A Paixão do Senhor: Jesus encontra sua Mãe

Como as opiniões estavam divididas, alguns estavam envergonhados e outros se alegravam; muitos insultavam pelas janelas e ruas ao passar Jesus. Muitos tempo antes o profeta havia dito: Falam de mim os que se assentam às portas da cidade, escarnecem-me os que bebem vinhos (SI 68, 13).

O peso da cruz era enorme, somente se podia arrastá-la. Com as costas totalmente chagadas, a cada tropeção pelo terreno irregular, abriam-se mais as feridas. Os soldados estavam com pressa, temiam alguma revolta popular; puxavam a corda amarrada ao pescoço e empurravam com força, por isso o Senhor caiu ao solo com a cruz por cima.(16)

A Santíssima Virgem procurou um lugar para poder avistar Jesus passar. Apesar de toda agonia desejou vê­-lo. Deus fornecia fortaleza para suportar tudo, mas não minimizou a dor do apaixonado encontro. Angustiada não pode dirigir nenhuma palavra, pela pressa que o empurravam, o Senhor também nada pode dizer. A Virgem Maria seguiu o cortejo do pretório até o Calvário, presenciou tudo no meio do aperto de pessoas e escutou todas as ofensas e mentiras. Virgem bendita entre todas as mulheres, que sofreu mais do que todas as mães! Por que foi às ruas se misturar com aquele povo cruel e alucinado? Por que aumentar a dor indo a o seu encontro? Por amor ao Filho, é verdade; queria consolá-lo e acompanhá-lo até a morte! Até a própria morte.

Não se importou em arriscar ser insultada, pois desejava ver a obra de Deus, presenciar o começo da salvação da humanidade, que haveria de recordar pelo resto da vida com amor e admiração. Todos abandonavam Deus, exceto a Mãe; todos o odiavam, menos a Mãe que entendia e o amava mais que ninguém.

A Virgem Maria chorava, a dor era imensa no coração. Sentimos compaixão diante das cenas de morte e nos falta força, muitas vezes, até para olhar; deste modo, podemos imaginar como seria a dor da Virgem Maria que olhava para o Filho todo desfigurado e ensanguentado. Maria e Jesus trocam olhares. Os olhares se encontram e cada um fica com o coração mais apertado; ao mesmo tempo, se alegram e se consolam pela fidelidade compartilhada; não se falam, porque para os enamorados não são necessárias palavras, os corações se entendem. Os olhos de Maria diziam tudo e os olhos penetrantes e cheios de lágrimas do Filho correspondiam.

Nossa Mãe ficou espantada pela forma indigna que o Filho de Deus era tratado: Jesus merecedor de todos os louvores era menosprezado e insultado. Mesmo assim, agradeceu o Filho pela maneira tão custosa que redimia os homens. O Senhor também viu como a Virgem aceitava todo sofrimento, contrário a natureza de uma mãe.

O Senhor rodeado de inimigos, como se fossem touros numerosos e leões famintos, sem ninguém para ajudá-lo, consolou-se ao ver sua Mãe, que reconhecia e estimava o que estava fazendo e agradecia com amor.

A Mãe conhecia o amor que ardia no peito de Jesus por Deus e pelos homens; a vontade que se submetia em obedecer ao Pai; o esforço em sacrificar-se pelos homens; a alegria em salvá-los e dar-lhes a vida eterna; renovar o mundo com sua graça. A Virgem Maria conhecia com toda clareza a obra do Filho, e sem poder conter-se, correu com Ele para o Calvário, para estar presente no sacrifício do Sumo e Eterno Sacerdote que traria novamente amizade entre Deus e os homens.

Caminhava o Senhor com o corpo inclinado pelo peso da cruz, com os olhos inchados pelas lágrimas e sangue; os passos eram lentos e difíceis por causa da debilidade física, os joelhos tremiam, quase se arrastava ao lado dos dois companheiros de suplício. Os judeus riam, os verdugos e soldados empurravam, mas algumas mulheres choravam por Jesus.

A Paixão do Senhor, Luis de La Palma, 1624.

(16) Segundo a Tradição, Jesus caiu três vezes.

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