O Papa e o Cristianismo

Foto com os direitos autorais expirados do Papa Pio X (em pé à esquerda) em 18 de dezembro de 1907 consagrando Giacomo della Chiesa (sentado em frente ao altar com mitra e báculo; mais tarde Papa Bento XV ) no Vaticano. Por Giuseppe Felici, Domínio Público, Wikimedia Commons

A) Para que serve o papado? Para que é que há papas? – “Para serem déspotas, para serem senhores absolutos”, respondem os mal intencionados. Não, não é para isso. Mas é para dar Cristo à humanidade. É para isto e unicamente para isto.

S. Pedro veio a Roma para pregar a doutrina de Cristo, e por essa razão foi morto. Os papas têm enviado missionários ao mundo inteiro, para pregarem a doutrina de Cristo. Têm dado penosos combates, têm decretado penas sensibilíssimas, para proteger a doutrina de Cristo. Têm aceito a glória exterior, as homenagens, e o respeito, para utilizarem tudo isso a serviço do desenvolvimento do reino de Cristo.

Os papas têm sempre conservado com alma comovida a lembrança do tríplice protesto de amor, em seguida ao qual o primeiro papa recebeu de Cristo os seus poderes. “Simão, filho de João, amas-me mais que estes ?” – perguntou Nosso Senhor a S. Pedro. E Pedro respondeu: “Sim, Senhor, sabeis que eu Vos amo”. E Cristo lhe disse: “Apascenta meus cordeiros” (S. Jo., XXI, 15). E fê-lo repetir uma segunda e uma terceira vez esse protesto de amor. Poderiam os papas esquecer que foi por causa desse amor que eles receberam o· poder de triunfar do mundo? que eles devem ser junto à humanidade os pregadores do amor de Cristo, da paz, das suas bênçãos, da boa nova? que devem, apesar da maldade humana, do ódio e da hostilidade, auxiliar o triunfo do amor de Cristo forte, generoso, desinteressado?

B) Se quiséssemos resumir numa só frase a história dezenove vezes centenária dos 262 papas, poderíamos fazê-lo com estas palavras do divino Salvador: ”Apascenta meus cordeiros, apascenta minhas ovelhas”. Todo papa que foi digno representante de Cristo viu nisso, o seu único dever.

a) Quantos méritos têm os papas como pastores do rebanho de Cristo! As cruentas perseguições dos primeiros séculos dilaceraram o rebanho de Cristo. Onde estava o pastor? O mercenário ter-se-ia posto em fuga, mas o lugar do bom pastor é junto do seu rebanho. E os papas estiveram realmente com ele nas catacumbas, para fortificar-lhe a fé, e foram com ele ao martírio, para confirmarem com seu sangue a doutrina de Cristo. Hoje ainda, existe a lista dos papas, que é particularmente emocionante; Pedro, Lino, Cleto, Clemente, Evaristo… e após cada um desses nomes: “mártir”, “mártir”. Prossigamos a nossa leitura: Alexandre, Higino, Pio, Anacleto, Soter, Eleutério, Vítor . . . e após cada um desses nomes vemos: “mártir”, “mártir”; vinte e nove vezes seguidas, aparece o estribilho comovente: “mártir”, “mártir”. Em verdade, o papado tem sido sempre a força, o incentivo, o coração da cristandade.

b) E mais ainda, o papado tem servido de farol para apontar o caminho, e por onde quer que passe a barca de Pedro, no seu sulco brotam as bênçãos. E a observação colhida em dezenove séculos fortalece ainda mais essa verdade. Roma é ao mesmo tempo o ponto de partida e o centro da fé cristã e da civilização cristã. Quantas vezes tem-se renovado na história dos papas o episódio que S. Pedro viveu quando saltou da barca de João e começou a afundar em meio às ondas com grande pavor seu! Quem conhece a história, sabe que há épocas de real consternação. Assim, vemos que, no tempo do arianismo, só o papa defendeu a fé na divindade de Cristo, poucos cristãos permaneceram fiéis, e por assim dizer, o mundo inteiro se tornou ariano. Vemos a perseguição pérfida de Juliano, o Apóstata, os cismas, as revoluções, o despotismo de Napoleão… Mas, tantas vezes quantas, aparentemente, os vagalhões ameaçaram o papa, renovou-se ainda sempre, finalmente, o milagre de S. Pedro a ponto de afundar: “Logo Jesus, estendendo a mão, segurou-o e lhe disse: Homem de pouca fé, por que duvidaste?” (S. Mt., XIV, 31).

Se o ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo tem permanecido intacto no curso de dezenove séculos, é, em primeiro lugar, mérito dos papas. Se o penoso trabalho dos missionários tem ganho para Cristo continentes inteiros, é mérito do papa. “Se a propagação do cristianismo é um mérito – escreve o protestante Herder ( Ideen zur Philosophie der Geschichte, II, 350) – então os papas têm nele grande parte”. Se a Europa não se tornou presa fácil dos Hunos, dos Sarracenos, dos Tártaros e dos Turcos, foi em primeiro lugar mérito dos papas.

c) Mas aqui se apresenta ao espírito uma idéia curiosa: Se atualmente Cristo voltasse à terra e fosse ao mergulhasse os olhos, que vêm tudo, na vida dos 262 Vaticano… Ah! sim. Que achada? Que faria? Se papas, não acharia também neles falhas, manchas? Naqueles que, embora revestidos do poder supremo da Igreja, foram contudo homens?

Sim, acharia.

Porventura o seu divino olhar não se abaixaria tristemente sobre um ou outro? ou não se inflamaria de cólera?

Sim, inflamar-se-ia de cólera.

Mas contudo… Mesmo aplicando aos 262 papas o julgamento mais severo, a quantos poderíamos exprobrar o esquecimento dos seus deveres, o mundanismo ou falhas morais? A seis ou sete no máximo. Os outros foram todos homens eminentes, caracteres imponentes, muitos foram mártires e foram canonizados. Se o divino olhar de Nosso Senhor descesse, pois, sobre eles, e se seus olhos, que tudo vêm, escrutassem as leis da evolução da História, e as fraquezas da natureza humana, de maneira tão penetrante como jamais nem historiador nem psicólogo puderam fazê-lo; e se Ele visse então o grãozinho de mostarda, que Ele semeara, transformado, mesmo sob o simples ponto de vista natural, na árvore imensa da Igreja, de folhas e de flores magníficas; e se Ele fizesse de novo ao Papa Pio XII a mesma pergunta que a S. Pedro: Por quem me têm os homens? Pio XII lançar-se-Lhe-ia aos joelhos, e, adorando-o, repetir-Lhe-ia as palavras imortais: “Sois o Cristo, o Filho do Deus vivo”. É absolutamente certo, meus irmãos, que Nosso Senhor não acharia nada que criticar nem que censurar ao papado atual, mas repetiria as palavras benditas: “Feliz és tu, Pedro, porque minha Igreja repousa solidamente em ti… “.

Eis aí o primeiro mérito histórico do papa: é sobre ele que repousa a Igreja de Cristo.

Trechos do livro A Igreja Católica, Mons. Tihamer Toth, Coleção Pensamento Cristão, dirigida pelo Pe P. Lacroix,1942.

Última atualização do artigo em 28 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico

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