A paternidade envolve necessariamente o poder de proteger, conservar o filho, a quem os pais comunicaram a existência, pois conservar é criar continuamente.
Este ser, dado à existência em virtude da ação geradora dos pais, é um composto de alma e corpo, e ambos, portanto, ficam sob a vigilância do poder paterno. Daqui a seguinte consequência: o ensino da alma é também direito inalienável dos pais que são os canais que Deus escolheu para lhe comunicar as luzes.
“Alguns, inspiremo-nos em P. Janet, quiseram roubar o filho à família para dá-lo à sociedade, ao Estado: era cair em grande erro, porque o filho deve evidentemente pertencer a aqueles sem os quais ele não existiria…Os pais tem com toda a evidência o dever de carregar o menino, porque são causa da existência dele; mas este dever lhes cria pela mesma razão um direito; porquanto como seriam responsáveis por esse ser que eles criaram, se não pudessem dispor dele numa certa medida?
Há entre os pais e os filhos um laço físico, um laço de coração, e um laço de razão: que autoridade pode no mundo correr parelhas com a paterna? Nenhuma repousa sobre os princípios mais naturais, nenhuma é mais necessária, nenhuma é cercada de maiores amparos.
Os pais tem sobre os filhos direito de autoridade, mas não de propriedade.”
“O absurdo da doutrina, que pretende arrebatar os filhos à família para entregá-los ao Estado, revela-se-nos em toda a luz de sua injustiça revoltante, quando considerada em relação à mãe e ao filho. Este menino que ela trouxe no ventre […], a quem deu à luz […], a quem pertence senão à mãe? A sociedade, essa madrasta, teria cuidados e sacrifícios semelhantes, igual esquecimento de si mesma, e igual condescendência para com a fraqueza do menino? A natureza, pondo nos seios da mãe a fonte do primeiro e suave nutrimento do filho, não quis estabelecer entre ela e ele relação tão sensível, que a ninguém passasse pelo pensamento contestar seus direitos?” (1)
A mesma paternidade supõe por natureza das coisas o poder governativo nos pais.
A família é uma sociedade, e toda a sociedade supõe governo . Ora, o governo na sociedade deve pertencer a aquele que é superior, e na sociedade doméstica os pais são superiores aos filhos.
Sobre as frontes dos pais brilha um raio da majestade divina, pois segundo a linguagem cristã, eles são imagens vivas do Deus Criador, e representantes veneráveis do nosso Pai que está nos Céus .
A voz divina, que promulga bençãos ao filho que ama seus pais e lança maldição nos que os ultraja m, (2) relembra no foco domestico a inesgotável ternura com que devem os pais governar seus filhos, e estes responder por obras de fácil obediência á direção paterna .
Conta a historia que São. Leônidas, mártir, muitas vezes se aproximava do leito em que repousava Origines, seu filho, descobria-lhe o peito e beijava o com respeito como santuário em que residia o espírito de Deus.
O direito de governar supõe o poder de correção, sem o qual as leis carecem de sanção penal. Aos pais, portanto, não pode faltar este direito .
Os filhos tem inclinações más, instintos contrários á própria formação; a alma tem suas revoltas : é mister corrigir.
Os deveres dos pais fundam-se nos seus direitos, parecem confundir-se entre si, e uns e outros podem encerrar-se na grande arte de educar seu filho .
(1) Janet . La Famille, p. 108 e 110.
(2) Levit . XX, 9.
Do Livro: O Lar Católico, Pe Joaquim Silvério de Souza, 1899.