Invenção da Santa Cruz

No intuito de destruir por completo os vestígios da Sagrada Paixão e Morte de Nosso Senhor em Jerusalém, os pagãos erigiram no monte Calvário um templo de Vênus e uma estátua de Júpiter. O santo sepulcro foi de tal maneira coberto de pedra e terra, que não só se tornou impossível o acesso, mas devia cair em esquecimento seu lugar. Assim aconteceu. Quando pelo advento de Constantino, no século quatro, o paganismo oficial recebeu o golpe de morte, reviveu entre os católicos o desejo de verem os santos lugares restituídos à veneração pública. Santa Helena, a mãe do imperador, apesar dos seus oitenta anos, empreendeu uma viagem a Jerusalém com o propósito de envidar todos os esforços para descobrir o paradeiro do santo lenho. os templos e estátuas pagãs ruíram por terra. Depois de longas e sérias pesquisas foram iniciadas as obras do desaterro dos santos lugares, principalmente do santo sepulcro. os trabalhos foram coroados de bom êxito. O santo sepulcro foi descoberto e nele se acharam três cruzes, das quais não restava dúvida de ser uma o verdadeiro lenho. Difícil senão impossível era, porém, discriminá-lo, visto que os cravos e o título da cruz de Nosso Senhor se achavam separados.

Neste embaraço valeu muito o conselho de São Macário, Bispo de Jerusalém, de as três cruzes serem levadas á residência de uma matrona doente à morte. Assim se fez e cada uma das cruzes foi imposta à doente, á qual pelo contato com o verdadeiro lenho imediatamente recuperou a saúde. Grande foi a alegria dos cristãos em presença deste grande milagre. Santa Helena determinou a construção de um templo sobre o santo sepulcro. Uma parte do santo lenho foi transportada para Constantinopla, onde o imperador a recebeu com grande veneração e respeito. Outra parte foi mandada para Roma e depositada num templo que traz o nome de Santa Cruz de Jerusalém. Para lá seguiu também o título com os dizeres: “Jesus Nazarenus, Rex Judaeorum”. Esta relíquia caiu em esquecimento até que no ano de 1492 foi descoberta dentro de uma caixa de chumbo. A inscrição é feita em língua hebraica, grega e latina. A tábua é de cor branca e as letras feitas com tinta vermelha. O estado em que se acha esta preciosa relíquia, apresenta só as palavras Nazarenus e Rex, sendo as outras apagadas. A terceira parte do santo lenho foi confiada ao Bispo São Macário que a depositou na nova igreja, que Santa Helena mandara construir. Desde então começou o movimento extraordinário das peregrinações aos santos lugares.

São Cirilo, que depois da invenção da santa Cruz foi Bispo de Jerusalém pelo espaço de 25 anos, afirma que apesar de terem sido cortadas milhares de partículas do santo lenho, nenhum diminuição nele se verificava, comparando ele este fato extraordinário com o milagre da multiplicação dos pães entre 5000 homens.

A igreja em Jerusalém, que antigamente guardava a preciosa relíquia, é hoje chamada igreja do santo sepulcro ou da ascensão devido à circunstância de a capela ereta sobre o verdadeiro santo sepulcro ter uma comunicação com a grande igreja construída sobre o monte Calvário.

Aos 12 de Outubro de 1807 a maior parte da igreja foi destruída por incêndio. a capela do santo sepulcro queimou igualmente. O santo sepulcro, porém, defendido por uma porta de madeira, que se conservou no meio das chamas, ficou intacto, apesar da cúpula em chamas ter caído sobre ela.

Das cinzas surgiu novo templo, cuja suntuosidade e riqueza não se comparam com a da primitiva igreja.

A festa da invenção da santa Cruz é antiquíssima na igreja latina, data do século quinto ou sexto.

REFLEXÕES

1. Santa helena procurou e achou o santo lenho. Muitos Santos procuraram a Cruz de Nosso Senhor e em preces ardentes pediram a Deus que os fizesse participantes da Sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo. Se de tão alta virtude não nos sentimos capazes, pelo menos aceitemos a cruz que Deus em sua bondade nos impõe e a levemos com paciência e resignação. “Quem não tomar sua cruz sobre si e não me seguir, diz Nosso Senhor, não é digno de mim” (Math. 10). “Quem quer vir após mim, abnegue-se a si, tome sua cruz de cada dia e siga-me” (Luc. 9). É esta a lei que foi dada a todos: levar a cruz com paciência. Quem não se conformar com isto, nunca terá paz de sua alma. Não é necessário possuirmos uma partícula do santo lenho, mas necessário é e indispensável que sigamos Nosso Senhor no seu caminho da cruz.

2. Os judeus, os pagãos e hereges tem horror à cruz e a odeiam. O católico deve ama-la e lhe dar todo o respeito. A cruz é objeto da nossa veneração, por que nela morreu Aquele que nos deu a vida. É costume antiquíssimo dos católicos persignarem-se com a Cruz. É uma homenagem que fazemos a Nosso Senhor, e uma defesa contra os inimigos. Persignemo-nos muitas vezes, principalmente de manhã ao levantar, de noite ao deitar, antes e depois das refeições, antes e depois do trabalho, nas tentações e nos perigos.

Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume I, 1928.

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