Hieronymous Francken II: Parábola das Virgens Sábias e Tolas, óleo sobre tela, por volta de 1616, Museu Hermitage , Domínio público, Wikimedia Commons

Mostrai-nos, Senhor, o caminho da verdadeira prudência.

1 – Para chegar à união com Deus, a nossa vida deve ser toda orientada para Ele; e como a nossa vida resulta de um conjunta de muitas ações, é necessária que estas sejam tais que nos aproximem cada vez mais de Deus, que sejam passos em frente no caminho que a Ele conduz. A prudência sobrenatural é a virtude que nos sugere o que devemos fazer e o que devemos evitar para tingir o fim que nos propusemos. Se queres chegar à união com Deus, diz-te a prudência, deves conformar-te em tudo com a Sua vontade, deves renunciar à mais pequena coisa contrária ao Seu querer divino. Se queres ser santo, deves fazer atos de caridade, de generosidade, não deves recuar diante do sacrifício. Se queres chegar a ser alma de oração, deves cultivar o recolhimento, fugir das tagarelices inúteis, mortificar a curiosidade, aplicar-te com diligência à oração. A prudência prescreve-nos assim o que devemos fazer e o que devemos evitar, tanto em vista do último fim – a união com Deus, a santidade – como em vista dos fins imediatos, mas sempre ordenados ao fim supremo – como a aquisição de virtudes particulares.

A parábola das virgens prudentes e das virgens loucas prova muito bem a necessidade desta virtude. Todas adormecem enquanto esperam o esposo, mas ao passo que as cinco primeiras foram introduzidas na sala das núpcias, as outras foram rejeitadas, unicamente por não terem tido a prudência de levar consigo o azeite suficiente para alimentar as suas lâmpadas. E a parábola conclui: “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora” (Mt. 25, 13). A prudência sobrenatural aconselha-nos sobretudo, a servirmo-nos com diligência do tempo que o Senhor nos dá e das ocasiões que nos oferece para praticar a virtude, porque depois “vem a noite, quando ninguém pode trabalhar” (Jo. 9, 4). Quando, por nossa preguiça ou negligência, deixamos fugir a ocasião de fazer uma obra boa, esta perde-se para sempre; é verdade que em seguida poderão apresentar-se-nos outras, porém aquela não voltará mais.

2 – O futuro está nas mãos de Deus; nós apenas temos à nossa disposição o momento presente com as suas circunstâncias atuais. Por isso, a verdadeira prudência sobrenatural consiste em valorizar ao máximo, em vista do nosso fim eterno, o instante que foge. A prudência humana dá valor ao tempo para acumular bens terrenos, a prudência sobrenatural para cumular bens eternos: “Não queirais entesourar tesouras sobre a terra, mas entesourai para vós tesouros no céu, onde nem a ferrugem nem a traça os consomem… Buscai, pois, em primeiro lugar, o reino de Deus e a Sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt. 6, 1o-23). Eis as grandes regras da prudência, ditadas por Jesus.

A uma religiosa que confessava a sua repugnância ao praticar um ato de caridade que reclamava um particular espírito de sacrifício, Sta Teresa do Menino Jesus respondia: “Eu, pelo contrário, ter-me-ia sentido muito feliz por poder fazê-lo, porque estamos na terra para sofrer. Quanto mais se sofre, mais feliz se é. Oh! que mal sabe arranjar os seus negócios!” (Recomendações inéditas). A prudência sobrenatural ensina-nos justamente a orientar bem os nossos negócios, não em vista de uma felicidade terrena, mas de uma bem-aventurança eterna; não em vista dos nossos interesses egoístas, mas do nosso progresso no caminho da perfeição e sobretudo da glória de Deus e do bem das almas.

A prudência sobrenatural não julga as coisas segundo o seu valor humano, segundo o prazer ou o desgosto que nos proporcionam, mas julga-as à luz da fé, à luz da eternidade: “Quid hoc ad aeternitatem?” (S. Bernardo). “Quod Deus non est, nihil, est” (Imit. III, 31, 2). Que aproveita isto para a eternidade? O que não é Deus nada é.

Por isso a prudência cristã nada tem a ver com a prudência da carne que tudo reduz à felicidade terrena, sem olhar à lei de Deus: “A sabedoria da carne é inimiga de Deus pois não está sujeita à lei de Deus” (Rom. 8, 7); vai muito além da prudência humana que, embora não sendo má, é incapaz de orientar as nossas ações para o fim supremo, pois visa somente os fins terrenos.

Colóquio – “Meu Deus, a alma enamorada de Vós já não ouve as razões da prudência humana. Nela só obram o amor e a fé e por isso aprecia as coisas da terra pelo pouco que valem; não deseja nenhum bem seu porque já entendeu que tudo é vaidade, e quando sabe que uma coisa é do Vosso maior serviço já não olha a nada e imediatamente a realiza convencida de que nisto está todo o seu proveito” (cfr. T.J. P. 3, 1 e 2).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 24 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico

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