I – ANTES DO NASCIMENTO DA CRIANÇA
P. – Quando principiam os deveres dos pais para com so filhos?
R. – Logo que a criança existe, isto é, desde o primeiro instante da concepção, segundo a opinião hoje geralmente admitida.
P. – Que deve fazer a mãe enquanto traz a criança no seio?
R. – Evitar tudo o que possa prejudicar essa frágil existência e, em especial, como diz o Dr. Surbled, “os exercícios violentos da dança e da equitação, e muito particularmente o uso imoderado do espartilho… Nunca é demais, acrescenta o mesmo médico, recomendar às mulheres grávidas que se não apertem, e não sacrifiquem aos mesquinhos interesses da moda e da vaidade os interesse mais respeitáveis do ser que está formando nos eu ventre. É um verdadeiro caso de consciência” (La Morale dans ses rapports avec la médicine et l’hygiéne, t. II, pag. 211).
P. – Pode o estado moral da mãe, durante a gestação, influir no temperamento da criança?
R. – Os fisiologistas, bem como os santos, assim o ensinam geralmente.
É por isso que a mãe, durante esses meses em que Deus se digna associá-la – missão sublime – à formação do homem, deve evitar tudo o que excite as paixões, o que perturbe a imaginação, o que enerve os sentidos: leituras românticas, espetáculos que emocionem. Que viva no sossego, na paz de alma, pedindo a Deus que, mais tarde, faça de seu filho um santo, um eleito do céu.
P. – Continua sendo um costume louvável oferecer a mãe a Deus o fruto das suas entranhas?
R. – Sim; afirma-o S. Francisco de Sales, que cita um grande exemplo em apoio da sua opinião: “Santa Mônica, diz ele, estando grávida de Santo Agostinho, repetidas vezes o ofereceu à religião cristã e ao serviço da glória de Deus, com ele próprio testemunha”. noutro lugar, o mesmo grande Doutor, que tudo sabe dizer com a simplicidade casta dos santos, recomenda ás mulheres cristãs que “ofereçam à Divina Majestade os frutos de suas entranhas, ainda mesmo antes do nascimento; porque Deus, que aceita as oblações do coração humilde e voluntário, favorece de ordinário os afetos das mães nesse período; assim o afirmam Samuel, S. Tomás de Aquino, Santo André de Fiesola e muitos outros”.
P. – Que fazer, se a mãe não puder dar à luz?
R. – Recomendam os moralistas que se devem empregar todos os meios possíveis para administrar o batismo, pois a alma, como já dissemos, está unida a esse pequenino corpo (O mesmo se deve fazer, se a criança nasceu antes do tempo). batizar a criança nestas circunstâncias é proporcionar-lhe a felicidade eterna.
P. – No caso de perigo grave antes do termo, podem autorizar-se as operações cirúrgicas com o fim de matar o filho para salvar a mãe?
R. – Não, e em caso nenhum. É sempre defeso praticar uma ação má em si (como seria matar a criança no seio da mãe) mesmo tendo em vista um fim bom em si (salvar a mãe).
As decisões das Congregações Romanas só confirmam este princípio geral (Decretos do Santo Ofício, 28 de Março de 1884 e 19 de Agosto de 1888).
Ademais, e em virtude dos grandes progressos da cirurgia, já hoje, felizmente, há outros meios de salvar a mãe sem matar o filho.
II – DEPOIS DO NASCIMENTO O BATISMO
P. – Que se faz, quando nasce a criança?
R. – Di-lo S. Francisco de Sales, dando às jovens mães o modelo d’uma santa: – “A mãe de S. Bernardo, logo que seus filhos nasciam, tomava-os nos braços e oferecia-os a Jesus Cristo, amando-os desde logo com respeito, como uma coisa sagrada que Deus lhe tinha confiado; e esse procedimento foi-lhe tão recompensado que todos os seus sete filhos foram grandes santos”.
P. – Qual é o dever mais urgente dos pais, ao nascer-lhes um filho?
R. – Fazer-lhe administrar o batismo.
P. – Não há muitos pais que deixam de cumprir este grande dever durante semanas e até meses?
R. – Sim, muitos.
P. – E porque?
R. – Com o pretexto de esperarem os padrinhos e madrinhas que vivem em lugares distantes ou estão ocupados em negócios; e ainda com o pretexto de aproveitarem o batizado para um jantar, uma festa de família.
P. – São muito culpados por isto?
R. – Sim, culpados, e às vezes muito culpados, sobretudo se o recém-nascido é fraco ou doente, pois o expõem a morrer com a mácula original e por isso o condenam – por uma simples questão de padrinho ou madrinha – a ficar privado, durante a eternidade, da felicidade do céu, da contemplação e posse de Deus.
P. – Que devem fazer os pais cristãos em caso de perigo grave?
R. – Lembrar-se-ão de que, em semelhante conjuntura, a Igreja, sempre desejosa de que se alcance a salvação eterna, permite a qualquer pessoa que batize. Farão por isso administrar o batismo a seu filho, por uma das pessoas presentes.
P. – Diga então o que é exigido fazer, em caso de urgência, para administração do batismo.
R. – Derramar água natural sobre a cabeça da criança, em forma de cruz, e dizer ao mesmo tempo: “Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
P. – Quem deve escolher-se para padrinho e madrinha, se o batismo for administrado solenemente, com todos os preceitos da Igreja?
R. – É de desejar que as pessoas escolhidas pratiquem a religião. Devem conhecer, pelo menos, os elementos da doutrina cristã, e gozar de boa reputação. Fora destas condições, serão incapazes ou indignos de cumprir a sua missão.
P. – Que missão é essa?
R. – Velar, na falta dos pais, pela salvação da alma do recém-nascido, que se tornou seu afilhado na pia batismal – isto é seu filho espiritual.
P. – Que deve pensar-se do costume tão frequente de escolher os avós para padrinhos?
R. – Parece um tanto censurável, por isso que os avós, destinados a morrer, segundo todas as probabilidades, antes do afilhado, não poderão exercer, por muito tempo, a santa vigilância requerida pela Igreja.
P. – Fazendo administra-lhe o batismo, os pais tornaram filho de Deus o seu filho. Cumprido esse grande dever, que outros deveres lhe incubem?
R. – Devem: 1º alimentá-lo; 2º educá-lo; 3º prover às suas necessidades.
III – É DE DESEJAR QUE SEJA A MÃE QUEM ALIMENTE O FILHO
P. – Qual é o primeiro dever natural da mãe para com seu filho?
R. – É, diz o Dr. Surbled, o de sustentar o filho com o leite de seus peitos, completando assim a obra da gestação. O aleitamento materno é um dever pela mora, e recomendado pela higiene… É tão favorável à mulher como a criança, e preserva-a de vários acidentes. não debilita, antes fortalece o seu temperamento (Obra citada, pag. 292).
P. – O simples amor natural da mãe não a deveria levar a alimentar seu filho?
R. – Com certeza, pois o pequenino ser que a mãe trouxe nove meses no ventre, só se torna verdadeiramente seu, feito da sua carne e da sua vida, depois de ter haurido no seu seio aquilo que Ambrósio Paré, tão bem denomina “o sangue embranquecido” (Obra citada).
P. – Porque é que tantas mães, apesar de todas as vantagens do aleitamento materno, procuram evitá-lo e confiam a estranhas o encargo, tão grato, de alimentar seu filhos?
R. – Di-lo um médico nestes termos: “Não os sustentam por não quererem sujeições penosas e constantes; porque a sociedade, os bailes e os teatros as reclamam; e porque o aleitamento destrói a juventude e a beleza, deforma o peito…” (Dr. Surbled, La Morale dans ses rapports avec la médicine et l’hygiène, pag. 293).
P. – Mas não alegam essas mães outros motivos menos vergonhosos?
R. – Sim, desculpam-se com motivos de ordem fisiológica: “Não têm leite… o médico proibiu-as de amamentar”.
“É certo que estes dois casos se dão na prática… No entanto, na maior parte das vezes, os estados de anemia e fraqueza nervosa, longe de constituírem uma contraindicação, melhoram rapidamente quando a mãe se decide a amamentar o filho” (Morale et hygiène, t. II, pag. 293).
P. – Mas se, por motivos graves e a conselho instante do médico, a mãe tiver de confiar a uma estranha o cuidado de amamentar seu filho, qual será o seu dever?
R. – Escolher essa estranha com a maior solicitude, e, no maior interesse da saúde do corpo e da alma do filho, exigir que a ama tenha perfeita saúde e bons costumes.
Não se deve esquecer de que a ama também é mãe, e de que, pela necessidade de ganhar a vida, essa estranha priva seu próprio filho, em certa medida, do leite materno. Esse fato, implica deveres particulares de caridade e gratidão.
