A vocação para o claustro

Jovem freira em oração, Sergei Gribkov, 1852, public domain - Wikimedia Commons

Se queres ser perfeito vai, vende o que tens, dê-o aos pobres… e segue-me (Mat. XIX, 20).

As palavras com que o Salvador nos convida a seguir os conselhos evangélicos, são muito claras e terminantes. Mas dão-nos ao mesmo tempo a entender que eles não são caminho para todos seguirem, pois Jesus diz: Quem compreender o que eu disse, faça-o, se se achar com valor para isso (1); isto é, aquele a quem Deus der inteligência e inclinação para aspirar à mais alta perfeição, tenha-se por feliz, não tarde em seguir o chamamento divino e encontrará uma felicidade que nunca tinha imaginado.

Mas, com conhecerei eu o chamamento de Deus?

Há algumas almas privilegiadas, nas quais a vocação brota como uma flor. Não têm outro pensamento desde a puericie; sentem-se atraídas para ela dum modo irresistível: sigam pois esse impulso, se Deus as chama, que não serão enganadas.

Mas, quando a vocação não se manifesta dum modo tão claro, é necessário experimentares-te, para ver se encontras em ti o caudal necessário para a construção da torres da perfeição cristã.

Os gênios inconstantes e vacilantes, os melancólicos e propensos para a tristeza, não são para o claustro.

Se sofres violentas inclinações sensuais ou se adquiriste algum mau hábito, precisas de certo tempo de prova para saberes se tens força para te venceres: de contrário, seria verdadeira loucura fazer voto de castidade.

A teimosia, o juízo próprio, a soberba e a ambição sendo obstáculos graves para a obediência, não são contudo insuperáveis para um vontade firme.

És acaso o arrimo da tua família, a qual ficaria em grande penúria se entrasses em religião? Enquanto estas circunstâncias durarem, não deves fazer-te religiosa.

Também se requer boa saúde e idade não muito avançada.

Mas o requisito principal é um intenção muito reta. Pergunta-te sinceramente na presença de Deus: Que pretendo eu entrando num convento?

Vais lá só em busca duma vida cômoda e livre de cuidados? Lisonjeia-te acaso a ideia de vires a ser superiora? Atrai-te lá talvez a inclinação que sentes por alguma religiosa? Será o teu desejo proveniente de algum influxo indiscreto?

Motivos são estes, que procedem apenas da carne e do sangue.

Mas, se é Deus que te atrai, se é o seu amor e o desejo de procurares com maior segurança a salvação da tua alma, quem lá te leva, então está certa que a tua vocação é verdadeira. Segue-a pois, generosamente, e não serás defraudada.

Se não vês claramente a tua vocação, pede a Deus que te ilumine, sobretudo depois da sagrada comunhão. Se ainda te restam dúvidas, vai ter com o teu confessor, mas não reveles o segredo a nenhum conselheiro falho de autoridade, pois maior confusão te traria. Dispõe-te para vencer generosamente as contradições que acaso te possam advir da parte dos teus pais.

Resolvida a questão da vocação religiosa em geral, resta-te ainda decidir outro ponto não menos importante: Pretendes consagrar-te à vida ativa ou à contemplativa?

Para abraçar esta última deve haver sinais evidentes de vocação. Estes, são principalmente um espírito sereno, e isento de melancolia, espírito interior, amor à oração, desprezo do mundo, tranquilidade de juízo, boa saúde e amor à solidão.

Das ordens contemplativas, merecem menção especial as Beneditinas da Adoração perpétua, as religiosas de Santa Clara, e as Carmelitas. Todas elas têm uma regra de observância muito rigorosa, consagrada exclusiva ou principalmente ao exercício da oração. As muitas e diversas ordens e congregações de vida ativa, que se dedicam à educação, à regeneração, à assistência dos enfermos e a outras obras de caridade, são suficientemente conhecidas.

A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.

(1) Mat. XIX, 12.

Última atualização do artigo em 9 de março de 2025 por Arsenal Católico

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