1. Naquele tempo, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo demônio.
2. E tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome.
3. E aproximando-se (dEle) o tentador, disse-lhe: Se és Filho de Deus, dize que estas pedras se convertam em pães.
4. Ele, porém, respondendo-lhe, disse: Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.
5. Então o demônio o transportou à cidade santa e o pôs sobre o pináculo do templo, e lhe disse:
6. Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, Porque está escrito: Confiou aos seus anjos o cuidado de ti, e eles te tomarão nas mãos, para que não tropeces com o teu pé na pedra,
7. Jesus disse-lhe: Também está escrito: Não tentarás ao Senhor teu Deus.
8. De novo o demônio o transportou a um monte muito alto: e lhe mostrou todos os reinos do mundo e a sua magnificência e lhe disse:
9. Tudo isso te darei, se prostrado me adorares.
10. Então Jesus disse-lhe: Vai-te, Satanás, porque está escrito: O Senhor teu Deus adorarás, e a Ele só servirás.
11. Então o demônio o deixou: e eis que os anjos se aproximaram e o serviram.
OS BONS ANJOS
O Evangelho de hoje nos mostra anjos maus e anjos bons. O primeiros tentaram o Salvador, os segundos o serviram.
Consideremos hoje os anjos bons; no III domingo da quaresma teremos ocasião de tratar dos maus.
Vejamos:
- A EXISTÊNCIA dos anjos.
- As suas FUNÇÕES.
I. A EXISTÊNCIA DOS ANJOS
Os anjos são criaturas inteligentes, são espíritos, porém espíritos que não são unidos a um corpo, como as nossas almas. São simplesmente espíritos, ou espíritos puros.
A existência dos anjos é uma verdade de fé.
A Bíblia, a cada página fala deles; de modo que negar a existência deles seria negar a veracidade da Bíblia.
Mas se a Bíblia não nos revelasse a existência dos anjos, o nosso espírito a descobriria como que naturalmente.
Na criação há uma gradação perfeita.
Em baixo: o reino mineral (sem vida).
Mais alto: o reino vegetal (vida vegetativa).
Mais alto ainda: o reino animal (vida sensitiva)
Sempre mais alto: o reino humano (vida intelectual).
O homem está, pois, no cume do mundo visível, porém, a sua alma pertence ao reino invisível, espiritual.
Por que parar aqui? Por que a escala pára aqui, bruscamente, no homem?
Deus não pertence a nenhum reino: Ele é o Criador, os reinos são obras de suas mãos.
O homem tem uma parte material, (o corpo) e uma parte espiritual, (a alma); a matéria pura existe; o espiritual puro deve existir também. A pedra é um ser puro material, deve haver também um ser puro espiritual e não sendo este ser o homem, deve haver outro acima do homem.
Deve haver, acima do homem e abaixo de Deus, um ser que nada tenha de matéria e nada de Deus, que seja puro espírito criado, como Deus é o puro espírito criador; tal ser existe e chama-se: anjo.
O anjo é uma criatura como nós, mas uma criatura pura e exclusivamente espiritual.
Deus criou os anjos bons, elevando-se à ordem sobrenatural, vendo a Deus e gozando da felicidade eterna.
Houve uma revolta no céu. Os anjos revoltosos foram lançados no inferno, tornando-se demônios, ou anjos maus; os bons ficaram no céu e foram confirmados em graça: são os anjos bons.
II. AS FUNÇÕES DOS ANJOS
Estas funções resumem-se em louvor a Deus e executar as suas ordens.
A Bíblia nos mostra os anjos no céu cantando os louvores de Deus, e nos mostra outros em missão aqui na terra.
É desta missão que estes que conhecemos receberam o seu nome.
Entre os enviados por Deus, tendo uma missão a cumprir na terra há:
Gabriel, o anjo da Incarnação.
Miguel, o vencedor de Lúcifer.
Rafael, o companheiro de Tobias.
Gabriel, quer dizer, em hebraico: força de Deus; Miguel: quem é como Deus; e Rafael: remédio de Deus.
Os anjos continuam esta missão divina de proteger os homens. Cada homem tem o seu anjo da guarda, encarregado por Deus de tomar conta dele; e a tradição nos ensina que certos anjos são prepostos à guarda das nações, das cidades, das igrejas, e de modo particular de cada tabernáculo onde é conservada a Santa Eucaristia.
Vemos no mesmo Evangelho que os anjos se aproximaram de Jesus e o serviram.
Cada um de nós possui o seu anjo da guarda, que o acompanha de dia e de noite, que o protege ou defende contra os perigos e ciladas do demônio e que afasta dele tudo que pode ser prejudicial à salvação da sua alma.
III. CONCLUSÃO
Tendo um anjo da guarda que veja sobre nós, que nos protege e nos ajuda, compreende-se que temos certos deveres a cumprir para com ele.
Estes deveres resumem-se nestes três: o respeito, a confiança, e a gratidão.
Respeito. O anjo da guarda está encarregado, por Deus, de velar sobre nós, entretanto, ele não é nosso criado, é nosso superior, pois é um puro espírito; como tal a sua presença deve ser sempre respeitada.
Confiança. O anjo não é simplesmente um fiscal; é um auxiliar, um amigo, o embaixador de Deus perto de nós. Devemos, pois, depor nele inteira confiança; ele quer a glória de Deus e o nosso bem, sem interesse pessoal.
Gratidão. Nós somos ingratos por natureza. Gostamos de receber e não sabemos agradecer.
De quantos perigos nos tem livrado o nosso anjo, e quão pouco nós nos lembramos dele! Ele é, como o é o próprio Deus que representa: o grande desconhecido.
Saibamos agradecer-lhe os benefícios, e esta gratidão da nossa parte aumentará a sua solicitude, vigilância e carinho para conosco.
Comentário Dogmático, Padre Júlio Maria, S.D.N., 1958.
Última atualização do artigo em 8 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico