São Gregório Nazianzeno

São Gregório, natural de Nazianz, onde nasceu em 300, de uma família de Santos. Seu pai Gregório, a mãe Nonna, os irmãos Cesário e Gorgonia figuram no catálogo dos Santos da Igreja. Vivendo em tal atmosfera, não podia ser de outra maneira, que também Gregório enveredasse no caminho da perfeição cristã. Moço ainda, teve um sonho extraordinário: “Parecia-me disse ele – que visse duas senhoras formosíssimas, representando uma a castidade, outra a sobriedade. Ambas acariciavam-me como se fosse seu filho e convidaram-me para as seguir. “Venha conosco, disseram-me elas e nós te levaremos até à luz da imortal Trindade.” Desde aquele momento vivia em Gregório a resolução de permanecer no estado virginal.

Após os primeiros estudos de gramática, Gregório frequentou as escolas célebres de filosofia de Cesaréa, Alexandria e Athenas. Nesta última cidade conheceu S. Basílio, com quem se ligou por laços de íntima amizade.

Unidos por uma afinidade de sentimentos, os dois jovens segregavam-se dos estudantes frívolos, evitavam o jogo, fugiam da ociosidade e de outros vícios que quase sempre aderem à mocidade, dedicando-se unicamente ao estudo e às práticas de piedade. Terminado o curso, Basílio voltou para sua terra; Gregório, porém, ficou em Athenas onde lecionou retórica, matéria em que ninguém o alcançava.

Foi neste tempo, que também Juliano, que mais tarde veio a ser apelidado o Apóstata, estudava em Athenas. Gregório ao ver os costumes dissolutos deste príncipe, exclamou: “Que monstro o império romano não está criando!” Predisse também que, na hipótese de Juliano um dia chegar a subir ao trono, o Cristianismo nele haveria de conhecer seu maior inimigo e mais implacável perseguidor. Gregório não se enganou.

Passados alguns anos, Gregório voltou para sua terra onde recebeu o santo batismo. Seu único desejo era então ter uma vida em Deus, longe das vaidades do mundo. Para ter mais facilidade de se dedicar às práticas da vida religiosa, procurou seu amigo Basílio no deserto, passando alguns dias em exercícios de jejum, oração e leitura espiritual. De pouca duração foi este tempo cheio de consolações e graças divinas. O pai de Gregório, ancião de oitenta anos e Bispo de Nazianz, chamou-o para perto de si e administrou-lhe o santo sacramento da Ordem.

Gregório retirou-se clandestinamente de Nazianz para procurar novamente seu doce remanso na companhia de Basílio. A este seu amigo queixou-se amargamente de o terem feito sacerdote.

Cedendo a repetidos pedidos de seu pai voltou para Nazianz, onde com muito proveito se dedicou à pregação. Seu amigo Basílio, que por sua vez fora nomeado Bispo de Cesaréa, pediu com muita insistência, que Gregório aceitasse a diocese Sasina na Cappadocia, onde a marcha progressiva das heresias reclamava enérgica resistência. Gregório aceitou a direção da diocese. Quando, porém, apareceu um outro candidato com provas problemáticas de direito à mitra de Sasina, Gregório imediatamente cedeu-lhe o lugar, para trabalhar como Bispo coadjutor de Nazianz até a morte de seu velho pai (373). Como os bispos da província demorassem em nomear um sucessor do Bispo falecido, Gregório retirou-se para Seleucia, metrópole de Isauria, onde viveu cinco anos. Ali encontrou-o a notícia dolorosíssima da morte de seu amigo S. Basílio.

Em 378 morreu o imperador Valente, que tinha sido o braço forte do Arianismo. Para a Igreja chegou uma época de paz, a qual Gregório, a pedido de vários Bispos, aproveitou para uma viagem a Constantinopla, onde a heresia, devido à proteção do Imperador, tinha feito grandes progressos. Gregório desenvolveu todo o seu zelo na defesa da fé católica e na conversão dos hereges. Pouco tempo depois foi nomeado Bispo de Constantinopla, com o título de Patriarca.

Com a extraordinária energia, que lhe era própria, com a grande estima de que gozava junto do imperador Teodósio o Grande conseguiu Gregório, que todas as igrejas que se achavam em poder dos Arianos fossem restituídas aos católicos. Proporções ameaçadoras tomou o ódio dos sectários, os quais resolveram a morte do Patriarca. O assassino, por eles contratado, veio ao palácio do Patriarca a título de lhe fazer uma visita. Deus tocou o coração do criminoso, o qual, estando a sós com o Prelado, em vez de se atirar sobre ele, caiu de joelhos e, confessando seu plano tétrico, pediu humildemente perdão. Gregório disse-lhe: “Peça perdão a Deus que me salvou. Nada mais exijo, senão que abandones a heresia.”

Os sofrimentos não lhe vieram da parte só dos hereges: também os católicos preparam-lhe cruz pesada.

