Discípulo — Quanto a mim, estou plenamente convencido de tudo o que foi dito até aqui e das excelentes vantagens da Confissão bem feita e frequente; mas há também muitos que, ou por não a frequentarem sempre, ou por não a frequentarem nunca, arranjam desculpas e pretextos: o senhor quer ter a bondade de me sugerir um modo de combatê-los e convencê-los?
Mestre — De boa vontade. Exponha as “desculpas e pretextos” de uns e de outros.
D — “Eu não tenho pecados para confessar”, dizem alguns.
M — Será verdade?… O Espírito Santo diz que até o justo peca sete vezes por dia e São João Evangelista escreve: “Se dissermos que não temos culpas enganaremos a nós próprios e em nós não haverá verdade. Os que dizem que não têm pecados para confessar são pobres cegos que não conhecem a própria miséria e, se não a conhecem, é justamente porque não se confessam com bastante frequência. As pessoas asseadas não toleram nem as pequeninas manchas. Mas as pouco asseadas não se apoquentam nem com manchas grandes e nem com sujeira.
Um oficial perguntou certa vez a um sacerdote:
—Diga-me uma coisa, Padre: Quem não peca é obrigado a se confessar?… Eu nunca me confesso porque nunca peco.
O sacerdote respondeu de pronto:
— Senhor oficial, eu só conheço duas categorias de pessoas que não pecam: crianças, que ainda não atingiram a idade do uso da razão e… os loucos que, infelizmente, já o perderam.
D — “Eu não sei o que dizer ao Confessor.”
M — É muito simples. Mesmo quando não tiverem nem roubado, nem morto, nem odiado, nem dado escândalo, etc… e na sua consciência um tanto grosseira não tiverem achado nem mesmo pequenas mentiras, murmurações, maledicências, pensamentos inúteis, afeições, distrações, omissões, negligências e outras muitas coisas parecidas, apresentem-se do mesmo modo ao Confessor e declarem simplesmente que não sabem o que lhe dizer. Podem estar certos de que, com a sua caridade e prudência ele saberá fazer cora que descubram o que não foram capazes de achar. Além disso, ele terá sempre muitas coisas para lhes dizer, muitos conselhos para lhes dar e também um pouco de penitência, de modo que, quando o deixarem, estarão melhorados, terão mais fervor, sentir-se-ão satisfeitos e felizes pelo contato que tiveram com Jesus, cujo ministro é o Confessor.
D — “Não tenho a tranquilidade suficiente para isso.
M — Vocês têm desgostos, preocupações, aborrecimentos? Vão a ele do mesmo modo. O Confessor terá compaixão de vocês, será caridoso, ajudá-los. Deus não exige mais do que lhe podem dar. Os Sacramentos é que são feitos para os homens e não os homens para a grandeza dos Sacramentos. Coragem e boa vontade e, sobretudo confiança no Confessor e em Deus.
D — “Não tenho tempo e nem facilidade para me confessar frequentemente”.
M — Outra desculpa que não serve. Querer é poder! Quantas coisas não se fazem, mesmo à custa de sacrifícios, para o bem corporal, para a saúde, para os interesses? Será que para a nossa alma não havemos de querer fazer nada? Tratemo-la ao menos como o pobre cadáver do nosso corpo. Aliás, o tempo gasto com a alma, Deus o recompensa generosamente mesmo aqui na terra.
Um dia um campônio forte e sadio foi confessar-se com um padre jesuíta.
A primeira pergunta do confessor foi:
— Há quanto tempo não se confessa?
— Há dez anos!
— E agora está disposto a se confessar bem?
— Estou, Padre!
— Dê-me então dez cruzeiros!
— Como? Dez cruzeiros? Mas eu sempre ouvi dizer que não se paga nada pela confissão.
— Não se paga nada, rebateu o sacerdote, e o Sr. vem se confessar só de dez em dez
anos?
Compreendeu o campônio a justa repreensão, pediu humildemente perdão e prometeu frequentar melhor os Sacramentos.
D — “Eu não tiro proveito algum da confissão; estou sempre do mesmo jeito”.
M — Não são vocês que o devem julgar, mas o Confessor. De mais a mais, essa é uma argumentação às avessas. Se não se confessarem ou se o fizerem raramente, não ficarão sempre do mesmo jeito, mas se tornarão certamente cada vez piores, sem darem por Isso.
D — “Muitas vezes, eu não tenho coragem para me confessar, porque o Confessor me conhece”.
M — Mas quem é que os obriga a se confessarem com um Confessor que os conhece?
Há tantos por aí que nem se quer sabem se vocês existem ou não; procurem um desses e confessem-se com sinceridade e sem medo.
D — “Mas o que direi ao meu Confessor quando voltar para ele?”
M — Digam-lhe o mesmo que das outras vezes, sem mencionar os pecados absolvidos pelo outro. O melhor, porém seria escolher um Confessor de plena confiança com o qual poderiam ser absolutamente sinceros.
D — “E quando não for possível, por não haver outros?”
M — Se vocês tivessem uma ferida mortal, se por engano tomassem veneno, será que não correriam logo à procura de um médico ou cirurgião qualquer, a custa de qualquer sacrifício, contanto que pudessem salvar-se?
Pois bem, façam o mesmo para tirar logo da alma o veneno do pecado, recorrendo, a contragosto se for preciso, ao Confessor de sempre.
D — “O que dirá ele de mim?”
M — Dirá que você também é humano como os demais; admirará a sua coragem, a sua humildade, a sua sinceridade; ficará satisfeito ao pensar que merece toda a sua confiança; o seu afeto e a sua estima por você serão aumentados. De mais a mais, ele que diga o que bem entender, contanto que o seu coração fique em paz!
D — Outros então — e são os que têm menos vontade — vão repetindo: “Para que me confessar?”
M — Porque Deus assim o quer! Porque você tem necessidade disso!… Porque é só mediante a Confissão que obteremos o perdão e a verdadeira paz de espírito!… Porque os pecados são punidos com penas eternas!
Riam-se e neguem à vontade que nunca conseguirão destruir o inferno e a eternidade, Deus e a sua justiça, a alma e a sentença que a espera.
Para que se confessar? Porque vocês têm necessidade de ouvir palavras de um amigo que lhes diga toda a verdade, sem rodeios nem enganos. Porque longe da Confissão, vocês acabarão tendo uma morte desgraçada e uma eternidade infeliz!
D — “Eu não creio na Confissão”.
M — Confessem-se, e acreditarão, como acreditaram muitos que antes eram incrédulos como vocês; como acreditaram os homens mais célebres, os mais insignes cientistas, os mais importantes personagens.
Um dia, um senhor apresentou-se ao Santo Cura d‘Ars para vê-lo e para falar-lhe. As primeiras palavras do visitante o Padre respondeu:
— Ponha-se aqui no confessionário e confesse-se. — Mas… continuou o visitante, eu não creio em nada.
— Não importa, eu creio pelo senhor; confesse-se.
— Acredite, Padre, que não há nada no mundo mais ridicularizado e detestado do que a confissão.
Desculpas e rodeios foram inúteis: com suave insistência o Santo Cura obrigou-o a ajoelhar-se e o ajudou na confissão. Assim que terminou, o homem se levantou alegre, exclamando:
— Agradecido, Padre; eu creio!… Estou plenamente satisfeito! O Sr. não podia causar-me maior benefício!…
D — “Não sei me confessar”.
M — Nada mais fácil para quem tem boa vontade! Do mesmo modo que confiam ao médico as dores de cabeça ou de estômago, confiem ao Confessor os males da alma. De qualquer maneira, apresentem-se a ele, que os livrará de todo e qualquer embaraço.
D — “Eu não me confesso, porque, se o fizesse fariam caçoada de mim, me chamariam de beato, de clerical, e de não sei que mais”.
M — Oh, soldado de papelão! Onde está o seu valor? Se o mundo estivesse cheio de beatos e clericais, haveria menos roubos, menos fraudes, menos escândalos, menos cárceres e penitenciárias. Se todos se confessassem haveria mais honestidade, mais decoro, mais segurança individual e coletiva e — digamo-lo francamente — maior bem estar e civilidade!
Aliás, se lhes falta mesmo a coragem, quem os obriga a se fazerem ver? Vão quando e onde não sejam vistos.
D — “Não me confesso, porque não tenho confiança nos padres da minha paróquia”.
M — Seja, mas porque não procuram outros? Muitos o fazem, por ocasião de festas, feiras, mercados e voltam para casa satisfeitos e felizes. Para arrancar um dente vocês são capazes de maiores sacrifícios, procedam do mesmo modo para arrancar os pecados! E se lhes acontecesse uma desgraça? Se adoecessem grave e repentinamente? o que fariam? Será que haveriam de querer morrer assim, sem Sacramentos, ou, ainda pior, com Sacramentos mal recebidos? Afastem pois esses temores de criança; a salvação da alma antes de tudo!
D — “Não posso deixar esse pecado”.
M — Então vocês querem ir para o inferno, para toda a eternidade? Querem, em troca de míseras satisfações, continuar a injuriar a Deus e a causar pesar a Jesus?
D — “Não posso deixar essa pessoa”.
M — Maldita seja essa pessoa que é causa de pecado! Mas será que vocês calculam não deixá-la nem com a morte? Será que pretendem levá-la para além do túmulo, para o juízo, para a eternidade? Não vêm que ela os desonra, os envergonha, os arruína? É preferível dizer de uma vez que não querem! Lembrem-se da história do que cedeu à sova.
D — “A confissão é uma invenção dos padres”.
M — Ah, é? Vocês falam sério?! Têm mesmo certeza? Pois bem, citem os nomes! Conhecem-se todos os inventores de todas as maiores descobertas, portanto, não seria difícil saber o nome de quem inventou a confissão. Que venha o nome!
Mas vocês se calam. Digam-me, ao menos, o ano, a época, o lugar de tal invenção. Vocês continuam calados: não sabem, nem nunca o saberão, porque não existe. Isso é mentira, grande mentira! E vocês deixam-se enganar por alguns indignos desprezíveis que, por não crerem, negam, desprezam, mentem sabendo que mentem?
D — “Os que se confessam são piores do que os outros”.
M — Eis a grande objeção! Pois bem eu o reconheço em parte e digo: Alguns o são, mas por se confessarem mal, o que é para eles vergonhoso. Mas absolutamente não é esse o caso da maior parte, digo mesmo da grande maioria. Se Deus tivesse a complacência de descobrir em praça pública o estado real das almas, que enorme diferença notaríamos entre as que se confessam e as que o fazem raramente ou nunca. É o mesmo que duas fazendas idênticas e usadas da mesma maneira, das quais uma é sempre lavada e a outra não.
Naturalmente, se tomarem para exemplo os piores dos que se confessam e os compararem com os melhores dentre os que não se confessam, o resultado os satisfará. Mas comparem os bons com os bons, os maus com os maus e verão que a coisa muda de aspecto. É preciso considerar o conjunto e não os indivíduos em particular. Sobre cem pessoas que se confessam poderão encontrar duas, talvez dez más; mas sobre cem que não se confessam encontrarão mais de noventa, justamente porque não frequentam a confissão.
Gallerani, escreve:
“Se deitamos um olhar sobre os países e as cidades, veremos com nossos próprios olhos os ladrões, os sicários, os assassinos, as mulheres infiéis, as libertinas, as que se vendem, e enfim toda essa imundície que enche e infeta os cárceres e as penitenciárias, sai de lugares bem diferentes das fileiras dos que se confessam”.
São estas as palavras de um contemporâneo ilustre:
“Filhos, injuriai a confissão, se quiserdes, mas lembrai-vos de que foi ela que fez com que vossas mães amassem as aflições que a vossa infância lhes custou. Injuriai a confissão, ó maridos; mas lembrai-vos de que é ela que mantém vossas mulheres firmes e imaculadas durante a vossa ausência. Injuriá-la, ó pobres, mas é ela que faz descer sobre vós, com maior delicadeza e abundância, a caridade do rico. Injuriai-a, á ricos, mas é ela que, melhor do que todas as leis humanas, garante e salva os vossos bens e os vossos direitos sempre tão ameaçados”.
Reflitam também sobre três fatos gerais que todos percebem facilmente:
1) É verdade ou não que todos os que se confessam dão mostras de que têm intenção de se conservar no caminho dos bons costumes e, mesmo quando já caíram dão a perceber que tencionam ressurgir?
2) É ou não verdade que, aquele que se quer deixar levar à mercê do vício abstêm-se logo da confissão e vai engrossar as fileiras dos que já não se confessam mais?
3) É ou não verdade que, todo o indivíduo que quer voltar para o bom caminho começa por recorrer ao ministério do Sacerdote, à Confissão?
“Pois bem, se isso é verdade; exclama o supra citado Padre Gallerani, temos o direito de concluir que na cidade de Deus, onde se pratica a confissão, há bem mais virtude do que na cidade do mundo onde não se frequentam os Sacramentos. Pelo contrário, na cidade do mundo, onde não se pratica a confissão, há uma soma de vícios muito mais alta do que na cidade de Deus, onde é praticada”.
Oh! Como é fácil compreender que todas essas dificuldades sobre a confissão partem do coração e da paixão, e não da razão. Afastem os vícios do coração, façam calar as paixões e amanhã mesmo confessar-se-ão com os outros aos pés do Sacerdote.
D — Muito bem Padre: guardarei todas essas belas respostas e, de agora em diante, todas as vezes que eu ouvir despropósitos e horrores sobre a confissão, saberei servir-me delas e responder pelas rimas.
M — Quanto a você, tenha sempre gravadas na memória estas palavras de São Paulo:
“Mesmo que um Anjo baixasse do Paraíso para dizer coisas contrárias ao Evangelho, e, portanto, contrárias à confissão, não creias nem no Anjo”. Assim, você será sempre um bom cristão — e é o que lhe desejo de todo o coração — porque a confissão é vida e luz.
Um professor convertido há pouco, encontra casualmente um sacerdote; olha-o atentamente, e depois, cumprimentando-o gentilmente, exclama:
— O senhor é o meu confessor!…
— Mas… eu não tenho certeza, responde o sacerdote um tanto incerto.
— Sim, o senhor é o meu confessor, eu, o estou reconhecendo. Devo-lhe a minha felicidade, porque a confissão é vida e luz! Quem não se confessa não podo ser crente nem se pode gabar de ter fé.
Diante dessa cena comovente, um advogado que havia muitos anos não comungava pela Páscoa, comovido até o fundo da alma, decidiu experimentar também, e acabou persuadindo os seus amigos a seguirem o seu exemplo, para que se convencessem também de que a confissão é vida e luz.
Pe Luiz Chiavarino, “Confessai-vos Bem” – Diálogos, Fatos e Exemplos, 1939.