IV – A FORMAÇÃO DA ALMA
P. – Não têm os pais outro dever ainda mais importante do que esse da alimentação física de seu filho?
R. – Sim, devem formar a sua alma.
P. – Porque meios se forma uma alma de criança?
R. – Não caberia nos limites deste Catecismo indicar esses meios. Achá-los-ei excelentemente expostos me numerosos tratados de Educação. (1) Quereremos, no entanto, chamar a atenção dos pais para três deveres, hoje muito esquecidos; o respeito pela criança, a correção e o bom exemplo.
P. – Que respeito é esse?
R. – Um grandíssimo respeito. É um pagão quem no-lo afirma num belo verso, digno duma pena cristã:
Maxima debetur puero reverentia.
Que os pais cristãos aproveitem esta máxima.
Que eles cuidem da sua linguagem: seu filho terá os ouvidos sempre atentos.
Que cuidem das suas ações; os olhos da criança estarão sempre abertos.
Que estejam sempre atentos, embora a criança só tenha 2 ou 3 anos.
Le coeur (de votre enfant) est un vase profond.
Lorsque la première eau qu’on y verse est impure,
La mer y passerait sans laver la souillure,
Car l’abîme est immense et la tache est… au fond.
P. – A correção da criança é um dever rigoroso?
R. – Sim. É necessário afirmá-lo nestes tempos em que tantos pais sentimentais não ousam dar sequer uma palmada nos filhos!
P. – De que provém a necessidade da correção?
R. – Da inclinação que a criança tem naturalmente para o mal, em virtude do pecado original: Sensus enim et cogitatio humani cordis n malum prona sunt ab adolescentia (Gen. VIII, 21).
A criança, nascida no pecado, conserva as inclinações para ele, mesmo depois do batismo. não é um deus, nem um semideus.
… Ai dos pais que fazem dela um ídolo! É preciso corrigir o filho, e não adorá-lo.
P. – Quando se torna necessário cumprir esse dever?
R. – Desde tenra idade. Di-lo o Espírito Santo na Sagrada Escritura: “tens filhos?… Submete-os ao jugo desde a infância – A pueritia” (Eccles., VII, 25).
P. – Presentemente, muitos pais discutem com os filhos, ralham com eles, repreendem-nos cem vezes ao dia. É esta a correção de que necessita a criança?
R. – Pode advertir-se, e ameaçar-se a criança. Mas, se ela não obedece, importa usar da verdadeira correção, a corporal. Di-lo o próprio Deus na Escritura, e os seus ensinamentos devem prevalecer sobre os preceitos piegas da moderna filantropia.
P. – Podeis citar essas passagens da Escritura?
R. – A Sagrada Escritura recomenda o emprego da vara no livro dos Provérbios, X, 13; XXII, 15; XXVI, 3; XXIX, 15; XIII, 24. Este último texto diz assim: “Aquele que poupa a vara quer mal a seu filho! Qui parcit virgae, odit filium suum“.
P. – Poupando o filho por fraqueza, a mãe não causará mal a ela própria?
R. – Sim. O Espírito Santo afirma no Eclesiástico (XXX, 9, 12).
“Afaga teu filho, e ele te fará tremer.
“Brinca com ele, e ele te mortificará.
“Não te rias com ele, para que não tenhas que afligir-te por causa dele.
“E por fim rangerás os dentes…
“Não feches os olhos ás suas loucuras…
“E não lhe poupes as pancadas, por ser uma criança.
“Com receio de que ele se torne opinioso, e deixe de obedecer-te”.
Grande lição a meditar por aqueles pais que, abdicando da sua dignidade e autoridade, se fazem iguais de seus filhos!
P. – Não é esta verdade afirmada pelos próprios profanos?
R. – Sim. Sentado ao fundo da sua isba, o mujik eslavo repete melancolicamente: Quando os filhos são pequenos, passam-vos sobre os pés; uma vez crescidos, pisam-vos o coração.
P. – Qual é o processo mais eficaz de educação?
R. – O exemplo. Por meio d’uma longa coabitação e do contato habitual, os pais cristãos e virtuosos devem por assim dizer, imprimir a sua alma na alma do filho.
P. – É isto o que se faz em nossos dias?
R. – Desgraçadamente, não. Como nota um escritor ilustre (2) “abundam as casas, em todos os meios, nas quais os filhos não passam d’uns hóspedes passageiros. Nascem, e partem logo para a ama ou para a creche, e da creche para o asilo; em seguida, se isso é possível, para as pequenas pensões, para o colégio ou para o ofício. Faz-se depois soldado, ou emprega-se. Casa-se. E seus pais só o têm visto durante as férias”.
