Senhor, acendei em mim a chama do apostolado e alimentai-a com o Vosso amor.

1 – Assim como da semente não pode brotar o caule que há de produzir a nova espiga se primeiro não mergulha as suas raízes na terra, assim a alma não pode dar frutos no apostolado se primeiro não lança as raízes de uma vida interior séria, mediante a qual receberá de Deus a seixa que a fecundará. A vida interior é o princípio vital, é a força, é a chama do apostolado; por outra parte, o apostolado também pode contribuir para a vida interior, cooperando para a tornar mais generosa e mais intensa. Quando uma alma está apaixonada pelo ideal apostólico, o seu próprio desejo de conquistar outras almas para Deus leva-a a consagrar-se com maior generosidade à oração, à mortificação, ao exercício das virtudes, com o fim de se tornar mais capaz de um apostolado fecundo. Assim, enquanto a vida interior é a alma do apostolado, o apostolado é, por sua vez, uma mola poderosíssima para impelir a alma para a união com Deus, para a perfeição e para a santidade. O ideal apostólico é, por si mesmo, gerador de energias espirituais, de vida generosa e santa. Teresa de Jesus, movida por um ardente desejo de contrabalançar os grandes males que a heresia protestante fazia no seu tempo, deu à reforma iniciada por ela um timbre de particular austeridade e organizou a vida das suas filhas de modo a empenhá-las num constante exercício de oração, sacrifício e entrega pela salvação das almas (cfr. Cam. 1, 2). O sistema de vida do Carmelo teresiano – vida contemplativa de uma intensidade profunda – nasceu de um grande ideal apostólico.

Este mesmo ideal fez recentemente surgir na Igreja um novo estado de perfeição, o dos Institutos seculares, nos quais as almas desejosas de se consagrarem à salvação dos seus irmãos, se comprometerem a viver no mundo segundo a perfeição evangélica. “O fim específico [do apostolado] parece ter necessariamente exigido e até criado o fim genérico [da perfeição]” (Pio XII, Primo feliciter).

Um ideal apostólico vivo e bem compreendido, em vez de lançar as almas loucamente na ação, condu-las a uma vida interior mais profunda, à doação total de si, à santidade, porque é necessário santificar-se para santificar. “Por eles eu me santifico a mim mesmo” (Jo. 17, 19).

2 – Uma vida interior que não seja iluminada pelo ideal apostólico nunca poderá ser plena e vigorosa. Isto depende da natureza da graça e da caridade que são por si mesmas expansivas e apostólicas. Embora a graça se una duma forma íntima e incomunicável à alma que a possui, contudo é útil ao bem de toda a comunidade cristã. O dogma da comunhão dos santos diz-nos precisamente que a graça e a santidade de um membro de Cristo reverte em proveito de todos os outros membros. Do mesmo modo a caridade, companheira inseparável da graça, é expansiva por sua natureza e, abrangendo Deus, abrange todas as criaturas em Deus. Imprime na alma um duplo impulso: para Deus e para o próximo; se se reprime um destes impulsos, a caridade é atingida na sua essência. Esta virtude só se desenvolve e chega à maturidade quando estão em pleno vigor os seus dois aspectos: o amor de Deus e o amor do próximo; excluindo ou diminuindo a caridade fraterna, de que o apostolado é a expressão mais elevada, inevitavelmente diminui também o amor de Deus.

Uma vida interior fria, indiferente ao bem das almas, é necessariamente uma vida diminuída, limitada, reduzida a uma forma de piedade acanhada, mesquinha e muitas vezes até egoísta; perdeu o calor vital, o calor da caridade, e nem sequer merece o nome de vida.

Pelo contrário, onde a chama do apostolado é viva, goza-se de uma vida interior mais do que nunca vigorosa e capaz de grandes generosidades. Não é porventura verdade que o desejo da nossa perfeição não basta às vezes para nos infundir a coragem necessária para aceitarmos certos sacrifícios e renúncias que tanto custam à natureza? Mas quando se pensa que a salvação de outras almas pode depender da nossa generosidade, da nossa fidelidade à graça, da nossa imolação, não se pode recusar nada ao Senhor e encontra-se força para abraçar as coisas mais ásperas e penosas. Assim, o ideal apostólico torna-se uma alavanca poderosa para a santificação pessoal, e a alma, enriquecida por uma fervorosa vida interior, pode pôr à disposição deste ideal novas energias, nova fecundidade.

Colóquio – “Senhor, grandes são os meus desejos de Vos servir e vivíssima a minha pena por me ver incapaz de os realizar. Quisera levantar a voz para fazer compreender a todos como é importante não se contentarem com pouco no Vosso serviço e dar a conhecer os grandes tesouros que Vós nos concedeis quando nos dispomos a recebê-los.

“Tenho, Deus meu, grandíssima pena das muitas almas que se condenam, em especial daquelas que pelo batismo eram já membros da Igreja, e é tamanho o meu desejo de trabalhar pela sua salvação que de muito boa vontade suportaria mil mortes para livrar uma só alma de tão gravíssimos tormentos. Quem poderá suportar ver uma alma condenada por toda a eternidade ao maior dos suplícios? Não há coração que o suporte sem grande pena. Se nos compadecemos tanto dos sofrimentos deste mundo, que têm termo e que, enfim, acabam com a a morte, como poderemos, ó Senhor, ficar indiferentes diante dos tormentos que duram eternamente e de tantas almas que todos os dias leva consigo o demônio para o inferno?

“Já que Vós, meu Deus, vedes a dor que experimento à vista do grande número daqueles que se perdem, salvai ao menos um, Senhor, ao menos um que possa dar luz a muitos outros, Não por mim, Senhor, pois não o mereço, mas pelos méritos do Vosso Filho! olhai, Senhor, para as Suas chagas e já que Ele perdoou àqueles que Lhas fizeram, perdoai-nos também a nós.

“Deu meu, nada quero senão a Vossa vontade; sujeito-me de tal modo a ela que não desejo mais viver do que morrer. Contudo se assim Vos aprouver, desejo viver para Vos poder servir um pouco mais. Se puder contribuir dalguma forma para Vos fazer amar e louvar por uma alma, nem que seja por pouco tempo, isso me parece muito mais importante do que estar já na glória” (cfr. T.J. RE. 1, 3; Vi. 32, 6; Ex. 11, 3; RE. 6, 7).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 8 de março de 2025 por Arsenal Católico

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