Entre os próprios Bispos surgiu uma grande dissidência, porque alguns consideraram ilegal a elevação de Gregório à Sé Patriarcal.

Gregório, fê-los ver que, se ele ocupava a Sé Patriarcal, não era porque a tivesse desejado, mas porque o obrigaram a aceitar o cargo. Vendo, porém, que alguns se mostravam inacessíveis às suas razões e receando maiores perturbações, por ocasião de uma conferência episcopal, levantou-se e dirigiu-se aos Bispos nestes termos: “Amadíssimos colegas e co-pastores do rebanho de Cristo! Não vos ficaria bem, se vós, que deveis pregar a paz aos outros, quisésseis viver em discórdia. Se achardes que sou eu o causador desta desunião, atirai comigo ao mar e haverá paz; pois não me julgo mais santo que o profeta Jonas. Minha consciência de nada me acusa e considero-me inocente das culpas de que me acusais; mas para que cesse a discórdia, prefiro sacrificar-me.”

Estas palavras Gregório disse-as com toda a calma, humildade e mansidão, e, tendo terminado, despediu-se de todos e abandonou o recinto. Imediatamente se dirigiu ao Imperador, ao qual comunicou sua resolução de renunciar. Não foi sem dificuldade, que obteve o consentimento de Teodósio para sua retirada.

Pela última vez subiu ao púlpito da catedral e se despediu dos seus diocesanos. Àqueles que mais se deviam alegrar com sua saída, aos libidinosos e ímpios, cujos vícios tantas e tantas vezes verberou sem dó e sem misericórdia, dedicou as seguintes palavras: “Batei palmas e alegrai-vos! Exclamai em altas vozes: esta língua aborrecida e tagarela não mais nos ofenderá. Sim, ela nada mais dirá. Mas ficou a mão e pena e tinta não faltarão para entrar na luta”. Terminando, disse: “Peço-vos, meus queridos filhos, guardeis fielmente o que vos ensinei. A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos vós. Amem”. Este seu sermão de despedida profundamente impressionou o auditório. Muitos choraram. Para impedir sua saída, os diocesanos empregaram todos os meios, mas Gregório ficou firme no seu proposito e retirou-se para sua terra, onde fixou residência num sitio, chamado Arianzo que herdara de seu pai.

Gregório alcançou uma idade muito avançada. Doença continua prendeu-o ao leito por muitos anos. Em seus sofrimentos achou conforto na oração e na meditação. De quando em vez pegava da pena para escrever contra o Arianismo ou para animar os católicos à perseverarem na fé. Deus permitiu, que este santo homem, tão provado na virtude, fosse constantemente perseguido por tentações as mais atrozes contra a pureza de coração. Na oração e na penitência achou Gregório o meio mais poderoso para as combater.

Foi ainda por permissão de Deus, que homens sem consciência, para o desprestigiar, o caluniassem de uma maneira indigna. Chegaram até a acusa-lo perante o Bispo de Tyaner de vícios depravastes. Gregório sofreu tudo com resignação e paciência, perdoando de coração aos seus caluniadores.

Gregório morreu santamente em 389. No tempo das cruzadas suas relíquias foram transportadas para Roma.

REFLEXÕES

1. Por uma pequena falta no falar S. Gregório se impôs uma penitência de quarenta dias de silêncio. Quantas faltas nós não cometemos pela língua, e faltas graves como sejam: mentiras, maledicências, difamações, juízos temerários e injustos, más conversas etc, etc. Muitas vezes nem temos consciência do mal que praticamos, tão enraizado achasse ele em nós. Nem por isso estamos livres de responsabilidade; nem por isso será mais suave o juízo de Deus que nos espera. Quem tem o mau habito de pecar pela língua, deve andar sempre de sobreaviso e observar muito bem a si próprio. De grande efeito é esta vigilância unida à penitência que deve seguir sempre que a nossa consciência nos acusar de uma falta. Penitências que devemos então praticar são: dar uma esmola, visitar um doente, impor-se um silêncio rigoroso durante um determinado espaço de tempo etc.

2. Para evitar rixas e contendas, S. Gregório renunciou à sua posição de Bispo. Um cristão verdadeiro será sempre fiel conservador da paz e da concórdia. Ódio, rancor são contrários ao espírito de Cristo e indignos de quem seu nome traz. “Foge das contendas, diz o Espírito Santo, – e diminuirás os pecados”. (Ecl. 28). “Quem ama a contenda, destrói o amor do próximo e é causador de ódios e inimizades”. (S. Lourenço Justiniani). A ira será vencida só pela mansidão e pelo silêncio. “Uma palavra mansa quebra a ira, quando uma resposta áspera provoca o ódio”. (Prov. 15). “Para conter e vencer o homem mau e rancoroso não há como o silêncio. Melhor é ceder ou tolerar do que pagar-lhe ao pé da letra”. (S. Chrysost.) Observa estas regras e não te hás de arrepender.

Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume I, 1928.

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