P. – Não há casos, porém, em que os pais podem confiar a mestres estranhos o cuidado de educar e instruir seu filho?
R. – Sim. Esse concurso de mestres estranhos pode ser útil à educação científica e á carreira dos filhos. Importa, no entanto, que a escolha se faça com o maior escrúpulo, devendo os pais empregar todos os esforços no sentido de encontrarem colaboradores profundamente cristãos para essa obra de educação. Em caso nenhum devem confiar os filhos a colégios cujos mestres lhes arranquem a fé, por meio do seu ensino ou dos seus exemplos.
V – O FUTURO DOS FILHOS
P. – Não é também dever dos pais proverem ao futuro dos filhos?
R. – Certamente, porque, segundo a ordem natural das coisas, o pai e a mãe morrerão antes dos filhos, e por isso eles devem assegurar-lhes uma posição que lhes permita viverem ao abrigo de necessidades. Não têm que assegurar a cada um uma posição definida e menos ainda fazê-los proprietários abastados ou capitalistas, concessão errônea que dá como resultado a limitação sistemática da prole, em muitas famílias, o mantém os raros filhos na ideia funesta de que não necessitam de trabalhar, pois houve quem lhes garantiu o sustento antecipadamente.
O dever dos pais é educar os filhos de sorte que eles, pelo seu próprio esforço, sejam capazes de criar uma situação em harmonia com o seu meio social. Nada mais.
P. – Como cumprirão os pais esse dever?
R. – Trabalhando corajosamente para dar aos filhos os recursos de que necessitarão quando entrarem na vida, dando-lhes o exemplo do trabalho, fazendo-os tomar gosto, instintivamente, pelo esforço próprio; e, sobretudo, pondo-os em condições de ganharem por suas mãos o pão de cada dia. Fá-los-ão aprender um ofício, ou seguir estudos que, bem orientados, os habilitem a abraçar uma profissão liberal. Diligenciarão principalmente desenvolver no filho o espírito de iniciativa e a energia viril.
Tratando-se d’uma rapariga, evitarão educá-la no gosto das frivolidades mundanas, e fazer dela uma boneca preciosa, procurando, pelo contrário, que ela seja a mulher forte na Sagrada Escritura, donzela de predileções sérias, que prefere os dotes do espírito, do caráter, do coração, às atrações do vestuário, d’uma melodia ou d’um passo de dança.
P. – Para que carreiras liberais devem os pais encaminha de preferência so filhos?
R. – Assente este princípio indiscutível de que o homem veio a este mundo para assegurar a sua salvação eterna, importa escolher de preferência as carreiras que mais facilmente possam conduzi-lo ao céu, e evitar, portanto, aquelas que o homem não pode abraçar sem expor-se a procedimentos contrários à sua consciência.
P. – Que perigo devem evitar os pais na escolha da carreira dos filhos?
R. – Devem evitar, regra geral, elevá-los acima da sua condição social, ou fazê-los sair do seu meio. Esta ambição dos pais cria, frequentemente, muitos infelizes e desclassificados.
VI – OS PAIS E A VOCAÇÃO
P. – Que devem fazer os pais quando Deus se digna chamar ao sacerdócio ou À vida religiosa um de seus filhos?
R. – Devem agradecer a Deus de todo o coração a honra concedida à família, e a grande graça recebida pelo filho.
P. – Serão muitos culpados os pais que procuram opor-se à vocação dos filhos?
R. – Sim, porque a vocação vem de Deus, e os pais e mães não têm o direito de opor-se ao chamamento divino.
P. – Mas não é pelo menos de prudência cristã que os pais sondem a vocação dos filhos?
R. – Sim, uma vez que, pretendendo verificá-la, não tenham o intuito de destruí-la.
P. – Que quer isso dizer?
R. – Que é, por sua natureza, culpável semelhante experiência, por expor o filho escondido por Deus para o claustro ou para o sacerdócio a tentações superiores ás suas forças.
P. – Não será bom impor ao filho uma certa espera?
R. – Uma espera prudente, para consultas e reflexões, seja. “Mas depois (fala S. Francisco de Sales) é inútil ouvir mais discursos; fechai ouvidos a todas essas razões do mundo, não useis de mais demoras e expedientes, pois que vos arriscais a grandes perigos. Nada de adormecerdes; estai prontos a obedecer e a seguir a inclinação!” – (2º sermão sobre a Apresentação).
