Confia em Deus, e ele te libertará (Ecl. II, 6).
São muitos os enganos e erros em que caímos durante as tentações; enganos e erros muito perigosos para a juventude inexperiente, em virtude da astúcia da serpente maligna. Primeiramente, o demônio começa por nos apresentar o pecado como um bem muito digno de ser desejado: para isso, procura pintar-no-lo com cores muito brilhantes e sedutoras, excitando em nós um desejo muito intenso de o alcançar! Que agradável deve ser tal pecado! Que suave e digno de ser desejado tal deleite! Que difícil renunciar a ele!
Ao mesmo tempo, trata de nos persuadir que é fácil alcançar o perdão, e que não temos nada a recear, pois basta declará-lo na confissão: depois não o tornaremos mais a cometer. Mas logo que pecamos, o demônio mudando de tática, segreda-nos que tudo está perdido, que é impossível podermo-nos emendar, e que é inútil a luta, porque a tentação é mais forte do que nós.
Enganos terríveis, e de consequências quase mais funestas do que as da tentação. Por tais contradições, facilmente poderás vir no conhecimento do espírito da mentira. Sim: mentira sobre mentira.
É falso que o pecado seja verdadeiramente agradável. E como poderia sê-lo, uma coisa contra a qual a consciência se revolta, que vem acompanhada de grande vergonha e confusão, e à qual se seguem mil perturbações e remorsos?
Quando resistimos e vencemos as tentações, então sim, sentimos na alma uma consolação, um paz e uma alegria que excede quanto se pode imaginar. Ainda quando o pecado lograsse proporcionar-nos alguma satisfação verdadeira, esta desapareceria, quase antes de a termos gozado; em seu lugar ficaria na chaga o aguilhão da consciência. Perturbação e angústia, sobre todo o homem que procede mal (1).
É falso também que a conversão seja tão fácil e segura, como se supõe. Para isso basta ser obra da graça. E de fato, não pode a morte apresentar-se no próprio ato do pecado, imediatamente depois dele ou antes de pensares em te converter deveras? Como poderias então, arrepender-te, confessar-te e fazer penitencia?
Mas Satanás não mente só quando te inspira tais sentimentos de confiança; quere também que sejas ingrata a Deus, aconselhando-te a pagar com más obras os seus benefícios!
Não menos falso é dizer que depois de teres pecado uma ou muitas vezes, a conversão é pouco menos que impossível. Antes do pecado dizia-te que era fácil; agora, é difícil, impossível!…
Não reconheces nisto o pai da mentira? Não vês como te quere enganar? Mentira antes e depois. Guarda-te de semelhantes enganos, e atem-te a verdade que é esta. Teme e treme antes do pecado; mas, se tiveres a desgraça de cair nele, enche-te de ânimo e confiança.
Mas nas tentações há ainda outras faltas contra as quais deves estar prevenida. Não te impacientes quando sentires a tentação, ou quando ela for muito impertinente: filha de Adão, tens de sofrer as consequências do pecado original. Queres gozar dum privilégio que nem os santos tiveram, e que foi apanágio exclusivo da Mãe de Deus?
O santo e senha desta vida é a palavra luta; é nela que se vê quais são os verdadeiros guerreiros. Só alcançará a coroa, quem tiver combatido com denodo (2).
Mas, se por desgraça tiveres pecado, não desanimes; a misericórdia de Deus é maior do que todos os teus pecados; corre a refugiar-te nos seus braços, e ele te revestirá de fortaleza para venceres os teus inimigos.
A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.
(1) Rom. II, 9.
(2) II Tim. II, 5.
Última atualização do artigo em 25 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico