1 – A comunhão frequente é o meio mais eficaz para nos unirmos a Deus. “O que come a minha carne, disse nosso Senhor, vive em mim e eu nele.”
2 – Este sacramento é chamado por São Bernardo: “O Amor dos amores.” Desejai, pois, participar dele, muitas vezes, afim de vos encherdes deste divino amor.
3 – Duas espécies de pessoas devem comungar muitas vezes, diz São Francisco de Sales: os perfeitos para se aproximarem da fonte da perfeição, e os imperfeitos para se tornarem perfeitos; os fortes por se não tornarem fracos, e os fracos para se tornarem fortes; os doentes para se curarem, e os sãos para não caírem doentes. Direis que sendo imperfeito, fraco e enfermo, não sois digno de comungar muitas vezes; pois eu digo-vos que por essa mesma razão vos deveis aproximar muitas vezes da mesa santa, afim de vos unirdes mais estreitamente à fonte da perfeição, que é a vossa força e o vosso remédio.
4 – Na noite que precede a comunhão, recolhei-vos um pouco no pensamento do dom magnífico que o Senhor quer fazer-vos, excitando em vós uma plena confiança de que sereis santificado.
5 – Não julgueis comungar inutilmente, por vos parecer que não aumentais em virtudes; a comunhão ajuda-vos ao menos a conservar-vos no estado de graça. Nós comemos todos os dias, e não crescemos todos os dias em força, aliás tornar-nos-íamos outros tantos Sansãos. O sustento será pois inútil? Não, certamente; porque se não nos dá mais forças, conserva as que temos. Aplicai isto ao alimento da alma.
6 – Não receieis estar mal disposto e abusar do sacramento, porque vos sentis frio, indiferente e como insensível recebendo-o; são provas que Deus vos apresenta para vos fazer merecer mais. Aqui têm aplicação as observações que vos fiz já a respeito da aridez na oração. Tende, em uma palavra, o desejo das mais ferventes disposições dos Santos. Deus recompensa o desejo da mesma sorte que a obra, como disse mais acima S. Gregório o Grande.
7 – Se abandonais a comunhão frequente por causa da vossa indignidade, nunca deveríeis comungar, porque nunca sois digno disso. Só Deus é digno de receber a Deus. Demais, não devereis nunca ir à igreja, nunca orar, porque um ser tão miserável não é digno de entrar na casa de Deus, nem de conversar com ele na oração.
8 – Não devemos deter-nos no sentimento da nossa miséria, mas confiar na divina misericórdia. Os convidados para o banquete místico, imagem da santa eucaristia, não eram nobres e grandes; mas cegos e coxos, imagem de nós outros miseráveis. Aquele que trás o vestido nupcial, símbolo da graça santificante, não é excluído deste festim.
9 – Quando nos aproximamos da mesa santa com o mérito da obediência, aproximamo-nos com uma das disposições mais agradáveis a Deus. Se a comunhão vos é proibida, abstende-vos com humildade.
10 – Quando não puderdes comungar sem inquietar os vossos superiores ou faltar aos deves da justiça, de caridade ou de regra, contentai-vos, diz o nosso Santo, com fazer a comunhão espiritual. Esta mortificação interior será das mais acolhidas pelo Senhor.
A este respeito o nosso Santo dirige-nos a seguinte observação: “Quando fordes impedido de fazer o bem que desejais fazer, fazei com maior zelo o bem que não desejais, e que será por isso mais meritório.” São João Batista era mais unido de coração a nosso Senhor do que os apóstolos, e, contudo, não foi juntar-se a Ele em pessoa, porque a sua vocação lh’o não permitia. É o maior ato de mortificação que se encontra na vida dos Santos.
11 – Não renuncieis à comunhão por causa das tentações que vos atormentam. Se a deixais por esse motivo, abandonais a vitória ao vosso inimigo. Quanto mais se anima o combate, mais precisão há de armas e valor. Ide com segurança tomar o alimento dos fortes, e sereis vencedor.
12 – Não frequenteis a mesa santa, só porque outros a frequentam. É o que o nosso Santo chama: “Uma vã e ciosa imitação, ordinária nas mulheres.” Não é senão por amor que devemos receber nosso Senhor Jesus Cristo na comunhão, porque é só por amor que Ele se nos dá.
13 – A mesma frequência da santa mesa não convém a todos igualmente. Todos devem ter o desejo de se unirem a Deus; mas nem todos devem usar dos mesmos meios. Uma sábia direção decida o que convém a cada um.
14 – Uma comunhão bem feita basta para nos tornar santos. Aspirai, pois, a fazer santamente as comunhões que vos são permitidas, sem vos queixardes das que vos são recusadas.
Direção para Sossegar Nas Suas Dúvidas As Almas Timoratas pelo Rev. Pe. Quadrupani Barnabita, 1905.