Fruto de vida – Sétimo Domingo depois do Pentecostes

Ajudai-me, Senhor, a não me contentar com palavras, mas a produzir frutos de santidade.

1 – Hoje a Epístola (Rom. 6, 19-23) e o Evangelho (Mt. 7, 15-21) falam-nos dos verdadeiros frutos da vida cristã e convidam-nos a examinar quais os frutos que até agora produzimos. Quando “éreis escravos do pecado” – afirma S. Paulo – produzíeis frutos de morte, “mas agora que estais livres do pecado e feitos servos de Deus, tendes por vosso fruto a santificação”. A nossa santificação deve ser o fruto da nossa vida cristã e é sobre este ponto que nos devemos examinar: que progresso fazemos na virtude? Somos fiéis aos nossos propósitos? Cada cristão pode considerar-se uma árvore da vinha do Senhor: o próprio Jesus, Jardineiro divino, a plantou em terra boa, fértil, fecunda, a terra do jardim da Igreja, banhada com a água viva da graça; rodeou-a dos cuidados mais amorosos, podando-lhe os ramos inúteis por meio de provações, curando-a dos males mediante a Sua Paixão e Morte, regando-lhe as raízes com o Seu preciosíssimo Sangue. De tal modo cuidou dela que pode dizer: “Que coisa há que eu devesse fazer mais à minha vinha que lhe não tenha feito?” (Is. 5, 4). Mas depois de tantos cuidados, Jesus passa um dia para ver que frutos produz esta árvore e pelos seus frutos, a julga, porque “não pode uma árvore boa dar mais frutos nem uma árvore má dar bons frutos”. Se antes da Redenção a humanidade era semelhante a uma árvore bravia somente capaz de dar frutos de morte, com a redenção foi enxertada em Cristo e Cristo, que nos alimenta com a Sua própria seixa, tem todo o direito a encontrar em nós frutos de santidade e de vida eterna. Por isso, as palavras e os suspiros não bastam; não basta querer a fé, pois “a fé, se não tiver obras, é morta” (Tgo. 2, 17); são indispensáveis as obras e a prática da vontade de Deus, porque “nem todo o que me diz: ‘Senhor! Senhor!’ estará no reino dos céus, mas o que faz a vontade de meu Pai que está nos céus”.

2 – No Evangelho de hoje, Jesus chama a nossa atenção para os “falsos profetas” que se apresentam “vestidos de ovelhas e por dentro são lobos rapaces”. Muitos apresentam-se como mestres de moral ou mestres espirituais, porém são mestres falsos porque as suas obras não correspondem às suas palavras; aliás, é fácil falar bem, mas não é fácil viver bem. Às vezes as doutrinas propostas são falsas em si mesmas, embora à primeira vista o não pareçam, visto que se revestem de certos aspectos de verdade; é falsa a doutrina que, em nome de um princípio evangélico, ofende um outro, por exemplo, que em nome da compaixão para com uma pessoa lesa o bem comum, que em nome da caridade ofende a justiça ou esquece a obediência aos legítimos superiores. E falsa a doutrina que é causa de relaxamento, que perturba a paz e a união, que, sob pretexto de um bem melhor, separa os súditos dos superiores, que nãos e subordina à voz da autoridade. Jesus quer-nos “simples como as pombas”, alheios à crítica e ao juízo severo do próximo, mas quer-nos também “prudentes como as serpentes” (Mt. 10, 16), a fim de nos não deixarmos enganar pelas falsas aparências do bem que escondem perigosas insídias.

Porém, ser mestre não é para todos, nem a todos se exige; mas a todos – sábios e ignorantes, mestres e discípulos – pede o Senhor a prática concreta da vida cristã. De que nos serviria possuir uma doutrina profunda e elevada, se depois não vivêssemos segundo essa doutrina? Portanto, em vez de querermos ser mestres dos outros, procuremos sê-lo de nós mesmos, empenhando-nos em viver integralmente as lições do Evangelho, imitando Jesus que primeiro “começou a fazer e depois a ensinar” (Act. 1, 1). O fruto genuíno que há de comprovar a bondade da nossa doutrina e da nossa vida é sempre o que Jesus nos indicou: o cumprimento da Sua vontade. Cumprimento que significa adesão plena às leis divinas e eclesiásticas, obediência leal aos legítimos superiores, fidelidade aos deveres de estado, e tudo isto em todas as circunstâncias, mesmo quando exige de nós a renúncia à nossa maneira de ver e à nossa vontade.

Colóquio – “Ó Deus eterno, no tempo em que o homem era árvore de morte, Vós fizeste-lo árvore de vida enxertando-Vos nele. E contudo, muitos homens, por suas culpas, só produzem frutos de morte porque não se enxertam em Vós, vida eterna. Muitos permanecem na morte dos seus pecados e não vêm à fonte e assim se vê que Vós nos criastes sem nós, mas que não nos quereis salvar sem nós.

“Quanta dignidade, ó Deus, recebe a alma enxertada em Vós e que deliciosos frutos produz! Donde extrai esta alma tais frutos de vida, sendo ela estéril e morta? Extrai-os de Vós, ó Cristo, porque se Vós não Vos tivésseis enxertado nela, nenhum fruto poderia produzir por virtude própria, visto ser nada.

“ó verdade eterna, amor inestimável, tal com Vós, ó Cristo, produzistes para nós frutos de fogo, de amor, de luz, de obediência pronta, pela qual correstes como um enamorado para a morte ignominiosa da cruz, e nos destes estes frutos mediante o enxerto da Vossa Divindade em nossa humanidade, assim a alma enxertada em Vós a nenhuma outra coisa atende senão à vossa honra e salvação das almas; torna-se fiel, prudente, paciente. Envergonha-te, ó minha alma, que por teus defeitos te privas de tanto bem! O meu bem nenhuma utilidade Vos proporciona, ó Deus, nem o meu mal Vos prejudica; Vós, porém, deleitais-Vos em que a Vossa criatura produza frutos de vida, a fim de que possa receber o fruto infinito e chegar ao termo para o qual nos criastes a todos.

“Ó meu Deus, a Vossa suprema e eterna vontade não quer senão a nossa santificação, por isso a alma que deseja santificar-se despoja-se da sua vontade e reveste-se da Vossa. Ó dulcíssimo Amor, parece-me ser este o verdadeiro sinal dos que estão enxertados em Vós: que sigam a Vossa vontade à Vossa maneira e não à sua, que sejam revestidos da Vossa vontade” (cfr. Sta Catarina de Sena).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

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