São Cipriano, Bispo de Cartago († 258)
Este Santo é figura brilhantíssima da Igreja Africana no século III. Filho de pais nobres, dotado de extraordinários talentos, foi S. Cipriano um dos maiores sábios do seu tempo e orador de inesgotáveis recursos. A princípio pagão, converteu-se ao catolicismo, e, em marcha ininterrupta, galgou as culminâncias das virtudes cristãs, a ponto de operar grandes milagres.
Pela vontade do povo inteiro e do clero, foi ordenado sacerdote e em 248 sagrado Bispo de Cartago. Ao zelo sem par, à vida santa e piedosa de São Cipriano deveu a Diocese de Cartago o fato de ter vindo a ser a primeira da África.
Quando em 249 o Imperador Décio decretou a perseguição da Igreja, muitos católicos selaram a fé com o próprio sangue, outros apostataram. Não tardou que a perseguição tivesse entrada também em Cartago. Os pagãos reuniram-se no grande fórum e, em altos e apaixonados gritos, manifestaram o ódio ao santo Bispo: “Cipriano aos leões! Cipriano às feras!” – era a sorte que lhe destinavam.
Cipriano, em fervorosas orações, procurava conhecer a vontade de Deus. Para poupar o rebanho, embora desse preferência ao martírio, achou mais acertado seguir o conselho de Nosso Senhor, que disse: “Se vos perseguirem numa cidade, procurai outra”.
Um sinal que recebeu do céu, mostrou-lhe também a conveniência dessa medida e assim resolveu fugir. Do esconderijo pôde prestar, grandes serviços aos pobres católicos perseguidos, aos quais animava, consolava e fortificava. Grande rigor opunha aos apóstatas, que mais tarde se apresentavam arrependidos, pedindo para serem aceitos novamente.
Como outros Bispos e sacerdotes tratassem com mais benignidade esses infelizes, formou-se uma corrente fortíssima com ares de cisma contra Cipriano.
O movimento adversário era chefiado por Novato. Contra este e outros sacerdotes descontentes convocou um Concílio, cujas resoluções foram apresentadas ao Papa Cornélio, que as aprovou e sancionou. Em um outro Concílio foi confirmado o valor do batismo das crianças.
Numa nova perseguição, que veio sob o governo do Imperador Gallo, Cipriano tornou a fortalecer a fé dos cristãos.
Quando a peste, no espaço de quinze anos, dizimava a população, o santo Bispo permaneceu com os diocesanos, consolando e socorrendo-os com orações e auxílios.
Muitos cristãos que caíram prisioneiros, resgatou ele com dinheiro de sua propriedade.
Surgiu uma grande controvérsia sobre o valor do batismo administrado por hereges. Quando o Papa Santo Estevão estava pela consagração da tradição, que considerava válido esse batismo, Cipriano impugnava-o e com ele muitos Bispos da África e da Ásia, que exigiam o segundo batismo para pessoas batizadas por hereges. A questão ficou sem solução, devido às dificílimas complicações políticas daquele tempo.
Embora contrariando a opinião do Papa, não era intenção de Cipriano desrespeitar a pessoa do mesmo. A Igreja romana era para ele “a cadeira de São Pedro, a Igreja por excelência, de que a união entre os Bispos se origina e na qual é inadmissível, uma traição, por menor que seja”. Se houve de sua parte um excesso de ardor nas discussões e uma certa falta de ponderação, dela se penitenciou na perseguição que rompeu, quando Valeriano era Imperador.
Foi em 257 que pela primeira vez se viu citado perante o tribunal do Procônsul africano Aspásio. As declarações sobre sua posição, religião e modo de pensar como cristão, foram tão positivas, que o Juiz o condenou ao exílio em Curubis. Por uma visão do céu, soube que só um dia, isto é um ano apenas o separaria do martírio.
Do exílio escreveu, uma carta consoladora e enviou uma quantia de dinheiro aos cristãos condenados a trabalhos forçados nas minas de cobre.
Ainda pode voltar para Cartago, onde Galerio Máximo tinha sucedido a Aspásio. Lá tomou ainda muitas providências, repartiu os tesouros da Igreja entre os pobres, exortou os fiéis à constância e rejeitou o conselho de esconder-se. Em 13 de Setembro de 258 foi levado à presença do novo Procônsul. Uma enorme multidão acompanhou-o, apreensiva com o que poderia acontecer-lhe. Como se negasse a prestar homenagem aos deuses, o juiz romano condenou-o à morte pela espada. A execução foi imediata e Cipriano, preparando-se para o último sacrifício, deu ao carrasco 25 moedas de ouro. Os cristãos estenderam panos de linho branco em redor, para apanhar o sangue do mártir.
O cadáver foi sepultado com grande solenidade. Duas igrejas ergueram-se: uma no lugar onde Cipriano foi decapitado e outra sobre o seu túmulo. A festa do Santo Bispo foi transferida de 14 para 16 de Setembro.
REFLEXÕES
S. Cipriano mandou entregar ao próprio algoz uma quantia considerável em dinheiro. Esse fato foi a aplicação perfeita das palavras de Cristo: “Fazei bem àqueles que vos odeiam”. (Luc. 6. 27). É o capítulo mais difícil da prática da virtude cristã: perdoar aos inimigos. Não é grande o número dos cristãos que se decidem à imitação de Cristo neste ponto. Perdoar ao inimigo todo o mal que fez, pode não ser fácil, mas é necessário, é indispensável. Perdoar ao inimigo é a condição do perdão dos próprios pecados. Se Deus conosco se quisesse haver como nós nos havemos com os nossos inimigos, estaríamos perdidos. Mas apesar de ser por nós mil vezes ofendido, Deus sempre nos perdoa. Não merece ser imitado exemplo tão generoso? Se Deus nos perdoa, não devemos também perdoar? “Olha para teu Senhor. Teu inimigo é mal, mas teu Senhor é bom. Teu inimigo não merece ser perdoado, mas teu Senhor merece mil vezes ser obedecido. Por amor deves perdoar”. (Santo Agostinho).
Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.
Última atualização do artigo em 11 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico