Ó Senhor, que o Vosso reino venha a toda a terra e ao meu coração.
1 – Entre os textos da Missa de hoje sobressai a parábola do grão de mostarda, tão breve mas tão rica de significado: “O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo; é a mais peque adas sementes, mas depois de ter crescido, a maior de todas as hortaliças e faz-se árvore de sorte que as aves do céu vêm repousar sob os seus ramos” (Mt. 13, 31-32). Nada de mais pequeno e de mais humilde que o “reino dos céus”, isto é, a Igreja nas suas origens; Jesus, sua Cabeça e seu Fundador, nasce numa gruta de animais, vive durante trinta anos na oficina de um carpinteiro; e, apenas por três anos, desenvolve a Sua atividade no meio de gente humilde, pregando uma doutrina tão simples que todos, mesmo os ignorantes, podem entender. Quando Jesus deixou a terra, a Igreja era constituída por um exíguo grupo de doze homens, reunidos à volta de uma humilde mulher, Maria; mas este primeiro núcleo tem uma força tão vital e poderosa, que em poucos anos se difunde por todos os povos do vasto império romano. Progressivamente, através dos séculos, a Igreja, de minúsculo grão de mostarda semeado no coração de uma Virgem-Mãe e de uns pobres pescadores, transforma-se em árvore gigantesca que estende os seus ramos por todas as regiões do globo e a cuja sombra se acolhem gentes de todas as línguas e de todas as nações.
A Igreja não é só uma sociedade de homens, mas de homens que têm Jesus, o Filho de Deus, por Cabeça; a Igreja é o Cristo total, quer dizer, Jesus e os fiéis incorporados nEle e formando com Ele um só corpo; a Igreja é o Corpo místico de Cristo de que cada batizado é um membro. Amar a Igreja é amar Jesus; trabalhar pela difusão da Igreja é trabalhar pelo incremento do Corpo místico de Cristo, a fim de que seja completo o número dos seus membros e que cada membro coopere para o seu esplendor. A breve invocação: “adveniat regnum tuum” tudo isto resume e solicita do Pai celeste.
Será pouco o que podemos fazer pela difusão da Igreja? Façamo-lo ao menos com todo o coração, cooperemos também nós com o nosso pobre trabalho, verdadeiro grão de mostarda, para o desenvolvimento desta maravilhosa árvore na qual todos os homens devem encontrar salvação e repouso.
2 – A parábola do grão de mostarda leva-nos a pensar não só na expansão do reino de Deus no mundo, mas também no seu desenvolvimento no nosso coração. Porventura não disse Jesus: “O reino de Deus está dentro de vós”? (Lc. 17, 21). também em nós este reino maravilhoso teve o seu início numa pequeníssima semente, a semente da graça: graça santificante que de um modo oculto e misterioso Deus semeou em nós no santo Batismo; graça atual das boas inspirações e da palavra divina – “semen este verbum Dei” (Lc. 8, 11) – qe Jesus, Semeador celeste, espalhou às mãos cheias nas nossas almas. Pouco a pouco esta pequena semente germinou, lançou raízes cada vez mais profundas, e cresceu penetrando progressivamente em todo o nosso espírito, até que, tendo-nos conquistado inteiramente para Deus, sentimos a necessidade de exclamar: Senhor, tudo quanto tenho e sou, é Vosso; dou-me todo a Vós; quer ser Vosso reino. Ser totalmente reino de Deus, de modo que Ele seja o único Soberano e Dominador do nosso coração e nada exista em nós que não Lhe pertença ou não esteja sujeito ao Seu império, é o ideal da alma que ama a Deus com um amor total. Mas como conseguir o pleno desenvolvimento deste reino de Deus em nós? A segunda parábola que lemos no Evangelho de hoje dá-nos a resposta: “O reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até que o todo fica fermentado”. Eis uma outra imagem belíssima do trabalho que a graça realiza na nossa alma: a graça foi posta em nós com um fermento que crescerá pouco a pouco até impregnar toda a nossa personalidade divinizando-a inteiramente. A graça, fermento divino, foi-nos dada para sarar, elevar, santificar o nosso ser com todas as suas potências e faculdades; só quando tiver completado este trabalho, seremos totalmente reino de Deus.
Reflitamos uma vez mais sobre o grande problema da nossa correspondência à graça. Esta semente divina, este fermento sobrenatural está em nós; quem o poderá impedir de se tornar uma árvore gigantesca, capaz de abrigar outras almas? Quem o poderá impedir de levedar toda a massa, se removermos todos os obstáculos que se opõem ao seu desenvolvimento e secundarmos os seus impulsos e exigências?
“Adveniat regnum tuum!” Sim, peçamos a vinda total do reino de Deus também aos nossos corações.
Colóquio – “Senhor meu Deus que me criastes à Vossa imagem e semelhança, concedei-me esta graça, que declarastes ser tão grande e necessária à salvação; com ela vencerei a minha péssima natureza, que me arrasta para o pecado e para a perdição. É que sinto na minha carne a lei do pecado, que luta contra a lei do espírito, e que me arrasta, como escravo, a obedecer à sensualidade, em muitas coisas; e não posso resistir às paixões, se não me assistir a Vossa graça santíssima, infundindo os seus ardores no meu coração.
“Ah! Senhor, sem a graça nada me é impossível; mas tudo posso em Vós, se me amparar a Vossa graça.
“Ó graça verdadeiramente celestial, sem a qual os merecimentos próprios e os dons da natureza não valem nada! Ó graça beatíssima, que enriqueces de virtudes o pobre de espírito, e que fazes nascer a humildade no coração do rico! Vem, desce até mim, enche-me desde a aurora com as tuas consolações, para que a minha alma, esgotada de cansaço e aridez, não desfaleça.
“Senhor, julgai-me digno da Vossa graça: basta-me ela, embora me falte tudo o mais que a natureza deseja. Se for tentado e vexado com repetidas tribulações, não temerei nenhum mal, enquanto a Vossa graça me assistir. Ela é a minha força, o meu conselho e o meu auxílio. É mais poderosa do que todos os inimigos, e mais sábia do que todos os sábios.
“Senhor, previna-me e acompanhe-me sempre a Vossa graça, para que eu me aplique sem cessar à prática do bem por Jesus Cristo Vosso Filho. Assim seja” (Imit. III, 55).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.
Última atualização do artigo em 8 de março de 2025 por Arsenal Católico