Colaboradores de Deus

Na Igreja, José Gallegos y Arnosa, antes de 1977 - public Domain - Wikimedia Commons

Senhor, tomai posse de mim para que seja digno de colaborar conVosco na difusão do Vosso reino.

1 – Falando do trabalho apostólico, S. Paulo diz: “Dei sumus adjutores” (I Cor. 3, 9), somos cooperadores de Deus.

O apostolado não é, portanto, uma atividade pessoal, fruto mais ou menos apreciável dos próprios recursos e iniciativas, não é uma atividade que se pode desenvolver segundo os nossos pontos de vista, nem muito menos com as próprias forças. Qualquer forma de apostolado, é colaboração com a única obra de redenção e santificação que Deus realiza no mundo através dos séculos. Só Deus pode resgatar e santificar, Ele que possui a santificação como coisa própria, e que é o Criador e a fonte da graça. “Há um só mediador entre Deus e os homens” (I Tim. 2, 5), há um só Redentor e Santificador: Jesus, o Verbo Incarnado; todos os outros, mesmo os maiores santos e até Nossa Senhora, só são apóstolos enquanto colaboram na obra de Cristo. Nós, como diz S. Paulo, não fazemos mais do que emprestar a Deus a nossa atividade: “Eu plantei, Apolo regou; mas Deus [é que] deu o crescimento. De modo que não é nada nem o que planta, nem o que rega, mas Deus que dá o crescimento” (I Cor. 3, 6 e 7).

Certamente que o trabalho do agricultor é necessário para fazer frutificar o campo; contudo não é suficiente, pois é precisa a chuva e o sol, o tempo propício. Da mesma maneira, a atividade do apóstolo é necessária para o cumprimento do plano estabelecido por Deus para a salvação dos homens, porém não basta; só Deus pode dar o crescimento. Assim como só Deus pode fazer brilhar o sol e mandar a chuva para fecundar o campo material, assim também só Deus pode dar a graça para fecundar o campo do apostolado. S. Paulo estava tão convencido desta verdade que, dirigindo-se aos Coríntios, exclamava: “Dei agricultura estis, Dei aedificatio estis” (I Cor. 3, 9); ainda que ele fosse o primeiro que os gerou para a fé, não diz: sois meus filhos, sois meu campo, mas “sois campo de Deus, sois edifício de Deus”. O apostolado não é uma obra humana, mas uma obra divina, à qual o homem presta a sua colaboração como humilde instrumento.

2 – Se o apóstolo é instrumento de Deus, não é, porém, um instrumento material, como por exemplo a caneta nas mãos do escritor, mas sim um instrumento vivo, pessoal, dotado de inteligência e de vontade e que, por isso, deve colocar-se voluntariamente à disposição do Artista divino, procurando harmonizar, ou melhor, sincronizar a sua maneira de pensar, de querer, de agir, com o modo divino, com os métodos e quereres divinos. Cada um de nós será apóstolo na medida em que for instrumento dócil nas mãos de Deus, instrumento de que Ele possa servir-Se à Sua vontade.

Olhemos mais uma vez para Jesus; a Sua humanidade foi o instrumento de que o Verbo Se serviu para a redenção do gênero humano. A Humanidade de Jesus não tem personalidade própria; a Sua vontade, a Sua inteligência, os Seus afetos, o Seu corpo, são instrumentos do Verbo, de que Ele Se serve com plena liberdade e através dos quais realiza a Sua obra de amor para a salvação dos homens.

O apóstolo – embora tenha uma personalidade própria que permanecerá sempre distinta de Deus, mesmo nos estados mais elevados da união mística – deve dar-se a Deus de um modo semelhante, como um dócil instrumento, uma pura capacidade posta totalmente à Sua disposição. Tudo o que o apóstolo recebeu de Deus – inteligência, vontade, dotes naturais e sobrenaturais – deve oferecê-lo livremente ao Senhor para que deles Se sirva como quiser para a difusão do Seu reino. Quer Deus o empregue em obras grandes e brilhantes ou em obras humildes e ocultas, quer Se sirva dele para anunciar em público a Sua palavra ou para iluminar as almas em segredo, quer o empregue numa atividade intensa ou o imole na oração e no silêncio, pouco importa, contanto que todas as suas forças e toda a sua vida sejam consagradas ao serviço das almas.

Tal como a obra da santificação pessoal, também a obra da santificação dos outros, isto é, o apostolado, se resume num problema de docilidade, de disponibilidade à graça, ao querer divino; portanto, resume-se num problema de morte a si mesmo, a tudo o que, no próprio pensamento, na própria vontade e conduta, se pode opor, por pouco que seja, ao pensamento, á vontade, à conduta de Deus.

Colóquio – “Bem sei, meu Deus, que não precisais de ninguém para levar a cabo a Vossa obra, mas assim como permitis ao jardineiro perito cultivar plantas raras e delicadas e lhe dais para isso a ciência necessária, reservando-Vos o cuidado de as fazer frutificar, assim quereis ser ajudado no divino cultivo das almas… Ah! quantas almas chegariam à santidade, se fossem bem dirigidas!

“Meu Deus a maior honra que podeis fazer a uma alma não é dar-lhe muito, mas pedir-lhe muito. Por isso quando me dais que sofrer pela salvação das almas, tratais-me como aos Vosso privilegiados! Não foi sofrendo e morrendo que Vós também resgatastes o mundo? Ó Jesus, aspiro à felicidade de sacrificar a minha vida por Vós, mas o martírio do coração não é menos fecundo que a efusão do sangue e desde agora este martírio é meu. Como é bela, ó Senhor, a parte que me reservastes, parte digna de um Apóstolo!

“Ó Senhor, sim, desejo trabalhar conVosco na salvação das almas; só tenho o único dia desta vida para as salvar e para Vos dar assim uma prova do meu amor. O amanhã deste dia será a eternidade; então me dareis centuplicadas as alegrias que sacrifico por Vós.

“Como é doce, ó Jesus, ajudar-Vos com os nossos pequenos sacrifícios a salvar as almas remidas por Vós a preço do Vosso Sangue e que, para não caírem no abismo, só esperam o nosso socorro.

“Como seria feliz se no momento da minha morte pudesse ter uma alma para Vos oferecer! haveria mais uma alma arrancada ao fogo do inferno que Vos glorificaria por toda a eternidade” (T.M.J. M.A. pg. 132; Cart. 184, 171, 23).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 8 de março de 2025 por Arsenal Católico

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