DA CONFISSÃO, COMUNHÃO E LEITURA ESPIRITUAL
1 – A confissão é um dos meios mais poderosos para justificar e consolar os pobres pecadores que desejam mudar de vida.
2 – Aprovo que vos confesseis ao menos todos os quinze dias e todas as vezes que houver necessidade.
3 – Quanto ao exame de consciência para quem se confessa todos os oito dias, basta um quarto de hora, diz S. Francisco de Sales. Será bom que vos confesseis da tarde para a noite, a fim de terdes a manhã para vos preparardes mais comodamente para a santa comunhão.
4 – A narração minuciosa das vossas faltas não é o que as apaga, da mesma sorte que a exata enumeração das dívidas não solve um real ao devedor. Além disso, o vosso confessor conhece já o estado da vossa alma e as vossas faltas habituais. Um exame muito minucioso só servirá para fatigar-vos o espírito e dessecar-vos o coração.
5 – Deveis ter uma vontade decidida de evitar todos os pecados, mas sobretudo os que dizem respeito ao vosso defeito dominante.
6 – A alma que habitualmente não quer o pecado, está habitualmente contrita; não lhe será, pois, difícil ter a contrição atual. Não sabeis se a tendes, não a sentis, porque ordinariamente ela não é sensível, isto é, não impressiona os sentidos, nem a parte afetiva da nossa alma; mas tendes a contrição, porque a vossa vontade repele o pecado, e é nisso verdadeiramente que consiste a contrição. O pesar de não aborrecerdes o pecado, como conviria, nasce do vosso ódio contra ele, como o desejo de amar a Deus, procede do amor que lhe tendes.
7 – Fazei a vossa confissão todas as vezes, como se fosse a derradeira, pois que pode sê-lo com efeito; e dizei então o que diríeis, se fosseis disso advertido. Dizei com clareza, confiança e sem rodeios todas as vossas faltas, especialmente as que vão contra a pureza. Lembrai-vos de que falais a Deus, a quem nada se lhe esconde. Fugi de querer ser teólogo ou de ocultar alguma coisa nesta matéria.
8 – Confessai-vos, não como vós o entendeis, mas como quer o vosso diretor. Deste modo, as vossas confissões satisfarão menos o amor-próprio, mas agradarão mais a Deus. Parecer-vos-á estar menos contente, mas tereis colhido muito mais merecimentos.
9 – O melhor e mais seguro meio para conhecerdes se estais na graça de Deus, diz S. Tomás, e por consequência se as vossas faltas cometidas estão perdoadas, é considerar na vossa vida presente. Se o passado vos desagrada, se não recaís nas faltas antigas, é um sinal de que o mal desapareceu e que a graça do Senhor está em vós. Se as raízes do vosso coração estivessem ainda viciosas como outrora, produziriam os mesmos frutos. Tal é a reflexão de S. Francisco de Sales. Esta consideração baste para vos tranquilizar sobre o passado.
10 – A comunhão frequente é um dos meios mais eficazes para progredir na perfeição. “Se os mundanos vos perguntarem porque comungais tantas vezes, respondei-lhes que é para aprenderdes a amar a Deus, para vos purificardes das imperfeições, livrar-vos das misérias, consolar-vos nas aflições, enfim para vos sustentardes nas fraquezas“. As pessoas que no mundo têm poucas ocupações devem-no fazer, porque têm tempo para isso; as que estão sobrecarregadas de trabalhos devem fazer por necessidade, porque quem se cansa muito, quem é muito ocupado, precisa duma alimentação mais sólida e mais frequente.
11 – A preparação para a comunhão é ou remota e habitual ou próxima. A primeira consiste em purificar o coração pelo ódio ao pecado, e entreter nele um vivo desejo de se nutrir deste celestial alimento.
12 – A preparação próxima é-nos indicada por estas palavras de S. Francisco de Sales:
“Devemos levar para a comunhão um coração abrasado em amor. Esqueçamos, pois, todas as criaturas, para não pensarmos senão no Criador que imos receber“.
13 – “É necessário, além disso, continua o mesmo Santo, entregarmo-nos totalmente à Providência divina, não só pelo que toca aos bens temporais, mas sobretudo pelo que diz respeito aos nossos interesses espirituais; é preciso renunciarmos, na presença da bondade divina, às nossas afeições, desejos e inclinações, para lhas submeter inteiramente.
Estejamos certos de que da sua parte Nosso Senhor cumprirá a promessa que nos fez, de levar a nossa baixeza até que chegue a unir-se a sua grandeza”.
14 – Uma só comunhão basta para nos santificar; “mas o verdadeiro motivo pelo qual não somos santificados é porque Nosso Senhor acha os nossos corações cheios de desejos, de afeições e de pequenas vontades… Ele quer achá-los vazios para se tornar senhor deles”. Logo, antes e depois da comunhão entreguemo-nos a Deus, não aspiremos senão ao seu amor e ao seu querer, com simplicidade, desapego e generosidade.
15 – Na véspera da comunhão recitai frequentes orações jaculatórias, que respirem santos e afetuosos desejos e uma plena confiança de que sereis santificados. No próprio dia da comunhão, devem elas exprimir o vosso reconhecimento, adoração e confiança em Deus. Todavia fazeis isto sem violência, sem grande esforço, mas dum modo doce e afetuoso.
16 – Se, pois, vos esquecerdes das orações jaculatórias, não vos inquieteis. Esperai, que Deus vos fará a graça de vos lembrardes delas para outra vez, e ficai em paz.
17 – Se vos entregardes à vontade de Deus na santa comunhão, sofrereis com sossego e generosidade as securas do espírito, sem perder muito tempo a indagar-lhes as causas. A alma resignada aceita tudo como vindo de Deus: não se exalta pela consolação nem é abatida pela aridez. (Vede as instruções sobre a oração).
18 – Para a vossa leitura espiritual escolhei os livros mais próprios para alimentarem a vossa alma; para este fim familiarizai-vos com a leitura das obras de S. Francisco de Sales, e com o espírito deste santo por Mons. Jean-Pierre Camus, bispo de Belley.
19 – Fazendo a vossa leitura espiritual dessas obras, recebei o seu assunto como se o próprio Deus o escrevesse.
20 – Tende por certo que as práticas extraordinárias são sem pre-suspeitas e encobrem facilmente uma secreta vaidade. Por isso S. Bernardo dizia que “a virtude consiste em fazer coisas comuns, mas dum modo não comum“.
Se procuramos o extraordinário, procuremos conservá-lo no segredo do coração e diante de Deus; isto é, na reta intenção e no amor de Nosso Senhor; será verdadeiramente extraordinária aquela alma que crer que em si tudo é comum.
Direção para Viver Cristãmente pelo Rev. Padre Quadrupani, Barnabita, 1905.
Última atualização do artigo em 9 de março de 2025 por Arsenal Católico