O grande Doutor dá este conselho ao jovem chamado por Deus. as ele aproveita igualmente a seus pais. Que eles o sigam generosamente, felizes por entregarem ao sacerdócio um filho que, no altar, rezará por todos os membros da sua família, vivos e mortos; ou por darem ao claustro uma filha que, por detrás das grades, oferecerá a Deus orações e sacrifícios pelos seus parentes da terra!
EXTRATO
Oração d’uma mãe pelo filho que traz no seio. (Composta por S. Francisco de Sales).
Ó Deus eterno! Vós que instituístes o matrimônio para multiplicar os homens na terra e repovoar o céu, e confiastes esse serviço principalmente ao nosso sexo, aqui me tendes prostrada diante de Vossa Majestade a fim de Vos dar graças pela concessão do filho que formastes no meu seio.
Mas, Senhor, pois que vos aprouve escolher-me para este grande ministério, não afasteis de mim o vosso olhar protetor até que esteja concluída a obra que começastes. Favorecei-me com o vosso auxílio abençoado, e protegei com a vossa contínua assistência esta querida criaturinha que gerastes dentro de mim até ao momento de vir ao mundo. E então, ó Deus da minha vida, compadecei-vos de mim, amparai a minha fraqueza, e recebei o fruto das minhas entranhas, conservando-o cheio de saúde, até ao momento de ser também vosso pela santa Redenção no dia do batismo, como vosso já era pela criação.
Ó Salvador da minha alma, Vós que, vivendo na terra, tanto amastes os pequeninos, e tantas vezes os tomastes em Vossos divinos braços, aceitai agora o meu, e dignai-vos adotá-lo na vossa sagrada filiação, a fim de que, tende-vos a Vós como Pai, o Vosso nome seja nele santificado, e o vosso reino lhe chegue um dia. Assim, ó dulcíssimo Redentor, eu Vo-lo ofereço e dedico e o consagro de todo o meu coração de mãe à obediência dos Vossos mandamentos, ao amor do Vosso serviço, e ao serviço do Vosso amor.
E visto ser certo que a Vossa justa cólera submeteu a primeira mãe dos humanos e toda a sua culpada descendência a muitas penas e dores por ocasião do parto, ó Senhor, meu Deus! aceito desde já todos os trabalhos a que Vos aprouver sujeitar-me nesse doloroso momento, suplicando-Vos apenas pelo jubiloso e sagrado pranto da Vossa puríssima Mãe que não deixeis de acudir-me nessa minha hora dolorosa, a mim, pobre pecadora, abençoando-me então com o filho que for do Vosso agrado conceder-me com a benção do Vosso amor, que eu imploro com todo o ardor, e espero, cheia de humildade, de joelhos a vossos pés. Assim seja. (S. Francisco de Sales, Obras t. III, carta nº 864).
Sentimentos de Luiz Veuillot, entregando sua filha a Deus. (3)
– Adeus, minha querida filha, minha filha abençoada e dolorosa.
Eu te asseguro estar amorosamente conformado coma vontade do bom Deus a respeito de n´so ambos. Nada me custa e alegra tanto como a tua resolução. Não posso habituar-me a ela, de modo nenhum. Tenho a alma alegre, mas essa alegria não pode entrar-me no coração; tenho o coração triste, mas essa tristeza não pode perturbar-me a alma. Esses dois sentimentos confundem-se, e cada um deles permanece o mesmo e distinto, parecendo-me que não poderei nem quererei perder quer um quer outro. Na verdade, minha filha, eu desconhecia até que ponto tu me eras querida. Senti-lo, é ainda uma alegria, e uma mágoa para mim. Estou contente e desolado por tudo o que me fazes dar ao bom Deus. Quando eras muito criança e oferecias a alguém um alfinete ou uma simples palhinha, costumavas dizer: ” Tome lá, mas é só um bocadinho”. Sinto quase vontade de dizer o mesmo. De bom grado diria ao bom Deus – que não seja para sempre! Mas Deus sabe que é para toda a vida, e que eu acedo de boa vontade, se ele o deseja também, como tu! (Correspondência, I, pag. 280).
Catecismo do Matrimônio por P. Joseph Hoppenot, S. J., Obra aprovada por 48 cardeais, arcebispos e bispos de França e Bélgica, 1928.
(1) Julgamos dever indicar dum modo especial, a 2ª parte do Livro La Désorganisation de la famille, no qual Mgr, Gibier expõe com superior competência os deveres dos pais para com os filhos.
(2) Luiz Veuillot.
(3) Maria Lúcia, religiosa da Visitação.