Ó Espírito Santo, vinde dirigir a minha alma no caminho da santidade.
1 – Se bem que a nossa alma seja sobrenaturalizada pela graça santificante, as nossas potências sejam revestidas pelas virtudes infusas e as nossas ações sejam prevenidas e acompanhadas pela graça atual, todavia o nosso agir, quanto ao modo, permanece sempre humano, por isso mesmo incapaz de nos unir perfeitamente a Deus e de nos levar à santidade. De fato a nossa inteligência, ainda que revestida pela virtude da fé, é sempre inadequada ao Ser infinito, é sempre incapaz de no-lO representar tal qual Ele é. Mesmo seguindo os dados da revelação pela qual sabemos que Deus é uno e trino, as ideias que formamos da Santíssima Trindade, das três Pessoas divinas, das perfeições de Deus, permanecem sempre a abaixo da realidade. Sim, enquanto estamos sobre a terra, conhecemos Deus “como por um espelho e em enigma” e somente no céu “O veremos face a face” (I Cor. 13, 12). E assim como não temos um conhecimento adequado de Deus, também não o temos da santidade: só até um certo ponto conhecemos as coisas de Deus, e assim sucede também com o caminho da perfeição. Com efeito, nem sempre sabemos discernir o que é mais perfeito que é bom e santo o que na realidade não o é.
Por outro lado, a plena união com Deus, isto é, a santidade, exige uma perfeita orientação para Ele, em conformidade com o primeiro e maior preceito de Jesus: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma e de todo o teu espírito” (Mt. 22, 37); mas esta perfeita orientação excede as nossas forças, porque temos um conhecimento muito imperfeito de Deus e do caminho que a Ele conduz. Deveremos então renunciar à santidade? De maneira nenhuma! Deus que nos quer santos, dar-nos-á também o modo de o sermos: foi precisamente para este fim que nos foi dado o Espírito Santo, “Recebereis a virtude do Espírito santo que descerá sobre vós” (Act. 1, 8), disse Jesus.
2 – O Espírito Santo, que “penetra… as profundezas de Deus” (I Cor. 2, 10) e por isso conhece perfeitamente a natureza e os mistérios divinos, que penetra todas as coisas e conhece com perfeição as delicadezas e os segredos da mais elevada virtude, como também as necessidades e as deficiências das nossas almas, vem tomar-nos pela mão para nos guiar à santidade. Enquanto procedemos por nossa iniciativa, incompleta, porque agimos de um modo humano; mas quando intervém o Espírito Santo, Ele opera como Deus, de um modo divino, atrai-nos e orienta-nos completamente para Ele. Quando somos nós a agir, devemos passar à determinação da vontade; mas porque o nosso pensamento é tão limitado, eis que na prática ficamos sempre imensamente aquém do que deveríamos fazer por Deus. Quando, pelo contrário, intervém o Espírito Santo, Ele age diretamente sobre a vontade, atraindo-a a Si, inflama-nos o coração e, em consequência, ilumina-nos a mente. Assim nasce em nós aquele “sentido de Deus” que não sabemos exprimir, mas que nos faz conhecer e saborear a Deus, e nos orienta para Ele mais do que qualquer outro raciocínio ou expediente nosso. Então sentimos que Deus é “único”, que todas as criaturas estão infinitamente distantes dEle, sentimos que Ele merece todo o nosso amor e que este é um nada em comparação com a infinita amabilidade divina; sentimos que qualquer sacrifício é sempre muito pouco para um Deus tão grande. Desde modo o Espírito santo coloca-nos no caminho da santidade. E fá-lo, ajudando-nos a superar as dificuldades práticas: muitas vezes, por exemplo, encontramo-nos em luta com um defeito que não conseguimos vencer, com uma virtude que não conseguimos adquirir, com um problema que não sabemos resolver, mas, a certa altura, sem sabermos como, as coisas mudam; vemos então com clareza o que primeiro nos deixava duvidosos, e conseguimos fazer com facilidade o que antes nos aprecia impossível. Também isto é fruto da ação do Espírito Santo na nossa alma. Eis porque as Suas iniciativas são tão preciosas para nós, e porque devemos desejá-las e implorá-las com grande confiança.
Colóquio – “Ó amor de Deus eterno, santa comunicação do Pai onipotente e do Seu Bem-aventurado Filho, ó onipotente Espírito Paráclito todo poderoso, clementíssimo consolador dos aflitos, com a Vossa potente virtude penetrai no íntimo do meu coração; com o fulgor da Vossa resplandecente luz, alegrai qualquer canto tenebroso da descuidada habitação da minha alma e, visitando-a fecundai com a abundância do Vosso orvalho o que uma longa aridez tornou seco e desolado. Feri o íntimo do homem com o dardo do Vosso amor; penetrai na medula do coração entorpecido e inflamai-o em chamas salutares; reconfortai o homem todo, iluminando-lhe, com o fogo do santo fervor, o íntimo do espírito, e do corpo.
“Creio que todas as vezes que desceis a uma alma, aí preparais o domicílio para o Pai e para o Filho. Feliz aquele que merece hospedar-Vos! Por Vós estabelecem nele a Sua morada o Pai e o Filho. Vinde, pois, vinde, benigníssimo Consolador da alma sofredora, protetor em todas as circunstâncias e amparo na tribulação. Vinde, purificador dos delitos, médico das feridas. Vinde, fortaleza dos fracos, restaurador daqueles que caem. Vinde, mestre dos humildes, Vós que aterrais os soberbos. Vinde, piedoso pai dos órfãos, piedoso juiz das viúvas. Vinde, esperança dos pobres, alívio dos enfermos. Vinde, estrela dos navegantes, porto dos náufragos. Vinde, ó Vós que sois adorno singular dos vivos e salvação única dos que morrem.
“Vinde, santíssimo Espírito, vinde e tende piedade de mim, revesti-me de Vós e ouvi-me propício, a fim de que, segundo a multidão das Vossas misericórdias, a minha pequenez agrade à Vossa grandeza, a minha fraqueza à Vossa fortaleza, por Jesus Cristo meu Salvador que, com o Pai, vive e reina na Vossa unidade, pelos séculos dos séculos. Assim seja” (Sto Agostinho).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.