Precedentemente provamos que Maria é nossa Mãe e dissemos também que mais além teríamos as conseqüências que provém deste título. Chegou o momento de perscrutar todas as riquezas e consolações deste suave título que damos a Maria: Maria é “nossa Mãe”.
“Ser mãe” é não somente ter dado a vida a alguém, mas também é amá-lo com este amor terno e apaixonado que não conhece espaço nem tempo, e que não se deixa jamais abater… Ele espera e perdoa sempre… Eis a mãe, e eis também Maria!…
Maria nos ama, porque é Mãe de Deus. Mas Ela nos ama também porque é nossa Mãe, e conserva sempre o Seu coração de mãe, mesmo para os culpados. Uma mãe não deixa de esperar a volta de seu filho enquanto este filho vive. Chorará ela os desvarios deste ser querido, permanecerá desconsolada, mas sem fechar o seu coração e sem desesperar jamais. “Ele vive, diz consigo a mãe, e pode ainda voltar: um dia ele virá lançar-se nos braços de sua mãe e então será completo o nosso amor!”
Como o pai do filho pródigo, ela jamais fecha o coração, e não se importa com a hora tardia da volta, seja qual for o estado em que o pecado deixar o filho pródigo, pois a mãe conserva sempre para o culpado um sorriso de ternura e uma palavra de perdão. Uma mãe não se cansa de empenhar-se junto ao seu filho, culpado, nada poupando para reconduzi-lo: exorta, repreende, ameaça e pune mesmo com pesar.
Seu coração descobre indústrias que se não encontra senão em um coração de mãe, e, quando tudo está esgotado, recorre à sua última arma, e mais eficaz de todas: – as lágrimas.
Ó Maria, quantas vezes tenho eu resistido à Vossa ação, a todos os esforços de Vosso amor e talvez às Vossas próprias lágrimas. E como um dia em La Salette Ela me apareceu sentada, tendo a cabeça entre as mãos, olhar velado e em Sua imensa desolação redizendo a palavra que ouviram os pequenos pastores do Definado: “Não posso mais sustentar o braço de Meu Filho, Ele está demais pesado”.
Demais pesado: por meus pecados, por minhas ingratidões e minhas resistências culpadas.
Ó Maria, intercedei ainda! Sustentai o braço de Jesus… eu volto, eu me entrego! Reconduzi-me à força, se preciso for! Fazei que longe de Jesus e de Vós eu encontre tantas amarguras, tantas decepções, tantos aborrecimentos, tanto abandono, que não goze mais paz e felicidade senão junto a Vós.
Uma mãe não se cansa nunca de se empenhar junto àqueles que lhe podem reconduzir o seu filho. Deus é aquele que reconduzir a alma culpada, e Maria, que tanto se aproxima de Deus, suplica-Lhe sem cessar que não se impaciente, que não castigue logo, que nos dê a graça do arrependimento. Pobre alma pecadora, no momento em que quiseste cometer o pecado, que contra ti deveria excitar a cólera de Deus, Maria estava junto à Cruz e dizia a Jesus, com lágrimas: “Meu Filho, perdoai-lhe, ela não sabe o que faz!”
E o Salvador te perdoou em consideração à Sua Mãe. Tornaste a participar de Sua amizade, de Sua intimidade, e hoje podes ser amiga do Coração de Jesus. E quando um filho dócil permanece sempre ao lado de sua mãe, de certo modo vive sob suas asas e perto de seu coração, quem poderá dizer as relações de intimidade que se estabelecem entre o coração da mãe e o coração do filho?
Tanto na calma do silêncio como pelas palavras se estabelece entre eles a misteriosa comunicação de pensamentos e sentimentos. Um gesto, um olhar, um sorriso é uma ordem que o amor sente, interpreta e executa. É a vida de dois seres em um só coração, ou, mais exatamente, a vida de dois corações em uma só alma. E tal se dá em nossas relações com Maria. Elas constituem como que uma vida nova que os autores espirituais tão justamente chamaram: “a vida de união com Maria”.
E quem poderá dizer tudo o que esta vida contém de consolador, eficaz e heróico?
Viver unido a Maria, ter continuamente o olhar virginal fixo sobre nós, cercar-se desta atmosfera de modéstia, de bondade, de prece que emana da Virgem como emanam do sol a luz e calor, que vida, que plenitude de vida!…
A vida, por vezes, parece dura. Dores inconsoláveis, lutos irreparáveis encerram uma existência em um como sudário fúnebre que fecha o coração a todas as alegres expansões, isola a alma de todas as alegres expansões, isola a alma de todos os festins da felicidade.
É que no meio da peregrinação da vida falta um coração, um olhar, um sorriso de mãe.
Oh! como Deus conhecia o coração do homem, quando, com a Sua palavra toda amante, dizia à humanidade desconsolada, na pessoa do discípulo amado: “Eis a vossa mãe!”. Uma mãe! É necessário uma mãe!
Ó meu Deus, dai a todos uma mãe, e quando desaparecer desta terra aquela que nos deu a vida, fazei que lá no céu os nossos olhares encontrem, com mais amor ainda, aquela que nos deu a vida sobrenatural e que tanto mais é nossa mãe, quanto mais urgente forem as nossas necessidades e mais profundas as nossas dores.
Se soubéssemos viver essa vida de intimidade com nossa celestial mãe, como vive aqui na terra a criancinha com a sua mãe, como seria mais intensa e mais sólida a nossa vida espiritual e mais rápido e fácil o nosso progresso!
Entre estes íntimos do coração de Maria devem-se colocar em primeira linha as almas religiosas, que são as amigas da Virgem, Suas amigas de coração. “Nosso Senhor dizia aos Seus apóstolos: Não vos chamarei mais servos, mas meus amigos; e um dos santos padres, arrebatado de admiração, ao ler esta palavra, exclama: ‘Pode-se imaginar algo de mais glorioso e mais sublime do que ser chamado e ser em verdade amigo de Jesus Cristo?…”
Eis que a compassiva Mãe do Salvador Se digna também chamar-nos Seus amigos, a nós, sobretudo, que vivemos na intimidade de Jesus e consagramos toda a nossa vida ao Seu santo serviço. Ela procede para nós como a mais delicada, a mais fiel, a mais terna das amigas.
Assistência, consolações, socorros, atenções delicadas, previdências afetuosoas, indulgência sempre segura, mesmo após nossas ingratidões perpétuas, liberalidade, quando correspondemos à Sua doce amizade; e tudo isso Ela nos dá, como prova de ternura, e isto é um inestimável tesouro.
Ó Maria! quem seria capaz de conhecer os recursos incomparáveis que Vosso coração reserva às almas consagradas ao Vosso Filho? Jamais deixareis de ser-Lhes companheira assídua durante toda a vida.
Vós as sustentais, se estão acabrunhadas pela fadiga; se elas se extraviam, Vós as guiais; Vós as consolais, se elas estão na tristeza; Vós as fortificais, se estão abatidas; Vós as defendeis, se são acusadas.
Não há sequer um só benefício cujo princípio é a amizade, que não recebêssemos de Vós com uma bondade, graça e constância que a amizade mais santa jamais conhecerá entre os homens. (R.P.Girand: Vida de união com Maria)
Como, pois permaceremos nós insensíveis à lembrança de tantas ternuras?
O amor exige o amor, o coração chama o coração…
Seja, pois, o nosso coração todo de Maria! Sejamos os Seus filhos dóceis, generosos; sejamos sobretudo os Seus íntimos; sejamos os amigos de Seu coração; vivamos da vida de união com esta Mãe admirável.
Excertos do livro “Porque Amo Maria” – Tratado substancial e completo dos principais motivos de devoção para com a Virgem Maria segundo os Santos Padres, os Doutores e os Santos pelo Pe. Júlio Maria, missionário de Nossa Senhora do SS. Sacramento, 1945.
Última atualização do artigo em 5 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico