Mês das Almas do Purgatório: 27º dia – Indiferença da terra para com o purgatório

MÊS DAS ALMAS DO PURGATÓRIO

VIGÉSIMO SÉTIMO DIA

Indiferença da terra para com o purgatório

MEDITAÇÃO

I. Se todos os cristãos escutassem, como convém, a voz da natureza, da religião e da pátria, os gritos do sangue, da amizade e do reconhecimento, as obrigações, que lhes impõem suas promessas ou a justiça rigorosa, os sufrágios deveriam cair no purgatório como abundantíssima chuva, para extinguir as ardentes chamas, que devoram os defuntos. Mas a terra permanece tão avara, que aqueles ardores nenhum alivio recebem, ou mesmo, se lhes chega algum, poder-se-ia compará-lo ao leve orvalho da manhã que no estio queima mais do que refresca.

E assim, em vez de se aliviarem as almas, dá-se-lhes nova pena com o nosso esquecimento tanto mais culpável, quanto mais obrigações temos para com os defuntos. pelos mais poderosos motivos. Esforcemo-nos por não merecer tal exprobração.

II. Que triste paralelo, diz S. Cirilo, se pode estabelecer entre o purgatório e a terra! Naquela prisão profunda, padecem as almas no meio do fogo de tormentos inexprimíveis, e ninguém na terra se digna de atender a isso; sua voz gemente implora socorro e consolações e nenhum ouvido favorável se inclina às suas súplicas; elas reclamam o cumprimento das promessas que se lhes fizeram e o dos legados que deixaram, e este convite à justiça e à caridade não é escutado; consternam-se, derramam lágrimas de dor, e nem um coração se comove, nem uma alma se enternece ou pensa em abrir-lhes as portas de seus cárceres de fogo. Quem poderia crer em tal barbarismo entre os homens, em tal crueldade entre cristãos, em tal ingratidão e perfídia entre parentes e amigos? Seremos do número deles?

III. E que fazem as almas do purgatório em recompensa de tanta dureza? Clamam vingança ou pedem punição? Bastante se irrita a divina justiça contra a nossa desumanidade. Infelizes de nós se as almas abandonadas fossem excitá-lo ainda com suas justas queixas! Elas, filhas e fiéis imitadoras daquele Deus, que sobre a cruz orava por seus algozes, exclamam: piedade, misericórdia, perdão para aquele irmão, para aquele filho, para aquele esposo que nos esquece e que nos prolonga o martírio que padecemos nas chamas. A voz caridosa daquelas filhas queridas aplaca a cólera de Deus, e converte em misericórdia os castigos que merecemos. Se os seus gemidos não nos tocam, sejamos ao menos sensíveis à sua caridade e retribuamos-lhes amor, livrando-as para sempre dos seus cruéis tormentos.

SÚPLICA

Não olheis, Senhor, a indiferença e o esquecimento, que mostramos para com as almas do purgatório, mas escutai as suas vozes, que vos pedem para nós misericórdia e perdão.

De hoje em diante não seremos, para com o purgatório, surdos e cruéis, insensíveis e ingratos. Compenetrar-nos-emos das terríveis penas que as almas padecem naquela prisão de dores, recordá-las-emas muitas vezes e nunca mais deixaremos de aliviá-Ias ou abreviar o seu tormento por meio de abundantes sufrágios. E vós, Senhor, perdoai a nossa passada negligência; concedei-nos a graça de não mais cairmos nela e de perseverar sempre na boa resolução que acabamos de tomar.

EXEMPLO

Uma noite, em que o padre José de Anchieta, da Companhia de Jesus, voltava muito tarde para o seu colégio da Baía, depois de ter assistido a um moribundo, ouviu choros e gemidos que saiam do fundo de um tanque, junto do qual passava; aquelas vozes, que pareciam humanas, assustaram o seu companheiro, que começou a tremer, sentindo-se cobrir de um suor frio. Mas ele, pegando-o pela mão, levou-o à borda do tanque para ver o que era, e quanto mais se aproximava da água, mais se convencia de que eram as almas do purgatório, que assim gemiam. Então cheio de espanto e compaixão exclamou: Aeterne Deus, quam magna est potentia tua! (Eterno Deus, quão grande é a vosso poder). E, ajoelhando com fé, rezou cinco P. N. e cinco A. M. em honra das cinco chagas de nosso Senhor Jesus Cristo, para obter o repouso daquelas almas. Foi ouvida a sua oração, porque aquelas lamentáveis queixas cessaram de repente. Quantas vezes também fazem as almas do purgatório chegar as suas vozes aos nossos ouvidos, quer pela voz dos ministros da religião, quer pelos benefícios ou castigos, que caem sobre nós, quer pelos remorsos da consciência ou pelas inspirações das graças, que nos é impossível deixar de notar. Mas com tudo isto sentimo-nos acaso mais inclinados a socorrê-las prontamente? Se o não fizemos no passado, que ao menos o pratiquemos no futuro e formemos a resolução de nunca esquecermos os fiéis defuntos. (P. Seb. Perdanels, in vita P. Jos. Anch. 2 e 3).

SUFRÁGIO

Ao vermos sepulturas, recordemo-nos dos defuntos, e roguemos pelo repouso eterno de suas almas.

***

Um bom religioso, que costumava fazer alguma oração, sempre que lhe acontecia passar por um cemitério, passou um dia por diante de um destes lugares sagrados sem mesmo dar fé disto, tão absorto ia em outros pensamentos. Permitiu Deus que os defuntos, nele enterrados, saíssem de seus tú­mulos, repetindo este verso do rei-profeta: Et non dixerunt qui praeteribant: benedictio Domini super vos! (E os que passavam, não disseram: que a benção do Senhor desça sobre vós). Deteve-se o monge ao ver tal espetáculo, e lastimando o seu esquecimento, continuou o mesmo versículo do salmo: Benedicimus vobis in nomine Domini. (Nós vos abençoamos em nome do Senhor). Como que satisfeitas de terem recebido a benção, desapareceram então as almas, depois de se terem inclinado ante o religioso, que desde então, mais que nunca, continuou a sua prática. Adotemo-la também, formemos a resolução de fazermos alguma oração sempre que passarmos pelos cemitérios, ou lugares de sepulturas.

Nunca faltemos nisto, afim de não nos tornarmos culpados de negligência ou esquecimento. (P. Philip. Doutrcman in Paed. Christ., tom. I, part. II, cap. 19).

O Anjo Consolador – Piedosos exercícios, Leituras e Orações Dedicadas a Veneração das almas do Purgatório, compiladas por E. Da S. V. Redentorista, 1939.

Este texto foi útil para você? Compartilhe!

Deixe um comentário