Aproximo-me de Vos, Senhor, para Vos pedir o verdadeiro espírito de oração.
1 – A oração consiste essencialmente num contato íntimo com Deus, em que a alma procura a Sua presença para se entreter amigável e afetuosamente com Ele. É o filho que deseja entreter-se com o seu Pai, é o amigo que deseja entreter-se com o Amigo. A oração, em si mesma, é uma coisa totalmente íntima e interior: “Para mim – dizia Sta Teresa do Menino Jesus – a oração é um movimento do coração, é um simples olhar para o céu, é um grito de reconhecimento e de amor tanto no meio da prova como no meio da alegria” (M.C. pg. 294). É neste sentido que devemos entender a tradicional definição de oração “elevatio mentis ad Deum”, elevação do espírito para Deus; e não só do espírito, mas também, e sobretudo, do coração. Elevação que pode consistir num silencioso movimento do espírito, ou também se pode exprimir num grito, numa súplica, num colóquio, verificando-se então os outros aspectos da oração: “pia locutio ad Deum, petítio decentium a Deo”, ou seja, uma conversa piedosa com Deus, um confiante pedido das Suas graças.
Qualquer que seja a forma que tome, a verdadeira oração não tem nada de complicado e de constrangido: é a respiração da alma que ama o seu Deus, é a atitude habitual do coração que tende para Deus, que O procura, que quer viver com Ele, E assim, espontaneamente, sem mesmo refletir nisso, a alma passa da simples elevação de Deus, à oração de súplica ou ao colóquio íntimo, para depois voltar ao ímpeto do coração, a um olhar para o céu. Entendida desta maneira, a oração é sempre possível em qualquer circunstância e no meio de qualquer ocupação; ainda mais, para uma alma que ama verdadeiramente o Senhor, seria impossível interrompê-la, como seria impossível deixar de respirar. Deste modo compreende-se como todos, mesmo até os que vivem entre os afazeres do mundo, podem cumprir a palavra do Evangelho: “Importa orar sempre” (Lc. 18, 1). A única condição necessária é um coração que ame, e quanto mais este amor for forte e vigoroso, tanto mais a oração será profunda e contínua.
2 – Embora a oração seja uma coisa tão simples, nem sempre é fácil rezar e rezar bem. É uma arte que se aprende, estudando as várias formas e os vários métodos de oração, mas sobretudo aplicando-se com diligência à própria oração. A essência da oração é sempre o movimento interior, a elevação do coração e do espírito para Deus, no entanto as formas são variadas. Há a oração vocal e a mental, a oração discursiva e a afetiva, a oração mental, e a litúrgica. Servir-nos-emos de uma ou de outra conforme o que é requerido pelos nossos deveres – todos os cristãos, por exemplo, são obrigados a certas orações vocais e litúrgicas, como a recitação das orações da manhã e da noite, a assistência à Santa Missa nos Domingos e nos dias de festa de preceito, etc. – e depois destas podemos escolher livremente segundo o atrativo do momento, as circunstâncias particulares ou as necessidades em que nos encontramos. Todas as formas são boas e podem servir para alimentar o nosso amor a Deus, porque nos põem realmente em contato com Ele. É este o ponto que devemos sempre vigiar, porque nele está a substância da oração; se esta substância viesse a faltar, a forma não serviria para nada e o Senhor poderia dizer de nós: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mt. 15, 8).
Todavia, uma alma que aspira à intimidade divina, orientar-se-á espontaneamente para um forma de oração toda interior, que facilita o contato íntimo com Deus, a união silenciosa e profunda. Assim, todas as suas formas de oração assumirão esta particular característica de interioridade. E então, através da oração vocal e litúrgica e da oração mental, a alma encaminha-se e dispõe-se para um contato cada vez mais íntimo com Deus, até que o próprio Deus, por meio da experiência amorosa e da luz contemplativa, a introduza numa oração mais profunda capaz de a mergulhar nEle.
Colóquio – “Fazei, ó bom Jesus, que a minha alma voe a toda a hora para Vós, e que a minha vida inteira não seja senão um contínuo ato de amor. Fazei-me compreender que qualquer obra que não Vos honra, é obra morta. Fazei que a minha piedade não seja já um hábito rotineiro, mas um contínuo ímpeto do coração.
“Bondade suprema, ó meu Jesus, peço-Vos um coração enamorado de Vós que nenhum espetáculo possa distrair. Fazei que, indiferente a tudo o que acontece no mundo e desejoso só de Vós, eu ame quanto Vos diz respeito, mas sobretudo Vos ame a Vós, meu Deus. E o meu espírito, Senhor, oh! o meu espírito! fazei que, fervoroso em procurar-Vos, saiba encontrar-Vos, suma Sabedoria” (S. Tomás).
Ó Senhor, dai-me um coração que Vos ame, dai-me um coração que Vos procure sem cessar, um coração que só anseie por Vós e nada mais deseje senão unir-se intimamente a Vós.
“Ó Senhor, que a minha alma suspire e se apaixone por Vós, Deus vivo, que o meu coração e os meus sentidos gritem, desejosos de Vós. Como o pássaro encontra um abrigo e a andorinha o seu ninho, assim eu quero habitar perto dos Vosso altares, ó Senhor dos exércitos, meu Rei e meu Deus. Felizes aqueles que habitam na vossa casa! podem cantar continuamente os Vosso louvores” (cfr. Sal. 83, 1-5). Também eu, desde manhã até à noite, quero entoar no templo do meu coração, hinos de louvor e de amor, a Vós, Deus altíssimo, que Vos dignais habitar em mim. Se a língua se cala ou está empregada em outras conversas, se o corpo e o espírito estão ocupados no trabalho, o coração está sempre livre para Vos amar e para tender para Vós a cada momento e em cada ação. Peço-Vos, portanto, Senhor, esta grande graça: que no íntimo do meu espírito eu Vos vá sempre procurando e unindo a Vós o afeto do meu coração.
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.