Existência, Unidade e Trindade de Deus
Percorrendo atentamente sua ilhota deserta, Robinson Crusoé descobriu os siais de um pé humano. E uma conclusão espontânea acudiu-lhe á mente: havia certamente um outro na ilha, embora escondido. Era preciso encontrá-lo. E o encontrou.
Também o mundo apresenta as pegadas, os sinais de um Ser invisível: Deus. Nós não O vemos diretamente, mas observando-lhe as pegadas temos certeza de sua existência.
Primeiro vestígio: A existência das coisas
Alguns estudantes espanhóis perguntaram a Balmes, filósofo do século passado, qual era para ele a prova convincente de que Deus existe. O filósofo respondeu: “Eu trago no bolso a prova de que Deus existe”; e tirou do bolso o relógio.
Queria dizer: Assim como o mecanismo do relógio não se fez por si mesmo, assim qualquer ser da natureza, sempre tão bem organizado, não pode ter sido feito por si mesmo.
Portanto: ao vermos que existem tantas coisas no mundo que não foram feitas pelo homem, pensamos em Alguém que as fez existir, porque elas não se poderiam fazer por si mesmas.
Se alguém nos vem dizer que o mundo existe, mas não existe quem o tenha construído, estamos diante de um disparate, de uma falta de bom senso.
Tinha razão Davi quando escrevia: “O estulto diz e repete a si mesmo: Deus… não existe!” (Salmo 13, 1).
Infeliz! É como um cego: não vê as pegadas de Deus no mundo.
Segundo vestígio: A ordem maravilhosa da criação
Quantas vezes pela vontade de brincar, você saiu pulando de sua mesa de estudo, deixando sobre ela uma verdadeira confusão de cadernos, livros, papéis e dicionários.
No dia seguinte você achou tudo muito bem arrumadinho.
Essa ordem fez-se por si mesma?
Seria ridículo pensar assim. Sem dúvida alguma, mão delicada passou por sobre a mesa antes que você voltasse, deixando um sinal de sua passagem: tudo em perfeita ordem.
A mesma coisa acontece no mundo: há no mundo uma ordem que nós constatamos e admiramos: auroras e ocasos, chuva e sol, primaveras enfeitadas de flores e verões carregados de frutos, tudo no tempo marcado. E não fomos nós certamente que organizamos isso!
A ordem que você achou na mesa falou-lhe da mão ordenadora da mamãe, talvez. A ordem que todos vemos no mundo, revela-nos o Supremo Ordenador que tudo dispôs antes do aparecimento do homem.
Terceiro vestígio: A convicção dos povos
A história de todos os povos e os viajantes de todos os tempos garantem-nos uma coisa: não se encontra um povo que não creia na existência de um Ser Supremo, sábio e poderoso. Mesmo os povos que não conhecem o verdadeiro Deus, imaginaram um deus à sua maneira: feito talvez de madeira, de mármore, de metal.
Por que é que todos os povos crêem em Deus? – Porque têm mecessidade de Deus, seu Pai e Criador. Porque o coração do homem, iluminado pela inteligência, tende naturalmente para Ele!
Mas existem ateus, dirá alguém. Existem, sim, e não crêem em Deus. isto, porém, não significa que os homens não têm necessidade de Deus. Acaso não existem cegos? Existem; ninguém todavia, pode dizer que o homem não tem necessidade dos olhos.
Como é uma exceção e um mal ser cego, assim é uma exceção e um mal ser ateu. Os ateus são os piores cegos!
Quarto vestígio: A voz da consciência
Alarme a bordo!
Foi avistada colossal montanha a gelo, interceptando a rota do transatlântico. Somente uma rápida manobra pode impedir que o gigantesco navio lhe vá de encontro e se parta.
Como transmitir as ordens a toda a equipagem?
Os alto-falantes distribuídos pela embarcação resolvem o problema. A voz do comandante difunde-se por todos os cantos: ouve-a o foguista fechado no fundo do navio, o piloto, o regulador da hélice.
As máquinas começam a trabalhar a toda a pressão; o navio consegue fazer um desvio de 90º graus à direita e… está salvo!
Pois bem: para se fazer ouvir pelo homem, Deus fez a mesma coisa; melhor até. Para transmitir Sua voz, Suas ordens e proibições, instalou sobre a humanidade uma imensa rede de alto-falantes. Cada homem traz consigo o alto-falante de Deus: a consciência. Ela estimula ou detém, aprova ou reprova.
Que é que deixou você aborrecido quando fez chorar sua mãe? E ao contrário, deixa feliz ao praticar uma boa ação? – A voz da consciência! No primeiro caso ela reprova; no segundo aprova.
A voz da consciência é a voz de Deus: não a ouvem os que… estragaram a instalação com sua maldade; e esses são os maus.
Cuidado para não estragar essa delicada instalação!
Luz do Céu, Curso de Religião para o Ginásio, Livro II, Dogma, 1954.