O Sacramento da Penitência

Confissão, Pietro Longhi, por volta de 1750, public Domain - Wikimedia Commons

A misericórdia e a verdade encontraram-se; a justiça e a paz reconciliaram-se. (Salm. LXXXIV, 11.)

Toda a reconciliação supõe a confissão e o arrependimento da culpa. Assim acontece até entre os homens. Enquanto o ofensor não se humilha a declarar a culpa, o ofendido não se sente disposto a estender-lhe a mão em sinal de reconciliação.

Por conseguinte, se quiser alcançar o perdão de Deus, necessário se torna que me resolva a declarar os pecados àqueles que Deus determinou para isso, preciso de me confessar. Então Nosso Senhor dignar-se-á outorgar-me, mediante certos sinais exteriores, a certeza de que recuperei a graça.

A Sagrada Escritura testemunha de um modo claro e indubitável a instituição do sacramento da penitência

Naquele momento solene, em que o Salvador apareceu pela primeira vez depois da ressurreição no meio dos discípulos, insuflou sobre eles o seu hálito divino, dizendo: Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem vós perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados, e aqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos [1].

Como é manifesto, o Salvador nesta passagem fala em perdoar e em reter: constitui pois os seus apóstolos em juízes.

Mas não pode haver decisão ou sentença judicial, sem que o juiz conheça os fatos sobre que se há de pronunciar. Ora, como há de o representante de Deus conhecer esses fatos, se o penitente não lhe manifesta a consciência, tornando-lhe possível por meio de uma confissão bem feita o exercício de reter ou de perdoar os pecados?

A confissão é pois, de instituição divina, porque só ela torna possível o exercício racional do poder judicial, concedido por Cristo aos apóstolos e seus sucessores.

Nisto, Senhor, reconheço e admiro a vossa infinita sabedoria, e o vosso infinito amor.

Enquanto a justiça humana exige que o delinquente declare publicamente a sua falta pra poder obter o perdão, vós dai-vos por satisfeito com uma confissão secreta, na presença de um só homem, que fica absolutamente escravo do segredo. É por meio desta confissão, que eu alcanço a certeza consoladora do perdão que me concedestes.

Sim: é no sacramento da penitência que se veem encontrar a misericórdia e a verdade, e reconciliar a justiça e a paz [2]. O pecador constituindo-se acusador de si mesmo, atrai com este ato de justiça a misericórdia divina; então vem o amor de Deus tomar posse do seu coração, e onde antes reinava a discórdia, o endurecimento, e a inimizade, estabelece-se uma paz e um sossego bem-aventurado.

tal felicidade merece, pois, que te venças e que domines a vergonha que te inspira a declaração dos teus pecados a um homem.

A confissão é também uma salvaguarda muito poderosa contra pecados futuros, pelo freio que põe à impetuosidade e leviandade juvenis.

Praza ao céu que seja sempre muito viva em tia a fé na divindade da confissão sacramental, a fim de que esta medicina celestial sirva de saúde para a tua alma, e sintas constantemente os seus benéficos efeitos.

A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.

[1] Joan. XX, 22-23.
[2] Salm. LXXXIV, 11.

Última atualização do artigo em 18 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico

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