MÊS DAS ALMAS DO PURGATÓRIO
DÉCIMO NONO DIA
Deus deseja que façamos muitas obras boas pelas almas do purgatório
MEDITAÇÃO
I. Foram as almas do purgatório, em vida, obedientes à lei de Deus, pelo que o Senhor as ama com ternura, porque foram também justas em seus amores e vitoriosas de seus inimigos. Deseja Ele ardentemente vê-las perto de si, e tem-lhes preparadas no céu gloriosas coroas.
II. Mas deve tratá-las temporariamente quase como inimigas e puni-las com inflexível rigor. Assim, dividido entre os direitos da justiça e os ternos impulsos da sua misericórdia, volve alternativamente as suas vistas para as suas queridas almas, e para nós, que podemos libertá-las; e, ao passo que a sua eterna lei exige que se mostre irritado para com elas, o seu coração, cheio de amor e misericórdia, se dirige a nós; rejeita-as, insta conosco, e nos solicita, chega até a suplicar-nos que façamos cessar tal luta, que lhe façamos uma doce violência, que retenhamos a sua mão, armada para punir, que lhe arranquemos a vara, com que castiga as almas que ama. E poderemos esquivar-nos ao que Deus nos pede?
III. Que alegria não experimentou Abraão, quando, obrigado a sacrificar seu filho Isaac, sentiu um anjo suster-lhe a mão! Quanto não se julgou Saul feliz, quando o seu povo, opondo-se à sua vontade, o impediu de mandar matar o valoroso Jônatas! Mais agradáveis seremos ainda a Deus, se, opondo-nos piedosamente à sua justiça, que pune as almas do purgatório, as subtrairmos aos castigos, com que as aflige! Mas também quanto ferimos o seu Coração, mostrando-nos surdos ao seu desejo e insensíveis às cruéis penas de suas filhas queridas! Ninguém, diz ele gemendo inconsolável, pela boca do profeta, ninguém se opõe à minha cólera, nem aplaca o furor da minha justiça. Poderemos acaso ouvir essas expressões do Senhor, e não fazer coisa alguma em socorro daquelas almas que sofrem no purgatório?
IV. Saiamos, cristãos, da nossa indiferença; unamo-nos à misericórdia do nosso celeste Soberano, e façamos todo o possível da nossa parte para consolar o seu Coração, aliviando suas caras filhas. É Ele que se propõe como mediador, é Ele que intercede por elas! Nós, que tantas vezes somos obrigados a prostrarmo-nos a seus pés para obter as suas graças, ousaríamos deixar de fazer hoje o que Ele nos pede? Ah! que não aconteça tal! e, pela abundância dos nossos sufrágios em favor dos defuntos, empenhemos a sua bondade de tal sorte, que não só no futuro Ele nos não possa recusar seus benefícios, mas que os redobre e multiplique como fazia a Jó, que lhe pedia pelos seus amigos.
SÚPLICA
A vossa voz, Senhor, fala com muita autoridade, os vossos desejos são uma lei sacratíssima para nós, e já que nos pedis que livremos pelos nossos sufrágios as almas do purgatório, e as enviemos ao vosso seio, estamos prontos a fazer tudo para corresponder aos votos do vosso Coração de pai. De hoje em diante nada queremos desprezar, e, se vêdes, Senhor, que a nossa caridade afrouxa, dignai-vos de reacendê-la pela vossa graça, afim de que possamos conseguir quebrar aquelas cadeias de fogo, e procurar pelos nossos sufrágios a eterna felicidade às vossas queridas filhas, as almas do purgatório.
EXEMPLO
No dia da comemoração dos defuntos, querendo D. Bernardino de Mendoza dar um testemunho de sua generosa compaixão pelo purgatório, doou a santa Teresa uma casa com jardim, que possuiu junto a Valladolid, para nela estabelecer um mosteiro em honra da santíssima Virgem Maria. Mas a santa, ocupada em fundar outras casas religiosas, diferiu a execução daquele piedoso desejo, e nesse intervalo caiu D. Bernard mortalmente enfermo, sucumbindo em poucos momentos. Ficou santa Teresa extremamente aflita e recomendou-o com toda a instância ao Senhor, que se dignou de revelar-lhe que o generoso senhor não estava no inferno, mas sim no purgatório, donde não sairia senão no dia em que se celebrasse no mosteiro novo a primeira Missa. Apressou-se a santa em partir para Valladolid, afim de começar a obra, mas, detida em Ávila por negócios de grande importância, viu aparecer de novo o Senhor, que lhe ordenou o desembaraçar-se de qualquer negócio e apressar-se em executar a piedosa intenção do doador afim de livrá-lo das chamas do purgatório. Enviou imediatamente a santa a Valladolid o P. Júlio de Ávila para preparar a nova fundação, e, pouco depois, foi ela também e fez começar os trabalhos; mas, como as vastas proporções do edifício pediam muito tempo, fez edificar uma capelinha provisória para o uso das irmãs que levara. Todavia lastimava não poder acabar prontamente a igreja grande, temendo que até então estivesse detida no purgatório a alma de D. Bernardino de Mendoza. Mas qual não foi seu júbilo quando, à primeira Missa, que se disse na capela, foi arrebatada em êxtase e o viu subir ao céu. Regozijou-se com a ventura dele, agradeceu ao Senhor a solicitude com que se apressava em livrá-lo, e tornou-se muito mais devota das almas do purgatório, quando soube o interesse que o Senhor tem por elas. Imitemos Santa Teresa, imitemos o próprio Deus, e procuremos, como a virgem seráfica, corresponder o melhor que pudermos às intenções da bondade divina, que deseja ver chegarem brevemente as almas do purgatório à felicidade. (P. Franc. Ribera, in vita S. Theresiae, lib. II, cap. 10).
SUFRÁGIO
É útil e conveniente consagrar ao menos um dia por mês ao alívio das almas do purgatório.
***
Sabendo quanto é agradável trabalhar para o livramento das almas do purgatório. o P. .João Fabrício, da Companhia de Jesus, chegou à força de súplicas e solicitações o obter dos superiores do colégio de Munster, que fizessem celebrar na sua igreja, em um dia de cada mês, um oficio solene pelos defuntos, com Missas de Requiem e outros piedosos sufrágios. Se nem todos podem imitar o esplendor de tal devoção, ao menos todos podemos destinar um dia do mês, para boas obras, tais como: fazer mais orações, ouvir Missa com mais devoção, praticar qualquer mortificação de corpo ou de espírito, aproximar-nos dos sacramentos, ganhar indulgências, aplicar, em uma palavra, todo o dia ao alívio dos fiéis defuntos. Formemos, pois, hoje a resolução de consagrar um dia por mês a esta intenção. (P. Philip. Alegampe, heroes et vict. charit. soc. Jesu., anno 1856 in Rheno inf.).
O Anjo Consolador – Piedosos exercícios, Leituras e Orações Dedicadas a Veneração das almas do Purgatório, compiladas por E. Da S. V. Redentorista, 1939.
Última atualização do artigo em 25 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico