São Lourenço Justiniani, Patriarca de Veneza

San Lorenzo Giustiniani adorando o Menino Jesus. Coleção particular napolitana, por Luca Giordano, séc 17, Domínio Público, Wikimedia Commons

São Lourenço Justiniani, Patriarca de Veneza († 1455)

Natural de Veneza e filho de Bernardo Justiniani, homem de alta linhagem, viu Lourenço a luz do mundo em 1380. A mãe, Querina, de descendência igualmente nobilíssima, era uma senhora religiosa, que considerava como primeiro dever dar ao filho educação ótima. A boa índole do menino e sua inclinação para as coisas de Deus facilitaram-lhe a tarefa, com razão considerada a mais árdua para as mães. Quando um dia externou ao filho o receio dele se deixar levar pelo orgulho e pela ambição, este a tranquilizou com as palavras: “Mamãe, a única ambição que em mim existe é de ser um grande servo de Deus.” A conduta do jovem no meio de tanta corrupção que havia em Veneza, provou cabalmente a sinceridade daquela afirmação.

Receando pela salvação, pediu a Deus para mostrar-lhe claramente em que estado devia viver. Estando um dia em profunda oração diante da imagem de Nosso Senhor Crucificado, sentiu em si um impulso fortíssimo para abandonar o mundo e dedicar-se ao serviço de Deus, no estado eclesiástico. Parecia-lhe ouvir uma voz dizer-lhe: “Por que vagueias de uma coisa a outra, procurando repouso e paz, quando só em mim a poderás encontrar? Está em tuas mãos. Eu sou a Sabedoria Divina. Escolhe-me por tua esposa e herança e terás um tesouro muito grande.” Lourenço obedeceu a esta voz, disse adeus ao mundo e entrou para o convento dos Cônegos Regulares de S. Jorge, em Alga, uma ilha existente nas proximidades de Veneza.

Tão grandes foram os progressos que fez na prática das virtudes e da santidade, que todos se admiraram. O que mais admiração causava, era o modo de entregar-se a exercícios de penitência e mortificação corporais.

Nunca mais visitou a casa paterna. Lá só foi uma vez, para atender ao chamado da mãe, que se achava agonizante. Provas de virtudes heroicas deu quando um grande tumor, que lhe apareceu na garganta, exigiu frequentes intervenções cirúrgicas. Ele mesmo animava o cirurgião a proceder com coragem, dizendo: “Não poderei esperar de Jesus Cristo que me dê a mesma força e constância que deu aos três jovens na fornalha?” Enquanto duravam as operações, dos seus lábios não se lhe ouvia nenhum gemido, a não serem as jaculatórias a Jesus e Maria. Aos que se admiravam de tanta coragem, respondia: “O que sofro, não é nada em comparação com o que os Santos mártires sofreram, quando atormentados com fachos ardentes e colocados na grelha.

Bem firmado estava na humildade. Os serviços mais humildes eram os que mais lhe agradavam, e quanto à roupa, dava preferência ao que havia de mais modesto.

Tanto poder adquiriu sobre a língua, que nunca lhe escapara uma palavra em seu louvor ou defesa. Amigo da oração, dedicava muito tempo a esse exercício de piedade, ficando no coro bastante tempo, além do que gastava com a recitação do Ofício divino.

A Santa Missa era celebrada por Lourenço com tanta piedade, que edificava a todos e raras vezes acontecia que a celebrasse sem derramar lágrimas. Modelo de perfeição e santidade, era natural que seus Irmãos de Religião por diversas vezes o elegessem superior.

O Papa Eugenio IV sagrou-o Bispo de Veneza. Só a obediência à Santa Sé pôde leva-lo a aceitar essa grande dignidade. Como Bispo, em nada se lhe modificou a vida monástica, o rigor contra si mesmo.

Por diversas vezes percorreu o Bispado, animando os diocesanos a continuarem na prática do bem, no amor de Deus e do próximo.

Durante sua administração foram fundados quinze conventos e erigidas muitas igrejas.

A uma parenta que lhe veio pedir auxílio para o casamento da filha, respondeu S. Lourenço: “Se dou pouco, nada te adianta; se dou muito, é para ti só e muitos outros ficam sem nada. Seja como for, os bens da Igreja não devem ser aplicados para a sustentação do luxo, em vestidos e banquetes, porque pertencem aos pobres. Por isso não hás de levar a mal, pois não posso atender ao teu pedido”.

Tendo morrido o Patriarca de Gradisca, o Papa queria Lourenço como sucessor do mesmo. Prevendo, porém, que os venetos dificilmente se conformariam com a remoção do Bispo, transferiu o Patriarca de Gradisca para Veneza e elevou Lourenço a dignidade de primeiro Patriarca de Veneza.

Os trabalhos do alto ministério consumiram em pouco tempo as forças do servo de Deus. Na festa de Natal lhe sobreveio durante a Missa um desejo ardentíssimo à visão beatífica. Logo depois da missa foi acometido de uma febre, que o levou à sepultura. Na doença não queria abandonar o costume de ficar deitado sobre duras tábuas.

“Nosso Senhor Jesus Cristo – disse ele – morreu sobre o duro lenho da cruz, e quereis que eu, miserável pecador, me deite e morra numa cama macia? “Logo após à recepção dos Santos Sacramentos, fez uma pequena alocução aos que estavam presentes. Entre outras coisas disse: “Observai os mandamentos da lei de Deus”. Depois elevou os olhos ao céu e exclamou: “Já vou, meu Jesus!” Foram estas as últimas palavras do santo Patriarca, que morreu na idade de 74 anos. A data da sua morte é 8 de Janeiro de 1455, sendo-lhe o túmulo teatro de numerosos milagres. Lourenço Justiniani foi canonizado por Alexandre VIII, em 1690.

REFLEXÕES

“Que é que sofro em comparação com os sofrimentos dos santos mártires? Este pensamento deve animar-nos também quando nos sobrevém a hora da dor. Digamos, como S. Lourenço: “o que sofro é pouco, comparando-o com os sofrimentos dos Santos; o que sofro não é nada, quando o comparo com a Sagrada Paixão de meu Jesus. Salutar é também a lembrança do inferno: o que sofro atualmente, é uma parcela mínima das dores que me atormentariam, se Deus me tivesse deixado morrer em pecado”. Estes três pensamentos são capazes de dar-nos alento, nos momentos da dor. De fato, tudo que aqui podemos sofrer e sofremos, é pouca coisa, se o compararmos com o martírio dos Santos, com a Sagrada Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e com os tormentos dos condenados no inferno.

Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.

Última atualização do artigo em 10 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico

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