Dentre os anjos que conforme narra a S. Escritura se revelaram aos homens como mensageiros de Deus e executores dos seus desígnios, destaca-se o glorioso S. Rafael como tendo-se servido de forma e aparência humana e relacionado diretamente com os homens com os quais conviveu durante meses. A sua missão principal no mundo foi de guia dos homens, amparo e defesa contra todos os males corporais e espirituais que lhes possam ameaçar. Assim foi que se apresentou para servir de guia ao jovem Tobias, ao país dos Medas. Assim foi ainda que livrou o jovem das garras ameaçadoras do monstro aquático que lhe surgiu à frente. Assim foi finalmente, que livrou Sara, a filha de Raquel, do demônio que a infelicitava e da cegueira, ao velho Tobias. Guia, protetor e amparo dos homens, como se mostrou, na missão que Deus lhe confiou à terra, é o advogado compassivo junto de Deus em favor dos homens constituídos em quaisquer condições de vida e pertencentes a todas a:s classes.
O sacerdócio o tem como patrono ora relevando ao mundo o pão dos anjos, símbolo da SS. Eucaristia, ora recomendando a caridade simbolizada na esmola e todas as virtudes que devem ornar as almas eleitas de Deus, ora presidindo ao casamento de Tobias, ora, no verdadeiro exorcismo, livrando Sara da influência do demônio. Os médicos o têm como mestre mandando aplicar o fel do peixe aos olhos do velho Tobias. Os farmacêuticos, no improvisado laboratório à margem do rio, desentranhando o peixe.
Os viajantes e excursionistas, em geral, por terra, pelos mares ou pelos ares, soldados escoteiros, condutores, etc., o tem como guia e protetor prestando este serviço ao jovem Tobias.
Estudantes de qualquer ramo das ciências, o têm como mestre nas sábias lições ministradas ao jovem durante a viagem. Chefes de famílias o têm como conselheiro, por suas últimas palavras dirigidas aos seus protegidos.
Jovens e donzelas o têm como revelador dos meios a empregar para terem a benção de Deus na escolha do estado de vida que desejarem como o tiveram o jovem Tobias e Sara sua esposa. Operárias, comerciantes, industriais, criadores, lavradores, confiai vossos interesses àquele que se revelou particularmente patrono de todos eles junto de Tobias, de sua mulher, de Raquel e de Gabello; lede o “Livro de Tobias” e o vereis clara e eloquentemente:
“Quando oravas com lágrimas, disse Rafael a Tobias, e enterravas os mortos e deixavas a refeição e ocultavas os mortos em tua casa, de dia e os sepultavas de noite, oferecia eu tuas orações ao Senhor e, porque tu eras aceito a Deus, foi necessário que a tentação te provasse, e agora me enviou o Senhor a curar-te e a livrar do demônio a Sara mulher de teu filho, porque eu sou o Anjo Rafael, um dos sete que assistimos diante do Senhor!”
É S. Rafael o advogado, diante de Deus, sobretudo daqueles que cuidam de obras de caridade. Nesta classe figuram de modo particular os vicentinos. Eles se ocupam das mesmas obras de caridade de que se ocupava Tobias.
Podemos assim, pois, afirmar que Tobias foi o 1º vicentino que existiu no mundo, e que foi um perfeito modelo do moderno vicentino. Se um tal vicentino mereceu por suas obras, tão do agracio de Deus, que um daqueles sete espíritos que assistem diante do Trono do Altíssimo, o Archanjo S. Rafael, fosse constitui-lo seu advogado, e sobretudo enviado por Deus para recompensa-lo nesta vida mesmo, porque ninguém se lembrou ainda de dar à Sociedade de S. Vicente de Paulo, mais este advogado e patrono do céu?
Porque ainda os vicentinos deixando de o invocar e de cultuar o seu nome, como seu particular protetor, hão de se privar de todos os benefícios de que foram cumulados Tobias velho e moço, Raquel e sua família?
Como outrora, em favor de Tobias, investiu Deus a S. Rafael de uma particular missão junto ao Brasil.
O Brasil, jovem nação, que suportou durante quarenta anos um regime constitucional absurdo, eivado do confucionismo doutrinário das eras passadas, e de um exótico liberalismo agnóstico, como o filho de Tobias, necessitava de um guia para conduzi-lo na viagem de regresso às suas tradições católicas. Daí a Providência Divina, permitindo que fosse invocado S. Rafael, quando o País, em armas lutava por uma reforma constitucional e regeneração política; consagrando o dia de sua festa litúrgica (24 de outubro) com a terminação da luta fratricida, que, havia 21 dias, ensanguentava o território Brasileiro!… Foi assim S. Rafael, mais uma vez o portador da alegria – Ele que saudou a Tobias dizendo: “Gaudium sit tibi semper” – alegria seja sempre contigo. E podemos afirmar que nunca o Brasil vibrou tanto de alegria tão explosiva, como naquele memorável 24 de outubro de 1930…
É mister que o Brasil nunca se esqueça de tamanha proteção, em tão singular acontecimento, e que cultue São Rafael como o seu Anjo da Guarda. Se hoje os brasileiros regem-se por uma Constituição que reconhece e acata os direitos de Deus e de sua Santa Igreja, podemos afirmar que não pode ser senão graças à proteção de S. Rafael, invocado do norte ao sul do País, por mais de 300.000 fiéis.
Aos pés do trono de N. S. Aparecida, Rainha o Brasil, assiste o Arcanjo S. Rafael, como primeiro Ministro do seu abençoado Reino!…
REFLEXÕES
Preciosíssimas são as instruções que São Rafael deu a Tobias, que estava em véspera de contrair matrimônio. Preciosíssimas são até hoje e oxalá fossem bem aceitas por todos os nubentes. Admirável é a revelação do mistério da morte dos sete homens, que foram estrangulados pelo demônio na primeira noite. O demônio teve poder sobre eles, por causa das más disposições com que entraram no estado matrimonial. Poder maior lhe é concedido sobre aqueles que, sob pretexto de futuro matrimônio, cometem os maiores pecados. Matrimônio iniciado desta maneira não tem a benção de Deus, que é a base de toda felicidade.
Ainda outros avisos utilíssimos o Arcanjo S. Rafael dá aos dois Tobias – pai e filho: 1º que a Deus se devem louvores e gratidão; 2º que úteis ao homem e agradáveis a Deus são os exercidos da oração, do jejum e da esmola; 3º que o pecador é inimigo de sua própria alma; 4º que as boas obras dos homens são levadas por mãos angélicas ao trono de Deus.
Finalmente disse S. Rafael ao velho Tobias, explicando-lhe a cegueira: “Porque Deus te tinha amor, pela tribulação te quis provar”. O sofrimento, portanto, não é sempre prova de Deus ter-se afastado de nós. “A contrariedade a que é sujeito o piedoso, é uma prova de sua virtude e não sinal da ira divina”. (S. Gregório).
Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.
Última atualização do artigo em 24 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico