papa, legítimo sucessor de São Pedro na Sé romana e no Supremo Pontificado, todos os católicos do mundo, com os seus Bispos à frente, se conservam intimamente unidos ao seu Chefe visível, augusto representante, aqui na terra, de Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim como todos os raios da circunferência concorrem para o centro, e, à medida que deste se aproximam, tanto mais se convizinham entre si e mutuamente se unem, da mesma forma todos os católicos disseminados pela superfície do globo convergem para o seu centro de Fé, que é Roma, e nesta união com o Pai comum se sentem todos perfeitamente unidos uns aos outros pelo tríplice vínculo da Fé, da Esperança e da Caridade cristã.
Pode o católico percorrer o mundo em qualquer direção, do norte ao sul, do oriente ao ocidente: por toda a parte encontrará a sua Igreja com o mesmo culto, a mesma profissão de Fé, a mesma pregação, o mesmo catecismo; porque o Soberano Pontífice estende a sua jurisdição unificadora por todas as partes do mundo, e não somente às definições solenes emanadas da sua autoridade suprema e infalível, não apenas às suas ordens terminantes, mas ainda ao seu mais simples aceno fielmente obedecem quase trezentos milhões de católicos, na hora presente.
Tal a unidade que há e houve sempre na Igreja católica: unidade perfeitíssima de espirito e de coração, produzida pelo Unificador divino – Nosso Senhor Jesus Cristo. Nem o protestantismo, nem outra qualquer instituição humana jamais tiveram coisa alguma que se possa comparar com esta união que no reino de Cristo – a Igreja católica – fulgidamente resplandece. Bastaria este caráter de unidade, para reconhecer na Igreja católica a Igreja autêntica, instituída por Jesus Cristo.
Continua…
A Propaganda Protestante e os Deveres dos Católicos, Carta pastoral, Dom Fernando Taddei da Congregação da Missão, 1929.
1) Cfr. Anuário Estatístico do Brasil – 1927 – pgs. 100 – 229.
Última atualização do artigo em 13 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico