Ó Jesus, fazei que eu saiba corresponder sempre aos dons do Vosso amor.
1 – Um pobre paralítico é apresentado ao Senhor. Provavelmente fez-se levar à Sua presença só para implorar a saúde do corpo, mas perante a pureza e a santidade que emanam da pessoa de Jesus, lembra-se de que é pecador e fica humilhado e confuso. Jesus já lera no seu coração e, atendendo à sua fé e humildade, nem sequer espera que ele fale, mas diz-lhe imediatamente com imensa bondade: “Filho, tem confiança; são-te perdoados os teus pecados” (Mt. 9, 1-8). O primeiro e o maior milagre é operado: aquele homem já não é escravo de Satanás, mas filho de Deus. Jesus que veio salvar as almas, tem todo o direito de curar a alma antes do corpo.
O fato, porém, não agrada aos escribas que, não acreditando na divindade do Senhor, em seus corações imediatamente O acusam de blasfemo. Mas o Mestre, assim como leu na alma do paralítico, lê também nas suas: “Porque pensais mal em vossos corações?”. Se naqueles corações Jesus visse um pouco de humildade, um pouco de fé, estaria disposto a curá-los como tinha curado o coração do paralítico; infelizmente não encontra neles mais do que soberba e obstinação. Apesar de tudo quer usar de todos os meios para os convencer e dá-lhes a prova mais evidente da Sua divindade. “Para que saibais que o Filho do Homem tem poder sobre a terra de perdoar pecados: ‘Levanta-te – disse ao paralítico – toma o teu leito e vai para tua casa’. E ele levantou-se e foi para sua casa”. O milagre foi estrondoso, rapidíssimo: a palavra de Jesus operou imediatamente aquilo que exprimia; só a palavra de Deus pode ter semelhante poder. Mas os escribas não se deram por vencidos: quando o coração é soberbo e obstinado, nem a evidência dos fatos é capaz de o abalar.
Nunca digamos que a nossa fé é fraca por não vermos nem palparmos com a mão as verdades que nos propõe para crer; digamos antes que é fraca porque o nosso coração não é suficientemente dócil à graça, nem está de todo livre do orgulho. Se queremos ter uma grande fé, sejamos humildes e simples como os pequeninos; se queremos ter parte na graça de santificação obtida pelo paralítico, apresentemo-nos ao Senhor com um coração contrito e humilhado, profundamente convencidos de que necessitamos da Sua ajuda e do Seu perdão.
2 – O Evangelho apresenta-nos Jesus no esplendor da Sua personalidade divina com todos os poderes próprios de Deus. A Epístola (I Cor. 1, 4-8) mostra-no-lO, pondo, por assim dizer, a Sua divindade ao nosso serviço para nos santificar e divinizar. O que Jesus operou na alma do paralítico continua a operá-lo nas nossas almas, e a Epístola de hoje é uma bela síntese da Sua ação em nós, ação vasta e completa, que abrange todo o nosso ser. S. Paulo, ao contemplar esta ação, prorrompe num hino de ação de graças: “Dou graças incessantemente ao meu Deus por vós, por causa da graça de Deus, que vos foi dada em Jesus Cristo; porque em todas as coisas fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em toda a ciência… de maneira que nada vos falta em graça alguma”. Sim de Jesus nos vem toda a graça e todo o dom com que Ele santifica a nossa pessoa e a nossa vida. Pela graça santificante santifica a nossa alma, pelas virtudes infusas santifica as nossas potências, pela graça atual santifica a nossa atividade, tornando-nos capazes de agir sobrenaturalmente. Contudo, isto não satisfaz ainda a Sua liberalidade: não Se contenta com ter-nos posto em condições de caminhar para Deus, sobrenaturalizados pela graça e pelas virtudes, mas quer substituir o nosso modo humano de proceder pelo Seu modo divino, e por isso enriquece-nos com os dons do Espírito Santo, que nos tornam capazes de ser movidos pelo próprio Deus. Tudo isto é dom de Jesus, é fruto da Sua Paixão; é também dom Seu o Espírito Santo, o Dom por excelência que Ele, morrendo na cruz, nos mereceu e que, juntamente com o Pai, nos envia continuamente do céu a fim de iluminar e dirigir as nossas almas.
Quase parece que Jesus, verdadeiro Filho de Deus, nem é cioso da Sua divindade e das Suas prerrogativas, mas que procura todos os meios possíveis para nos fazer participar, pela graça, daquilo que Ele possui por natureza. Como é verdade que a característica do amor é dar-se e tornar iguais os que se amam!
Abramos o nosso coração ao reconhecimento, correspondamos ao amor infinito de Jesus e mantenhamo-nos sempre sob o Seu influxo, porque Ele quer “confirmar-nos até ao fim, para que sejamos irrepreensíveis no dia da Sua vinda”.
Colóquio – “Apoderastes-Vos, ó Jesus, da minha morte, dando-me a Vossa vida, tomastes a minha carne para me dardes o Vosso Espírito, carregastes com os meus pecados para me presenteardes com a graça.
“Assim, ó meu Redentor, todas as Vossas penas são o meu tesouro e a minha riqueza. Reveste-me a Vossa púrpura, honra-me a Vossa coroa, embelezam-me as Vossas contusões; as Vossas dores são o meu dom, as Vossas amarguras sustentam-me, as Vossas chagas curam-me, o Vosso Sangue enriquece-me, o Vosso amor inebria-me.
“Vós sois o repouso, o fogo e o desejo das almas. Sois o pastor e o cordeiro que tira os pecados do mundo. Sois o Pontífice eterno, poderoso para aplacar a ira do eterno Pai. Quem Vos não louvará, Senhor? Quem Vos não amará com todo o coração? Ó Jesus benigno, inflamai-me a alma com este amor, mostrai-me o Vosso belo rosto, tornai os meus olhos felizes com os Vossos e não negueis ao que Vos ama o beijo da paz. Vós sois o Esposo da minha alma; ela procura-Vos, chama-Vos com lágrimas. Vós, o Santo, a livrastes da morte com a Vossa morte e, ferindo-a com o Vosso amor, não a aborrecestes. Porque razão a miserável não sente a doçura da Vossa presença? Escutai, Deus meu e Salvador meu, dai-me um coração que Vos ame, pois nada existe de mais doce do que arder sempre no Vosso amor” (Ven. Luís de Granada).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.
Última atualização do artigo em 25 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico