Ó Espírito Santo, tornai-me dócil À Vossa ação, sempre pronto a deixar-me mover e dirigir por Vós.
1 – Perante a santidade somos sempre como os estudantes e aprendizes que, tendo um conhecimento muito limitado da arte que estão a aprender, precisam continuamente da direção e das sugestões do seu mestre. O Mestre da santidade é o Espírito Santo. Falando dEle, Jesus disse: “Ele vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito” (Jo. 14, 26). Ensina-nos o que devemos fazer para amar a Deus com todas as nossas forças, sugere-nos tudo o que não sabemos, tanto a respeito de Deus, como da prática da perfeição, e não só nos ensina, mas põe-nos em condições de realizar o bem que nos mostra. Agindo diretamente sobre a nossa vontade, fortifica-a, atrai-a e lança-a poderosamente em Deus, orienta-a perfeitamente para Ele. Assim o Espírito Santo “ajuda a nossa fraqueza” (Rom. 8, 26) e já que esta é constitucional, inerente à nossa natureza humana, temos continuamente necessidade dEle. Na realidade Ele nunca nos abandona: toda a nossa vida espiritual está envolvida pela Sua ação; vimos como desde o início vem ao nosso encontro, preparando e secundando as nossas iniciativas pessoais. Em seguida, se nos encontra dóceis aos Seus convites, Ele próprio toma em nós as Suas iniciativas. Por isso toda a obra da nossa santificação se reduz, no fundo, a uma questão de docilidade ao divino Paráclito. Antes de mais nada devemos estar muito atentos e ser dóceis aos Seus convites: “Utinam hodie vocem eius audiatis: nolite obdurare corda vestra“; oxalá que ouvísseis hoje a Sua voz: não endureçais os vossos corações! (Sal. 94, 7 e 8). Os convites do Espírito Santo podem chegar até nós através das palavras da Sagrada Escritura, da pregação, dos ensinamentos da Igreja, de várias circunstâncias da vida, de bons pensamentos, de santas inspirações: correspondamos imediatamente, demonstremos a nossa boa vontade, aceitando e obedecendo prontamente aos Seus convites.
2 – Muitas vezes, infelizmente, a nossa vontade é dura, difícil, rebelde, porque está ainda muito apegada às criaturas, especialmente àquela criatura que é o nosso eu e que nós amamos sempre em demasia. Portanto, para correspondermos à ação do Espírito Santo, a primeira coisa requerida é trabalhar assiduamente para nos desprendermos de tudo, inclusive de nós mesmos. O desprendimento liberta-nos-á de tantos laços que, como cordas, nos prendem às criaturas, tornando-nos impossível a docilidade e a maleabilidade necessárias para recebermos facilmente as moções do Espírito Santo. E recordemos que para prender a alma às criaturas, basta um tênue fio, isto é, bastam pequenos apegos: “tanto se me dá que uma ave esteja presa por um fio delgado ou grosso, pois mesmo que seja delgado, tão presa estará a ele como ao grosso enquanto o não quebrar para voar” (J.C. S. I, 11, 4). O desprendimento quebra o fio que nos prende à terra e a nossa alma, uma vez liberta, pode secundar o mínimo impulso do Espírito Santo e Ele pode invadi-la e dirigi-la à Sua vontade.
Dissemos já que o Espírito Santo não Se contenta em nos convidar para o bem, mas quer tomar em nós as Suas iniciativas para nos impelir mais eficazmente para Deus. Contudo respeita a nossa liberdade e por isso não Se apoderará da nossa vontade se não estivermos dispostos a dar-Lha livremente. E assim podemos pôr um outro obstáculo à Sua ação: o Espírito Santo quereria levar-nos para o alto, para Deus, mas nós não aderimos plenamente à Sua iniciativa porque nos falta generosidade e com a nossa mesquinhez retardamos a obra divina. talvez correspondamos em parte à Sua moção, Lhe demos qualquer coisa daquilo que nos pede, mas não chegamos a dar-Lhe “tudo”. Por isso é muito necessário cultivar o espírito de “totalidade” que não põe limites à nossa doação: precisamos de ter uma coração grande, generoso, para não retardarmos a obra do Espírito Santo, que deseja levar-nos não só a praticar ações boas, mas ações generosas, heróicas, santas.
Colóquio – “Ó meu Deus misericordioso, minha doçura e meu amor, mandai o Paraíso o Vosso Espírito Santo e criai em mim um coração e um espírito novos. Que a Vossa unção me ensine todas as coisas, pois que eu Vos escolhi entre mil e Vos amo acima de todo o amor e da minha própria alma. Ó Espírito Santo, Deus amor, recebei-me na Vossa piíssima misericórdia e caridade, a fim de que, em todo o tempo da minha vida, eu Vos tenha como Mestre, preceptor, e dulcíssimo amante do meu coração” (Sta Gertrudes).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.