Ó Jesus, verdadeiro pão de vida eterna, saciai a minha fome.
1 – O domingo de hoje é uma pausa de santa alegria, de alívio espiritual que a Igreja, como uma boa mãe, nos oferece no meio das austeras práticas quaresmais, como para nos refazer as forças. “Alegra-te, Jerusalém – canta o Introito da Missa – juntai-vos em grande festa, vós todos os que a amais. Rejubilai de alegria, vos que estivestes em dor. Exultai e saciai-vos da abundância do seu gozo”. E quais são estes gozos? O Evangelho do dia (Jo. 6, 1-15), responde-nos com a narração da multiplicação dos pães, o grande milagre mediante o qual Jesus quer preparar a multidão para o anúncio de um milagre muito mais estrondoso, a Instituição da Eucaristia, em que Ele, o Mestre, Se tornará nosso pão, “pão descido do céu” (Jo, 6, 41) para alimento das nossas almas. Eis o motivo da nossa alegria, eis a fonte das nossas delícias: Jesus é o pão da vida, sempre à nossa disposição, sempre pronto para nos saciar a fome.
Mas Jesus, embora apreciando melhor do que nós os valores espirituais, não esquece nem despreza as necessidades materiais do homem. O Evangelho de hoje apresenta-no-lO rodeado por uma multidão que O tinha seguido para ouvir os Seus ensinamentos; Jesus pensa na fome daquela gente e, para prover a essa fome, realiza um dos mais ruidosos milagres: cinco pães e dois peixes, abençoados por Ele, chegam para saciar cinco mil homens, sobrando ainda doze cestos.
Jesus sabe que quando o homem está atormentado pela fome, pelas necessidades materiais, é incapaz de atender às coisas do espírito. A caridade exige-nos também esta compreensão das necessidades materiais do próximo, compreensão das necessidades materiais do próximo, compreensão efetiva que se traduz em ação eficaz. “Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem do alimento quotidiano e algum de vós lhes disser: ‘ide em paz…’ porém não lhes der as coisas necessárias do corpo, de que lhes aproveitará?” (Tgo. 2, 15 e 16).
Os apóstolos tinham proposto ao Mestre que despedisse a multidão “para que, indo às aldeias, comprasse de comer” (Mt. 14, 15). Jesus não aceitou a proposta e quis providenciar pessoalmente. Procura também tu, tanto quanto puderes, nunca despedir o próximo necessitado sem lhe ter prestado a tua ajuda.
2 – Antes de fazer o milagre, Jesus pergunta a Filipe: “onde compraremos nós pão para dar de comer a este gente?”, e observa o Evangelista: “Dizia, porém, isto, para o experimentar, porque sabia o que havia de fazer”. Não há circunstância difícil na nossa vida cuja solução Deus não conheça; desde a eternidade previu todos os casos, mesmo os mais complicados, e tem pronto o remédio. Todavia, em circunstâncias difíceis, talvez nos pareça que Deus nos deixa sós como se a solução dependesse de nós, mas fá-lo unicamente para nos provar. Ele quer que, medindo a sós as nossas forças perante as dificuldades, tenhamos plena consciência da nossa impotência e insuficiência e, por outro lado, quer que nos exercitemos na fé, na confiança nEle. Na realidade, o Senhor nunca nos abandona se não somos nós os primeiros a deixá-lO; apenas Se esconde, escondendo também a Sua ação: é então o momento de crer, crer fortemente e esperar com humilde paciência, com plena confiança.
Os apóstolos avisam Jesus de que um rapaz tem cinco pães e dois peixes: bem pouca coisa, mesmo nada, para saciar a fome de cinco mil homens; mas o Senhor pede aquele nada e seve-Se dele para operar o grande milagre. É sempre assim: Deus onipotente que tudo pode fazer e criar do nada, quando Se encontra diante da Sua criatura livre, não quer agir sem o seu concurso. É bem pouco o que o homem pode fazer, mas aquele pouco Deus quere-o, pede-o, exige-o como condição da Sua intervenção. Somente o Senhor te pode santificar, como só Ele podia multiplicar as poucas provisões do rapaz e, no entanto, pede a tua cooperação. Também tu, com o rapaz do Evangelho, dá-lhe tudo quanto possuis, ou seja, apresenta-Lhe todos os dias os teus propósitos sempre renovados, com constância e amor e Ele também operará para ti um grande milagre, o milagre da tua santificação.
Colóquio – “Senhor Cristo, Filho de Deus vivo, que, sobre a cruz, com os braços abertos, bebestes o cálice de inenarráveis dores para a redenção de todos os homens, dignai-Vos hoje vir em meu auxílio. Eis-me aqui: pobre, venho a Vós que sois rico; miserável, apresento-me a Vós que sois misericordiosos. Ah! fazei que não me afaste de Vós vazio e desiludido. Faminto, venho a vós, não permitais que volte me jejum; esfomeado, aproximo-me, que eu não me retire sem ter sido por Vós saciado; e se antes de comer suspiro, concedei-me que depois dos suspiros eu possa ser alimentado” (Sto Agostinho).
Sim, tenho fome de Vós, pão verdadeiro, pão vivo, pão da vida. Vós conheceis a minha fome, fome da alma e fome do corpo e a esta e àquela quisestes prover. Coma Vossa doutrina, com o Vosso Corpo com o Vosso Sangue, saciais abundantemente o meu espírito, sem medida alguma, exceto aquela que eu mesmo Vos dou com a frieza do meu amor, coma pobreza do meu coração. Preparastes-me uma mesa tão rica e abundante que não se pode exprimir, bastando aproximar-me dela para ser alimentado. Não só me acolheis, mas até Vos fazeis o meu alimento, a minha bebida, Vos entregais todo a mim: todo na Vossa divindade, todo na Vossa humanidade.
E depois, pela Vossa bondade infinita, preparastes também uma mesa para o meu corpo; coma Vossa providência o alimentais, vestis, conservais na vida como os lírios do campo e os passarinhos do céu. Vós conheceis as minhas necessidades, as minhas angústias, as minhas preocupações pelo passado, pelo presente, pelo futuro e a tudo providenciais com amor paternal. Ó Senhor, porque não confiar em Vós, porque não lançar em Vós todos os meus cuidados, na certeza de que tudo podeis remediar? Entrego-Vos, pois, a minha vida: a vida do corpo, a vida terrena, com todas as suas necessidades, com todos os seus trabalhos, e a vida do espírito com todas as suas exigências, as suas ânsias, com toda a sua fome de infinito. Só Vós podeis fazer-me feliz, só Vós podeis realizar o meu ideal de santidade, de união conVosco.
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.