O mistério de amor

Ó Jesus, ajudai-me a penetrar no mistério de amor infinito que Vos levou a fazer-Vos nossa comida e nossa bebida.

1 – toda a ação de Deus em favor dos homens, é ação de amor. Resume-se num mistério imenso de amor, que O impele, Bem supremo e infinito, a elevar o homem até Si, tornando-o participante da Sua natureza divina, comunicando-lhe a Sua vida. Foi para comunicar a vida divina aos homens, para unir os homens a Deus, que o Verbo incarnou e que, na Sua pessoa, a divindade se uniu à humanidade do modo mais pleno e perfeito. uniu-se diretamente à humanidade santa de Jesus e, por meio dela, a todo o gênero humano. Em virtude da Incarnação do Verbo, todo o homem, por meio da graça merecida pelo Verbo Incarnado, tem o direito de chamar a Jesus seu irmão, de chamar a Deus seu Pai e de aspirar à união com Ele. O caminho da união com Deus fica assim aberto ao homem: O Filho de Deus, incarnado e morrendo depois da cruz, não só removeu os obstáculos desta união como também lhe proporcionou todos os meios até se fazer Ele próprio caminho: unindo-se a Ele, o homem unir-se-á a Deus. Foi assim que o amor de Jesus, ultrapassando toda a medida e querendo encontrar o meio de se unir a cada um de nós do modo mais íntimo e pessoal, o fez mediante a Eucaristia. Tornando-Se nosso alimento, Jesus faz de nós uma só coisa com Ele e assim faz-nos participar, do modo mais direto, na Sua vida divina, na Sua união com o Pai, com a Trindade. Na Incarnação, o Filho de Deus, assumindo a nossa carne, uniu-Se de uma vez para sempre ao gênero humano; na Eucaristia, o Filho de Deus feito homem continua a unir-se a cada um dos homens. Compreendemos assim como a Eucaristia, segundo o pensamento dos Santos Padres, pode ser verdadeiramente “considerada uma continuação e uma extensão da Incarnação; por ela, a substância do Verbo Incarnado une-se a cada homem” (Mirae caritatis).

2 – O plano do amor infinito que quer unir os homens com Deus, que quer fazê-los participar na natureza e vida divinas, encontra a sua plena e máxima realização na Eucaristia. De fato, na Hóstia consagrada não temos só o Corpo, Sangue e Alma de Cristo, mas temos também a Sua Divindade de Filho de Deus e, por isso, toda a Divindade. Que meio mais poderoso podia encontrar Deus para nos unir a Ele, para nos tornar participantes da Sua natureza e da Sua vida? Onde encontrar alimento mais vital que o Corpo de Cristo que, pela Sua união pessoa com o Verbo, é fonte da vida e da graça? Dando-Se-nos em alimento, Jesus nutre-nos com a Sua substância, assimila-nos a Si, comunica-nos pessoalmente a vida divina. Também por meio dos outros sacramentos Jesus nos dá a graça e, por conseguinte, nos dá parte na vida divina. Nestes, porém, só existe a Sua ação e unicamente no momento em que o sacramento é administrado – por exemplo, no momento em que o sacerdote no absolve dos pecados – Jesus, com a Sua virtude operante, produz em nós a graça. Na Eucaristia, pelo contrário, o próprio Jesus feito sacramento, vem pessoalmente a nós na integridade da Sua Pessoa de Homem-Deus. Recebendo a sagrada Hóstia, não temos apenas a ação de Cristo na nossa alma, mas temos rela e fisicamente presente a Sua Pessoa. Não temos somente um aumento de graça, mas Jesus, fonte de graça; nem só uma nova participação de vida divina, mas sim o Verbo Incarnado que nos leva conSigo ao seio da Divindade.

Além disso, o alimento material é assimilado por quem o come e transforma-se no seu corpo e sangue, mas Jesus, alimento vital, possui o poder de assimilar aqueles que dEle se alimentam e de os transformar em Si. “A comunhão do Corpo e do Sangue de Cristo, diz S. Leão, não tem outro fim senão transformar-nos naquilo que comemos”, e S. João Crisóstomo especifica: “Cristo uniu-Se de tal maneira a nós, que chega quase a fundir num só o Seu Corpo com o nosso, de forma a sermos uma só coisa com Ele… e isto é próprio dos que se amam ardentemente”.

Colóquio – “Ó Trindade eterna! Ó fogo e abismo de caridade! Que ganhais Vós com a nossa redenção? Nada; porque Vós não precisais de nós, pois sois nosso Deus. Então a quem foi útil? Somente ao homem. Ó inestimável caridade! Assim como Vos destes todo a nós, como Deus e como Homem, assim todo Vos destes como alimento a fim de que, enquanto formos peregrinos nesta vida, não desfaleçamos de cansaço mas sejamos fortalecidos por Vós, manjar celestial. Ó homem, que te deixou o teu Deus? Deixou-Se a Si mesmo todo inteiro, todo Deus e todo Homem, oculto sob a brancura do pão. Ó fogo do amor, não Vos bastava ter-nos criado à Vossa imagem e semelhança e ter-nos voltado a criar na graça por meio do Sangue do Vosso Filho, sem Vos dardes todo a nós como alimento, ó Deus, Essência divina? Quem Vos obrigou a isso? Nada, a não ser a Vossa caridade. E assim como não nos enviastes e destes o Verbo somente para nossa redenção, do mesmo modo não no-lO deixastes só em alimento, mas, como que louco de amor pelas Vossas criaturas, deixaste-nos toda a Essência divina. E não só Vos dais a nós, ó Senhor, mas, alimentando-nos com este Manjar divino, nos tornais fortes com o Vosso poder contra as batalhas dos demônios, contra as injúrias das criaturas, contra as rebeliões da nossa carne, contra toda a angústia e tribulação que de qualquer lado possam surgir.

“Ó Manjar dos anjos, eterna e suma pureza, Vós quereis e desejais tanta pureza na alma que Vos recebe neste dulcíssimo Sacramento que, se fosse possível, até os próprios anjos deveriam purificar-se diante de tão grande mistério. E como se purificará a minha alma? No fogo da Vossa caridade, ó Deus eterno, lavando a sua face no Sangue do Vosso Filho Unigênito. Ó miserável alma minha, como vais a mistério tão grande sem a suficiente purificação? Despojar-me-ei, pois, da veste fétida da minha vontade e revestir-me-ei, Senhor da Vossa eterna vontade” (Sta. Catarina de Sena).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

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