Pouco depois de sua triste origem, o protestantismo propagava-se rapidamente pelo norte da Europa e mais tarde na América do Norte. A causa principal desta rápida propagação foi a política.
Em 1555, no congresso de Augsburgo, os príncipes protestantes que haviam traído e abandonado o seu imperador na luta contra os turcos e contra a França, tinham conseguido que lhes fosse concedido o direito de impor aos seus súditos a religião que quisessem, fosse católica ou protestante, direito que lhes foi concedido novamente na paz de Westfália após a guerra de 30 anos (1648). Isso foi uma das causas principais de que os reis e príncipes se arrogassem um absolutismo despótico no governo que por sua vez escravizava a Igreja católica impedindo-lhe a ação benfazeja em prol da humanidade. Os protestantes exigiam para si toda a liberdade religiosa, mas a recusavam aos católicos, que por seu turno se viam na dura necessidade de obrigar os protestantes nos seus territórios ou a aceitar a Fé católica ou a emigrar, pois sabiam perfeitamente que no caso em que o partido dos protestantes vencesse, eles mesmo seriam obrigados a apostatar da sua religião verdadeira. Como a história dos países protestantes da Europa e até dos poucos huguenotes na França prova de sobejo, não havia tolerância para os católicos. Os cidadãos que recusassem conformar-se com esta medida, deviam abandonar o lar e a pátria, e viver desterrados em outros territórios. Como muitos príncipes preferiam o protestantismo pela ganância de espoliar a Igreja de seus bens e de não ter nenhuma lei que lhes contivesse os desmandos, pode-se imaginar o que foi a protestantização daqueles territórios. Assim, por força tanto física como moral, muitas partes da Alemanha (quase todo o norte e leste), da Polônia e Holanda, foram arrastadas ao protestantismo. Grande parte da Suíça e não poucos na França, confessam o protestantismo reformado ou calvinismo; na França chamavam-se também huguenotes. A Dinamarca, Suécia, Noruega e Islândia porém, o foram inteiramente, pois todos os seus príncipes haviam gostado do protestantismo. Também a Inglaterra com a Escócia e o norte da Irlanda, desligaram-se por influência do rei, da Igreja católica.
Nestes territórios a propaganda protestante encontrou resistência da parte dos católicos, mormente dos religiosos, mas estes tiveram de ceder à força bruta, pelo desterro, prisão ou morte, e o povo sem seus guias religiosos, os sacerdotes, não soube resistir por muito tempo ao influxo contínuo da propaganda herética. Mesmo porque não era um simples propaganda persuasiva. Os governos não respeitavam a liberdade de consciência nem a persuasão religiosa de ninguém. Impunham a todos e por todos os meios, suas ideias. Por causa da guerra dos 30 anos, que deixou a Alemanha como um grande deserto, e durante a qual até a França católica, por motivos políticos, fez partido com os príncipes protestantes para enfraquecer o poder do imperador católico, a força e posição dos príncipes protestantes tornou-se inabalável e eles souberam aproveitar-se disto para diminuir e reprimir a influência dos católicos na vida pública até os nosso dias.
Apesar de tão rápida propagação externa, a evolução interna do protestantismo foi um descalabro contínuo, a formação de uma nova babilônia de inúmeras opiniões em que ninguém compreendia mais o outro.
Pois o protestantismo desde o começo adotara dois príncipes que por suas consequências lógicas, deviam destruir completamente sua união interna. Um princípio a respeito da justificação diz que só a Fé salva, mesmo sem obras boas. Isto causou um lastimável relaxamento na vida do povo, que se entregou às inclinações da natureza de modo a cair profundamente o nível moral. É verdade que depois veio uma reação, mas para muitos ficou uma reação puramente externa, o chamado “puritanismo”.
Outro princípio do protestantismo indica a fonte da Fé e afirma que só a Bíblia contém a doutrina de Cristo, e que cada um, lendo-a, é capaz de entendê-la, explicá-la e interpretá-la com toda segurança, de tal forma que não há precisão de uma magistério infalível como a Igreja católica o possui no Papa e no Concílio dos Bispos. Estes, conforme promessa de Cristo, gozam da assistência do Espírito Santo de modo que podem ensinar com absoluta certeza a doutrina genuína de Cristo. Os protestantes negaram tudo isto e adotaram o “livre exame”. Com tal princípio, deviam surgir necessariamente, e realmente apareceram as mais diversas e disparatadas explicações da palavra de Cristo e ainda hoje brotam constantemente novas seitas em luta com as outras em divergências doutrinárias, em divisões indisciplinadas.
Como já ficou descrito acima, desde a origem houve três ramos diferentes de protestantismo: o de Lutero, que espalhou-se principalmente na Alemanha e nos países nórdicos da Europa, o de Zwínglio e Calvino, que espalhou-se na Suíça, França, Holanda e Escócia, e o anglicano, na Inglaterra mesma. Mas destes ramos logo começaram a despontar uma infinidade de ramificações novas. Talvez não seja nem possível saber quantas seitas protestantes já surgiram até hoje e quantas existem ainda atualmente no mundo. Pois, de per si, cada protestante, tendo o direito de formar sua opinião sobre a revelação e escolher as conclusões a tirar dela, tem ou ao menos pode ter um credo próprio, é individualmente uma seita.
Esta infinidade de seitas protestantes, uma negando o que a outra afirma, num descaso completo para com a certeza e a verdade é uma prova evidente da necessidade absoluta de um magistério infalível na Igreja de Cristo, sem o qual a Bíblia torna-se um livro morto pois não nos pode dar a certeza do que Jesus Cristo queria realmente ensinar.
Hereges e Heresias, Frei Mariano Diexhans O.F.M., 1ª Edição, 1946.