A grande promessa – Quarto Domingo depois da Páscoa

Ó Jesus, disponde o meu coração para receber o Espírito Santo que nos prometestes e merecestes.

1 – Desde o Domingo passado que a Igreja começou a preparar-nos para a Ascensão do Senhor; hoje, retomando o assunto, dá um passo em frente, isto é, fala-nos da vinda do Espírito Santo e para isso serve-se ainda de uma passagem do discurso de Jesus depois da última Ceia. É sempre o Senhor que fala aos Apóstolos e continua a dispor as suas almas para a partida; eles escutam, tristes e pensativos, sem terem a coragem de O interrogar. E o Senhor, como uma boa mãe, quebra aquele penoso silêncio: “Vou para Aquele que me enviou; e nenhum de vós me pergunta: para onde vais?” Por isso apressa-se a consolá-los: “A vós convém que eu vá porque se eu não for, não virá a vós o Consolador; mas se eu for, eu vo-lO enviarei” (Jo. 16, 5-14). De fato, só a morte de Jesus nos pôde merecer este grande dom e só depois da Sua ascensão ao céu, o Espírito Santo, o Enviado do Pai e do Filho, pôde descer efetivamente sobre a Igreja. Os apóstolos estão quase a perder a presença sensível, física, do Mestre adorado, mas Ele não os deixará órfãos e continuará a assistir-lhes invisivelmente por meio do Seu Espírito que prosseguirá a Sua obra. Jesus trabalhou no meio deles de um modo visível, o Espírito Santo fá-lo-á de um modo secreto, e escondido, mas nem por isso menos eficaz e menos real. Assim, o próprio Jesus diz que a ação do divino Paráclito completará a Sua: “Tenho ainda muitas coisas a dizer-Vos, mas vós não as podeis compreender agora. Quando vier porém aquele Espírito de verdade, Ele vos ensinará toda a verdade… Ele receberá do que é meu, e vo-lo anunciará”. O coração dos apóstolos, ainda endurecido pelo pecado, não pode entender as verdade mais profundas; será necessário que Jesus, morrendo na cruz, destrua o pecado – o grande obstáculo à ação do Espírito Santo – e, depois de subir ao céu, nos envie o divino Paráclito, que nos mereceu pela Sua Paixão.

A descida do Espírito Santo as nossas almas é o maior fruto da Paixão de Jesus.

2 – Do Evangelho de hoje podemos tirar algumas conclusões práticas. Em primeiro lugar, devemos dispor-nos com ardor para o Pentecostes a fim de que se renove em nós, em toda a sua plenitude, a descida do Espírito Santo. E como o obstáculo à efusão do Espírito Santo é o pecado, a nossa preparação consiste numa particular pureza de consciência. O pecado deve ser destruído em nós, não só nas suas manifestações atuais, conquanto leves, mas também nas suas raízes mais profundas e ocultas.

Devemos além disso estar convencidos de que na alma em graça, e tanto mais quanto esta procura corresponder com fidelidade às moções divinas, nunca falta uma certa ação do Espírito Santo, porém não é necessário que esta ação seja sensível e consoladora. Na aridez e no desânimo o Espírito Santo trabalha também na alma fiel: é uma ação totalmente secreta e oculta, mas real e eficaz que tem por fim purificá-la e dispô-la para a união com Deus. A alma que está convencida disto mantém-se confiante, mesmo através das dificuldades e, se não compreende ou não vê o seu caminho, entrega-se ao Espírito Santo, que bem sabe e vê onde a quer conduzir.

Finalmente, o Evangelho de hoje convida-nos a invocar a ação do Espírito Santo sobre a Igreja e sobre todo o mundo. Sobre a Igreja, para que a governe e dirija no cumprimento da sua missão; sobre o mundo, para que o convença da verdade por ele rejeitada. “E Ele, quando vier – disse Jesus – convencerá o mundo quanto ao pecado, à justiça e ao juízo”, ou seja, mostrar-lhe-á que é escravo do pecado por não ter acreditado em Cristo, far-lhe-á compreender como só nEle, o redentor, está a justiça e a santidade e mostrar-lhe-á, por último, que o demônio, “o príncipe deste mundo”, foi finalmente vencido e condenado.

Colóquio – “Ah! ó Verbo eterno, dizei-me, eu Vos rogo: qual é a causa que impede o Espírito Santo de realizar na alma toda a Sua obra? Vós dizeis-me que o primeiro impedimento é a malícia e o segundo impedimento a vontade própria pela qual Vos queremos servir ao nosso modo. Queremos o Vosso Espírito, sim, mas queremo-lo do modo que nos agrada e quanto nos agrada e assim tornamo-nos incapazes de O receber. Outras vezes é a tibieza esse impedimento; parece-nos que Vos servimos e não vemos que nos servimos a nós. mas Vós, Senhor, quereis ser servido sem amor próprio, com sinceridade e humildade. Por isso o Vosso Espírito só desce sobre a alma que se encontra no centro da própria humildade. Mas aí! Eu quereria saber, ó Verbo amoroso, o que devo fazer contra estes impedimentos. Que me adianta saber quais são se não puder dar-lhes remédio? O remédio para a malícia é a reta intenção e a simplicidade; o remédio para a vontade própria é uma vontade morta a ponto de não querer senão o que é a Vossa vontade; o remédio par aa tibieza é o ardor da caridade que, como fogo, desce aos corações e queima toda a tibieza” (Sta M. Madalena de Pazzi).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

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