A Paixão do Senhor: Jesus é preso

Traição de Judas - Caravaggio - a tomada de Cristo, por volta de 1602, Galeria Nacional da Irlanda - Public Domain - Wikimedia Commons

Após sair, Judas que não acreditava mais em Jesus, pois o considerava um enganador, começou a organizar como o entregar. Foi à casa dos príncipes dos sacerdotes para indicar que aquela era a ocasião oportuna para que se cumprisse o combinado. Assim deu as coordenadas para a captura. Conseguiu uma comitiva de soldados da guarda. Parecendo pouco, mandaram criados e alguns dos príncipes dos sacerdotes, com isso davam uma autoridade ao fato, pois estes foram sumos sacerdotes em anos anteriores. Todos estavam bem armados e equipados, com espadas e paus, lanternas e tochas. Judas armou tudo para que nada saísse errado. Na cidade todo este alvoroço não passou despercebido. Juntou-se todo tipo de gente: judeus, gentios, servos, comerciantes, vagabundos, prostitutas; todos nesta noite prenderiam Jesus, porque a graça da redenção seria para todos.

Judas tomou o comando da operação. São Lucas diz que: à testa deles vinha um dos doze, que se chamava Judas (Lc 22, 47), e que é confirmado pelos Atos dos Apóstolos: foi o guia daqueles que prenderam Jesus (At 1, 16). Judas, o traidor, conhecia também aquele lugar, porque Jesus ia frequentemente para lá com seus discípulos (Jo 18, 2), então escolhendo a noite, quando Jesus estaria com poucos amigos e fora de cidade, evitaria tumulto e resistência de seus seguidores, satisfazendo assim o temor dos pontífices que tinham medo e queriam prender Jesus após a Páscoa. O poder das trevas buscava na escuridão a Luz Eterna, seria necessário então tochas e lanternas. Como era noite, seria necessário um sinal para que não houvesse engano, pois alguns não conheciam Jesus. Um beijo foi o modo que Judas encontrou. Com um ósculo no rosto, a saudação habitual entre amigos, sinalizaria para capturarem Jesus. Agindo com falsidade e duplicidade, características de um traidor, entregaria Jesus com um beijo, pensando que deste modo passaria tranquilo como seu amigo, pois era um dos apóstolos. Comunicou a todos o sinal para prender Jesus: Aquele que eu beijar, é ele. Prendei-o! (Mt 26, 48). Vemos que nem sempre aqueles que seguem Jesus são bons, muitas vezes se tornam como Judas, os piores traidores.

Judas e seu séquito saíram da cidade em direção ao Monte das Oliveiras. As armas brilhavam à luz dos archotes. O traidor caminhava na frente, como se fosse pacificar a cidade, prendendo um chefe de quadrilha. Chegaram ao Horto de Getsêmani, no momento que Jesus ainda falava com os discípulos.

O Senhor demonstrou a sua divindade, entregando-se livremente. Mesmo com o beijo, nada aconteceu como Judas tinha planejado; ninguém reconheceu e prendeu Jesus, e ele não passou despercebido perante os outros apóstolos. Quando Judas aproximava-se, Jesus foi ao seu encontro. Fingindo-se amigo, saudou-o: Salve, Mestre. E beijou-o (Mt 26, 49). O Senhor que somente quer a paz aceitou o ósculo (cf. Sl 1 19, 7). Com mansidão aceitava aquele beijo para mostrar que se entregava por vontade própria.

Fazendo o bem para quem lhe fazia mal, depois de ter recebido o beijo, mostrou carinho de amigo, chamando-o pelo nome, não censurando e perguntando-lhe com ternura: .Judas, com um beijo trais o Filho do homem? (Lc 22, 48), com sinais de amor e paz me entrega à morte? Amigo, é então para isso que vens aqui? (Mt 26, 50). Minha dor é maior porque vem de um amigo, se o ultraje viesse de um inimigo, eu o teria suportado; se a agressâo partisse de quem me odeia, dele me esconderia (SI 54, 13).

Judas ficou emocionado diante da serena reação de amizade demonstrada pelo Senhor; perante o olhar do Mestre ficou paralisado. Mas, a disposição para o mal venceu, então, juntou-se aos soldados. Mesmo após o sinal, nenhum soldado prendeu Jesus; a prisão não seria como tinham planejado, seria somente quando Jesus permitisse.

Judas tinha se afastado e os soldados não o prendiam. Como Jesus soubesse tudo o que havia de lhe acontecer; adiantou-se e perguntou-lhes: A quem buscais? (Jo 18, 4). Cegados não o viam, Judas continuou calado, e eles responderam: A Jesus de Nazaré. Todos os preparativos foram inúteis, mas Jesus deu-se a conhecer: Sou eu. A voz majestosa e imponente saiu como um raio, espantados recuaram e caíram por terra (Jo 18, 6), esta queda representava a ruína do templo.

