Eu te enviarei o meu anjo… Respeita-o e ouve a sua voz (Ex. XXIII, 20-21).
Oh! se nos caísse finalmente dos olhos o véu, que nos impede de ver o sobrenatural!
Deus enviou em meu auxílio um príncipe da côrte celeste, que está continuamente ao meu lado, que vi adiante de mim e me acompanha em todos os meus caminhos.
A tal extremo chega a providência paterna de Deus para comigo, criatura miserável, que envia um dos espíritos gloriosos que estão ante o Seu trono para companheiro e protetor da minha vida.
isto é doutrina de fé. Guardai-vos, diz o Salvador, de escandalizar a nenhum destes pequeninos, porque eu vos declaro que os anjos no céu estão vendo incessantemente o rosto do meu Pai celeste (1).
Desta sorte oferece Deus aos homens por intermédio dos seus anjos um meio excelente de salvação.
Além dos auxílios que nos presta nos perigos do corpo e da alma, além do poder da sua intercessão em nosso favor, a simples certeza de que temos ao nosso lado, assistindo-nos e acompanhando-nos um espírito celeste, deve ter uma influência poderosíssima na alma verdadeiramente cristã.
A companhia dele lembra-nos o nosso destino eterno, traz-nos constantemente à memória que não temos na terra habitação permanente, e que o nosso fim é o céu, a morada dos anjos.
Que respeito nos deve infundir a companhia do Anjo da Guarda! Se basta a presença dum sacerdote ou duma pessoa de autoridade para nos conter nos limites da moderação e da compostura, quanto mais nos ajudará a conservar a pureza de costumes e a dignidade de ações, e a aumentar o nosso estímulo a certeza de que temos certamente ao nosso lado um príncipe do céu!
A companhia do Anjo Custódio lembra-nos o valor da nossa alma.
E uma prova contínua do amor inexaurível de Deus, que põe ao meu dispor tudo o que pode concorrer para minha salvação; as coisas insensíveis, os seres racionais e os seus celestes mensageiros. Faz-nos pensar nas virtudes, que tanto carecemos de praticar, muita vez à custa de grandes trabalhos e dificuldades.
Os anjos não se dedignam de tratar com os homens, grandes ou humildes, bons ou maus, nem até com os próprios ingratos que desprezam os seus favores. Que humildade a deles!
Não se cansam de proteger os maus e os pecadores, nem de os mover a emendarem-se, se Deus lho ordenar! Que paciência e que obediência!
A sua presença obriga-me a não escandalizar a ninguém, para não ofender nem irritar a sua ira.
Oh pensamento consolador! ter sempre ao meu lado a proteger-me o Anjo Custódio! Ele vê o que necessito, apresenta as minhas súplicas ante o trono de Deus, excita em mim pensamentos salutares, ensina-me a prevenir os perigos que me ameaçam, condiz-me pela mão para que os meus pés não tropecem nalguma pedra (2), ajuda-me a caminha ileso entre víboras e basiliscos (3), protege-me contra os assaltos dos maus espíritos; se vacilo, apoia-me, consola-me, exorta-me anima-me e constitui-se o meu amigo e o meu guia.
Oh verdade cheia de eficácia! Um anjo, um espírito puro, assiste constantemente ao meu lado, testemunha de quanto penso, digo e faço!
Porque me lembro tão raramente que tenho ao me lado o Anjo da Guarda? Porque sou tão insensível aos seus benefícios? Porque sou tão surda aos seus avisos? Porque não lhe confio os meus desejos, as minhas penas e as minhas necessidades? Porque não me aproveito da sua amorosa companhia? Porque não lhe peço que rogue por mim no céu? Porque não me sirvo das suas asas, para subir até ao céu, e porque não lhe peço que me leve até ao trono de Deus?
Não continues a proceder como até agora! Aviva a tua fé adormecida!
Eu enviarei o meu anjo adiante de ti, diz Deus, para que te introduza no lugar que te tenho preparado. Respeita-o, ouve a sua voz e não o desprezes, porque te imputará como falta grave (4).
A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.
(1) Mat. XVIII, 10.
(2) Salm. XC, 12.
(3) Salm. XC, 13.
(4) Ex. XXIII, 20-21.
Última atualização do artigo em 9 de março de 2025 por Arsenal Católico