Quinto Domingo depois da Páscoa (Jo. 16, 23-30)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
- E naquele dia não me interrogareis sobre nada. Em verdade, em verdade vos digo: se vós pedirdes a meu Pai alguma coisa em meu nome, ele vo-la dará.
- Até agora não pediste nada em meu nome: pedi e recebereis, para que o vosso gozo seja completo.
- Eu vos disse estas coisas em parábolas. Mas virá o tempo em que não vos falarei já por parábolas, mas abertamente vos falarei do Pai.
- Nesse dia pedireis em meu nome: e não vos digo que hei de rogar ao pai por vós:
- Porque o mesmo Pai vos ama, porque vós me amastes, e crestes que eu saí do Pai.
- Eu sai do Pai, e vim ao mundo: outra vez deixo o mundo, e vou para o Pai.
- Disseram-lhe seus discípulos: Eis que agora falas claramente, e não usas de nenhuma parábola:
- Agora conhecemos que tu sabes tudo, e que não é necessário que alguém te interrompa: por isso cremos que saíste de Deus.
O CÉU
Jesus disse: Deixo agora o mundo e volto para junto do Pai.
Cada um de nós na hora da morte devia poder repetir estas palavras: Nós também deixaremos o mundo… mas poderemos nós ajuntar: Vou para junto do Pai, isto é: vou para o céu?
Esperemo-lo; e para afirmar este desejo do céu, e nos estimular a tomarmos os meios que nos conduzem para a nossa Pátria celeste, consideremos hoje:
- A NATUREZA do céu.
- A GLÓRIA do céu.
I. A NATUREZA DO CÉU
O céu é o lugar onde Deus se manifesta a seus eleitos e os faz participantes da sua felicidade eterna.
É um dogma de fé fundado na Sagrada Escritura, na TRADIÇÃO e na RAZÃO.
Provede-vos de um tesouro inexaurível no céu, diz o salvador. (Luc. 12, 33).
São Paulo apresenta-nos o céu como:
O termo das nossas esperanças. (Col. 1, 5).
A herança dos santos. (Col. 1, 12).
A moradia eterna, onde os eleitos receberão e galardão das suas obras. (2 Cor. 5, 1).
A razão nos diz que, não havendo justiça cá na terra, deve haver na outra vida uma recompensa (o céu) para a verdade, e um castigo (o inferno) para os perversos.
É uma crença comum de toda a humanidade.
Todos esperam uma vida futura, onde será perfeita a felicidade dos justos. Até aqueles que negam o inferno admitem a existência do céu.
Para que esta felicidade seja perfeita deve haver no céu isenção de todo mal, e a posse de todos os bens.
Isenção, pois, do mal físico e moral, e posse do bem supremo que é Deus, vendo-o face-a-face, como recompensa da sua fé. Acreditei, agora vejo, mandou escrever sobre o seu túmulo o grande Luiz Veuillot.
A visão de Deus será a recompensa da fé dos eleitos.
A posse de Deus será a recompensa da sua esperança.
O gozo de Deus será a recompensa da sua caridade.
II. GLÓRIA DO CÉU
Analisemos um instante os componentes da glória do céu.
- A visão beatífica.
- O amor beatífico.
Em outros termos: a vista e o amor de Deus. É um artigo de fé.
A visão beatífica (ou intuitiva) consiste em ver a deus, como Ele é. Por enquanto, diz S. Paulo, nós vemos a Deus como num espelho, em enigma, mas então o veremos face a face. (I Cor. 13, 12).
Esta visão de Deus, embora intuitiva, não é entretanto compreensiva, porque é impossível a uma inteligência finita compreender o infinito.
O objetivo desta visão é:
1. O próprio Deus, sua essência, seus atributos, suas três pessoas, suas obras particularmente: os eleitos, e mais particularmente nossos pais, parentes, amigos.
2. Os mistérios que só a fé nos revela, que brilharão então em todo o seu fulgor, como verdades inteligíveis.
3. Tudo o que diz respeito às funções que preenchiam outrora.
Um Papa, por exemplo, seguirá o governo da Igreja; Um Bispo, o movimento da sua diocese; um Vigário, as obras da sua paróquia; os pais seguirão a vida de seus filhos, etc.
O amor beatífico é consequência da visão beatífica. É impossível contemplar a Deus, sem ficar como inebriado de delícias, que nós desconhecemos cá na terra. Nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais passou pelo pensamento do homem o que Deus preparou para aqueles que o amam. (I Cor. 2, 9).
Todos os eleitos gozarão plenamente esta dupla glória, embora em grau diferente.
Duas felicidades podem ser perfeitas, embora uma seja muito maior que a outra. A felicidade será proporcionada aos merecimentos e ao grau de santidade do eleito.
A criancinha inocente, morta após o batismo, será perfeitamente feliz, e, gozará de uma glória perfeita, como o será o mártir invicto, o lutador encanecido, o contemplativo ascético.
Uma é a claridade do sol, outra a claridade da lua e outra a claridade das estrelas, diz o Apóstolo (I Cor. 15, 41).
E o que completa esta glória, é que será inamissível, eterna. A vida eterna, diz São Pedro, é uma coroa de glória que não murcha. (I Pet. 1,4).
Aqui na terra toda felicidade é incompleta e efêmera, porque estamos sempre sujeitos a perdê-la…
Só a glória celeste é perfeita.
III. CONCLUSÃO
Somos criados para o céu.
É a nossa única Pátria permanente.
A terra é uma viagem… um desterro… um campo de luta, onde devemos conquistar a coroa.
O céu está ao alcance de todos, ele será dado a todos que morrem isentos de pecados e de penas devidas aos pecados, como diz o Concílio de Florença.
Meditemos bem a resposta que Nosso Senhor deu aos Apóstolos, perguntando-lhe se o número de salvos seria reduzido: Esforçai-vos por entrar pela porta estreita (da penitência), porque vos digo que muitos procurarão entrar (por outra porta), e não poderão.
O Apóstolo nos dá este precioso conselho: Operai a vossa salvação com medo e com temor. (Filip. 2, 12).
Longe de nós a presunção dos protestantes, que se dizem salvos. Longe de nós também a negligência do covarde, que julga tudo difícil.
Deus quer a nossa salvação. Ele nos dá os meios necessários para a prática da Religião.
Pratiquemos, pois, a nossa santa Religião, e o céu será nosso.
Comentário Dogmático, Padre Júlio Maria, S.D.N., 1958.
Última atualização do artigo em 5 de abril de 2025 por Arsenal Católico