Os a póstolos alegraram-se com a força de seu Mestre; com uma resposta derrubou um exército. Perante Ele não há nenhum poder. O que acontecerá com os ímpios, quando Ele vier julgar?

Jesus estava imponente e os soldados caídos. Quando se levantaram , perguntou-lhes novamente: A quem buscais? Perante a grandeza de Jesus, deviam adorá-lo e servi-lo, mas não reconhecendo sua realeza, persistiram na intenção: A Jesus de Nazaré. Percebendo que não era possível fazê-los enxergar, e preocupado com seus discípulos respondeu-lhes: Já vos disse que sou eu. Se é, pois a mim que buscais, deixai ir estes (Jo 18 , 8). Não pediu, ordenou, somente assim Pedro que feriu um servo do sumo sacerdote poderia sair ileso. Todos obedeceram e assim se cumpriu as Escrituras: Conservei os que me deste, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição (Jo 17, 12). Entre aquela multidão, estava Malco, servo do sumo sacerdote, que estava indignado pelo que havia escutado sobre Jesus. Quando o Senhor se revelou, Malco o atacou violentamente. Os discípulos vendo que a situação era dramática, perguntaram: Senhor, devemos atacá-los à espada? (Lc 22, 49). Pedro não esperou nenhuma autorização, desembainhou a espada e desferiu o golpe na cabeça de Malco, pegando de raspão no capacete cortou-lhe a orelha direita.

Jesus, que desejava entregar-se livremente, vendo que Pedro e os outros, tentavam defendê-lo, disse: Deixai, basta! (Lc 22, 51). Com a habitual piedade, tentando abrandar a ira de Malco, tocou-lhe a ferida e curou-o. É assim que Jesus domina o ódio dos inimigos, com caridade.

Após curar a ferida do inimigo, corrigiu os discípulos, mostrando novamente que oferecia sua vida por vontade própria, para se cumprir as profecias e o mandato do Pai. Embora os inimigos atacassem, mandou: Embainha tua espada, porque todos aqueles que usarem da espada, pela espada morrerão (Mt 26, 52). Eu não fujo da morte, aceito-a com amor, não são eles que me matam, mas a vontade de meu Pai, então, não hei de beber eu o cálice que o Pai me deu? (Jo 18, 11). Crês tu que não posso invocar meu Pai e ele não me enviaria imediatamente mais de doze legiões de anjos? Mas como se cumpririam então as Escrituras, segundo as quais é preciso que seja assim? (Mt 26, 53-54).

Embora fosse preso porque quis, foi uma desonra para Jesus, pois era uma pessoa conhecida por suas virtudes, pelos milagres e por suas palavras. O povo considerava-o como um profeta. Mas foi preso como um malfeitor, um ladrão. O Senhor que tinha deixado passar várias injúrias, desta vez foi incisivo: Saístes armados de espadas e varapaus, como se viésseis contra um ladrão (Lc 22, 52). Exprimia seu sentimento pelo que faziam: cegos e enganados, tratavam como um malfeitor; estava sempre no meio deles, na cidade, mas o prenderam no campo; usaram de armas para quem só pregava a paz; buscaram um traidor contra aquele que sempre fora leal e fazia tudo as claras.

Por que não se atreveram a me prender antes? Fizeram de noite, como se prendessem a um ladrão; mas só o fizeram, porque consenti. Mas esta é vossa hora ( Lc 22, 53), e é isso que permite a minha prisão; são as trevas com seu poder que lhes movem.

Com estas palavras, os demônios e seus servidores, encontraram-se livres para fazer com Jesus, o que bem entendessem. Agarraram-no e golpearam-no com violência e insultos. Depois amarraram as mãos, prendendo assim, o autor da liberdade. Talvez muitos dos que o ataram, disses-sem depois: Senhor quebrastes os meus gnlhões. Oferecervos-ei um sacrifício de louvor (SI 115, 7). Judas andava ao lado dos sacerdotes e magistrados, comentando o seu êxito.

Os apóstolos, envergonhados e assustados, esquecendo-se do que tinham prometido, o abandonaram e fugiram (Mc 14, 50).

Seguia-o um jovem coberto somente de um pano de linho (Mc 14, 51), talvez, acordado pelo grande alvoroço e barulho que faziam os que traziam Jesus. Foi notado e tentaram prendê-lo, mas largando o lençol, escapou nu.(4) Assim também acontece conosco, sofremos mais por fugir da cruz, do que de segui-la.

Os apóstolos, dispersos pela fuga, talvez se reunissem na casa onde tinham ceado; contariam a Maria todo o ocorrido no horto; descreveriam a prisão de seu Filho, e a Virgem ficaria ferida com uma dor profunda, embora conformada com a vontade de Deus.

A Paixão do Senhor, Luis de La Palma, 1624.

(4). Segundo a Tradição, este seria o próprio Marcos, autor do Evangelho.

Última atualização do artigo em 13 de março de 2025 por Arsenal Católico

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