Salvação e boas obras

Dizem mais os protestantes que não querem ser católicos porque segundo a Sagrada Escritura somos salvos por meio da Fé, “e, a despeito de tudo isto, o catolicismo romano crê e ensina a justificação e a salvação pelas obras ou atos meritórios por parte dos pobres pecadores, vindo desse ensino errôneo a necessidade de missas, rosários, indulgências, bentinhos e tudo o mais que torna o romanismo cada vez mais ridículo”.

Uma grande pedra de escândalo para os protestantes são sempre as boas obras que a Igreja católica romana exige dos seus filhos. Deviam ficar contentes de que a Igreja, ainda em nossos tempos licenciosos, exija firmemente alta moralidade dos fiéis. Mas, afirmam, que a Igreja contradiz a Sagrada Escritura. Vejamos quem entende melhor a Escritura se eles ou a Igreja.

Como um pecador pagão ou infiel consegue o perdão dos seus pecados e a justificação? Por própria força, “pelas obras ou atos meritórios”? De forma alguma. A Igreja sempre ensinou e ainda hoje é sua doutrina que todas as obras de um pagão – o mesmo vale do pecador que tem a Fé – são inúteis e perdidas para a vida eterna: ou como disse Santo Agostinho: “São grandes passos, porém, fora do caminho”; não levam ao céu. São Paulo em muitos lugares das suas epístolas diz que só pela Fé em Jesus Cristo encontraremos a salvação e que nem os judeus por meio das obras da lei nem os pagãos por suas boas obras naturais conseguiram a justificação (cfr. Rm. 1-4). Esta foi a doutrina que a Igreja defendeu principalmente contra a heresia dos pelagianos, no século quinto. Crer em Jesus Cristo, porém, quer dizer, abraçar de coração tanto sua doutrina como sua vontade ou sua lei e seguir suas pegadas, e não apenas confessar simplesmente as verdades ensinadas por Ele. São Paulo diz na carta aos Gálatas (5, 6) que nos salvamos pela “Fé que opera pela caridade”.

O Cristão, uma vez justificado e santificado pelo sacramento do batismo, deve viver a vida de Jesus: amar a Deus sobre tudo e ao próximo como a si mesmo, quer dizer, deve praticar boas obras. Sobre que norma será aplicada a sentença do Juiz divino no fim do mundo? Ele mesmo no-lo diz: a norma será a caridade praticada: “Na verdade eu vos digo, o que fizestes a um destes meus pequenos irmãos, a mim é o que o fizestes” (Mt. 25, 40). E a condenação seguirá esta mesma norma: “Na verdade vos digo, o que não fizestes a um desses pequenos, a mim é que o não fizestes” (Mt. 25, 45).

Os protestantes que repelem as boas obras, receiem as consequências da clara palavra de Cristo “Nem todo o que me disser: Senhor, Senhor, entrará no reino do céu, mas aquele que fizer a vontade de meu Pai que está no céu” (Mt. 7, 21).

Algumas seitas protestantes não falam mais com tanto desprezo e desrespeito da necessidade de boas obras. Exigem dos seus adeptos uma vida morigerada e disciplinada, ao menos como sinal ou prova externa de que eles estão na graça de Deus ou têm a fé salvífica. E realmente, há protestantes que na vida sabem guardar bem a lei de deus e da sua consciência.

Para grande parte dos protestantes, porém, esta doutrina é ainda uma pedra de escândalo, se bem que nem eles se resolvam a ser consequentes e dizer como Lutero: “peca com toda força e crê com mais força ainda”.

As práticas de piedade são meios de viver a vida de Cristo. O autor calunia, por ignorância ou má fé, quando diz que a Igreja ensina serem necessários para salvação, rosários, indulgências, bentinhos, etc.

São meios úteis, sim, mas nenhum católico instruído dirá que sem estes meios seja absolutamente impossível salvar-se. Além disto, todas as práticas de piedade, para terem valor eterno, já pressupõem a graça da justificação e a vida sobrenatural.

O mesmo vale se dizer de indulgência, pois pressupõe que foram remidos os pecados. No sentido eclesiástico a indulgência e a remissão ou perdão da penas temporais devidas e merecidas pelos pecados. A pena eterna é perdoada juntamente com o pecado, mas as penas temporais podem permanecer e a Igreja, em virtude do poder que recebeu (“creio na remissão dos pecados”) de ligar e desligar, concede, aplicando os merecimentos de Cristo e dos Santos, um perdão completo (indulgência plenária), ou parcial.

A assistência à Santa Missa, aos domingos, por exemplo, nos é necessária porque foi mandada pela Igreja a quem devemos obedecer. E a desobediência à Igreja condena, porque Jesus Cristo disse aos apóstolos. “Quem vos ouve a mim me ouve; e quem vos despreza, a mim me despreza; e quem me despreza, despreza Aquele que me enviou” (Lc. 10, 16).

Desta forma, a Igreja católica nada tem de ridículo na sua doutrina das boas obras. Os protestantes é que, com citações e explicações irrazoáveis, estão em perigo de desprezar propositalmente a Nosso Senhor e ao Pai celeste, afastando-se assim daquele Único que pode trazer a salvação.

Para justificarem a sua opinião, os protestantes citam às vezes S. João, 3, 16.

“Porque tanto amou Deus o mundo, que sacrificou o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crer, não pareça mas tenha vida eterna”. (A bíblia editada por protestantes diz: Pois assim amou Deus ao mundo, que deu seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crê, não pareça, mas tenha vida eterna).

Estas palavras devem ser entendidas como realmente soam. Sem Fé em jesus Cristo, ninguém se salva. Mas note-se bem: quem realmente crê que Jesus é Filho de Deus e nosso Salvador, também está pronto para obedecer-lhe em tudo o que nos mandou, e obedece igualmente à santa Igreja a quem ele confiou sua autoridade. A Fé nos salvará; não uma Fé fria e morta, “mas a Fé que opera por amor” (Gal. 5, 6).

Hereges e Heresias, Frei Mariano Diexhans O.F.M., 1ª Edição, 1946.

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