Hereges e Heresias: As reformas da “Reforma”

ZWÍNGLIO

O movimento revolucionário dos protestantes fez terrível propaganda e foi imitado não tanto por motivos religiosos que por parte não se podem negar em Lutero, porém ainda mais por motivos egoístas de sensualidade ou ressentimento. Primeiro na Suíça por Zwínglio. Este, era de família muito religiosa, pois teve dois tios e dois irmãos sacerdotes, e duas irmãs religiosas. Tinha nascido em 1484 e tornou-se padre. Em 1518, por ocasião de uma romaria aos santuários de Aachen chegou a conhecer os escritos de Lutero. Mais por causa de uma vida não sem graves manchas, tornou-se anticatólico, declarou-se contra o valor do jejum e o celibato sacerdotal. Em 1524 casou-se com uma viúva com a qual já tinha tido relações ilícitas. No ano seguinte, conseguiu a adesão do magistrado de Zurique, e instituiu um governo de pseudo-teocracia bem tirânica. De modo semelhante Ecolampádio trabalhou em Basileia. Zwínglio trabalhava também muito por uma aliança dos protestantes e da França contra o imperador católico. A Suíça mesma ficou dividida em dois partidos dos cantões católicos e protestantes. Em 11 de Outubro de 1531 as inimizades explodiram numa batalha, em que os protestantes ficaram vencidos e Zwínglio mesmo morreu nela.

Em oposição a Lutero, para Zwínglio a Eucaristia é só o símbolo de Cristo que realmente não se torna presente debaixo das espécies; nem há outros meios de salvação além da Fé; batismo e Eucaristia só servem para exteriorizar o ato de Fé.

CALVINO

Este protestantismo reformado tornou-se uma força internacional pelos escritos e pela agitação de Calvino. Nasceu este em 1509 na Picardia da França. Seu pai morreu excomungado e não reconciliado com a Igreja católica. Isso criou em Calvino um forte ressentimento contra a Igreja o que o levou a tornar-se protestante. Era homem de grande acuidade de espírito, de aplicação incansável, de moralidade rigorosa e vontade tenaz. nas viagens de propaganda das suas ideias chegou a Basileia, onde escreveu a sua obra fundamental: daí foi em 1536 a Genebra, onde pretendeu ficar um só dia. Já havia lá um grupo de protestantes, mas sem importância alguma. Farel, seu chefe, insistiu muito em que Calvino ficasse e inspirasse nova vida ao movimento protestante: até o ameaçou com a maldição divina se não se dedicasse a tal obra. Calvino julgou ver nisso a vontade de Deus e obedeceu. Da mesma forma como ele foi ganho, tentou infligir aos outros temor e medo e exigir deles absoluta obediência. Deu à cidade de Genebra uma nova lei que expressava uma moralidade rigorosíssima. Por isso, se viu constrangido a ir a Estrasburgo. Lá casou-se com uma viúva. (Como a história de Lutero, Zwínglio, e Calvino prova, ninguém é capaz de ficar na altura de uma vida santamente celibatária, quando se separa da Igreja e das fontes de graça e vida sobrenatural). Em 1541 o povo de Genebra chamou de novo a Calvino e o recebeu com todas as honras. Então se realizou uma teocracia de rigorismo extremo e dureza excessiva. Toda a vida cotidiana ficou regulamentada e até fiscalizada pelos membros de um Consistório, que tinham até direito e ofício de penetrar, a qualquer instante nos lares e nas famílias para castigar qualquer abuso. havia penas gravíssimas para todas as faltas: nem a de morte faltou, em muitos casos. Desta forma a vida pública da cidade mudou-se completamente, e mostrou a nota de uma moralidade forçada e sombria.

Calvino trabalhou também para o progresso econômico da população, o que o fez mais tolerável ao povo. Era de grande atividade: pregou não só todos os domingos, mas também de 15 em 15 dias, durante toda uma semana; tomou parte em todas as reuniões de alguma importância; estava em contato com os reformadores da França, Inglaterra e Escócia. Por causa do trabalho excessivo morreu já no ano de 1564, e não se pode negar, muito estimado pelo povo.

A ideia principal da sua doutrina é a majestade e o poder infinito de Deus que opera em tudo e a quem todos se têm de submeter e obedecer incondicionalmente. tal ideia, em si verdadeira, foi exagerada: Deus faz tudo e o homem nada por própria responsabilidade; por conseguinte também o pecado é de Deus; há absoluta predestinação: Deus salva e faz operar o bem aos que ele quer, e também da mesma forma, condena e faz pecar aos que ele quer, desde a eternidade. E o homem não tem jeito nem meios de escapar a tal destino predeterminado. A vida conforme a religião de Cristo propriamente não é meritória nem nos merece a gloria eterna, é simplesmente prova e sinal de que alguém está predestinado para a vida eterna. Não há, portanto, liberdade de vontade a respeito da vida interior. A única fonte da Fé é a Bíblia, os únicos sacramentos Batismo e Eucaristia; mas nesta, Jesus Cristo não está presente com a sua natureza, mas só com o seu poder de agir. A missa por conseguinte não é um sacrifício.

O sistema político de Calvino era republicano. mas revela o espírito agressivo tanto na política como na vida econômica. o capitalismo foi muito favorecido pelo ideal religioso de Calvino, pois tudo deve servir a Deus, e a prosperidade nos negócios é até prova de predestinação. Este foi o espírito que inspirou e modelou a vida pública na Inglaterra e nos Estados Unidos. Também para a vida civil a Bíblica é lei; a igreja de Cristo é em si a comunidade invisível dos predestinados para a vida eterna, mas em contradição a isso admite-se na doutrina calvinista uma autoridade visível que regulamente toda vida dos homens, e a obriga ao menos a uma moralidade externa, o que foi a fonte e a causa da moralidade burguesa que tem a aparência de vida moral sem sinceridade interna, e fomenta em alto grau a hipocrisia.

Hereges e Heresias, Frei Mariano Diexhans O.F.M., 1ª Edição, 1946.

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