Peter Paul Rubens, O dinheiro do tributo, por volta de 1612, Museus de Belas Artes de São Francisco, domínio público, Wikimedia Commons

Ensinai-me, Senhor, a amar a justiça e a odiar tudo o que a ela se opõe.

1 – Aos fariseus que um dia Lhe perguntaram com uma fina astúcia, se era ou não lícito pagar o tributo a César, Jesus respondeu: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt. 22, 21) e com esta simples resposta traçou-nos a linha clara e precisa que devemos seguir no exercício da virtude da justiça: dar a cada um o que é seu, dar a cada um o que lhe pertence. “A justiça, confirma S. Tomás, é a perpétua e constante vontade de atribuir a cada um os seus direitos” (IIª, IIª, q. 58, a. 1, co.). A Deus, o culto que Lhe é devido como Criador, reconhecimento, observância fiel das Suas leis, serviço humilde e devoto. Ao próximo, o respeito pelos seus direitos, tendo em conta as diversas obrigações para com ele, conforme nos é superior, igual ou inferior.

A alma que tende á perfeição não se pode contentar certamente com permanecer dentro dos limites da justiça; a caridade impeli-la-á a querer dar e fazer mais, todavia a justiça será sempre o fundamento indispensável, sem o qual a própria caridade não poderá subsistir. A caridade para com Deus pode e deve estimular-nos a fazer mais alguma coisa do que o estritamente prescrito, mas este “mais” não será agradável a Deus se, para a realizar, desleixaremos algum dever obrigatório. Assim, um profissional não se pode dedicar a obras de apostolado com prejuízo dos seus deveres de estado, e um religioso não pode fazer obras super-rogatórias que o ponham em perigo de faltar a qualquer ponto da sua regra. Do mesmo modo, a caridade para com o próximo pode e deve levar-nos a dar esmola; esta, porém, não seria agradável a Deus se fosse feita com dinheiro que, por justiça, pertencesse a outros, como, por exemplo, se esse dinheiro estivesse destinado ao pagamento do justo salário aos operários ou a saldar as dívidas, etc.. Quando se falta à justiça, ou seja, àquilo que é obrigatório, não se pode falar de caridade, nem para com Deus nem para com o próximo. Só partindo da base sólida e indispensável da justiça, poderá a caridade tomar impulso para um voo alto e seguro.

2 – “Amas a justiça e aborreces a iniquidade, por isso te ungiu Deus, o teu Deus, com o óleo de alegria”, canta o Salmista ao fazer o elogio do justo (Sal. 44, 8). Deus dá a Sua alegria e a Sua paz à alma respeitadora da justiça, que cumpre com escrupulosa exatidão todos os deveres que dela derivam, mesmo á custa de sacrifícios. não é raro efetivamente que, para respeitar os direitos alheios, seja preciso renunciar a alguma comodidade ou bem-estar pessoal e sacrificar às vezes os próprios interesses; mas a alma que quer tender á perfeição deve ser generosa em todos os aspectos e não deve permitir jamais que o egoísmo a impeça de cumprir os seus deveres de justiça para com o próximo. uma das coisas que mais escandaliza e indispõe as pessoas do mundo é ver que há pessoas piedosas que depois, nas suas relações com os outros, não têm escrúpulo nenhum de faltar à justiça e fecham os olhos aos direitos alheios que transtornam os seus interesses pessoais. Quanto mais uma alma aspira à perfeição, tanto mais verdadeiro deve ser os eu culto pela justiça e mais sinceramente deve detestar tudo o que se lhe opõe, embora em matéria leve. Uma tal conduta é fonte de paz para si e para os outros. “A justiça e a paz se oscularam” (Sal. 84, 11), diz a Sagrada Escritura, porque a paz só pode reinar onde está a justiça, ao passo que onde não se respeita a justiça serão vãs todas as tentativas de acordo e de paz. O nosso Deus é o Deus da paz; quem melhor do que a alma desejosa de viver na Sua intimidade deverá levar a paz a todos os meios? Mas só levará a paz se observar a justiça; com efeito de nada serviria exortar à paz se se negasse a dar a cada um o que lhe pertence de direito.

E do mesmo modo que a observância da justiça é fonte de paz e alegria para a nossa consciência, também é fonte de paz e alegria para as famílias, para as comunidades, para todos os meios, para a sociedade inteira.

Colóquio – “Ó justiça, tu és a pérola preciosa pela qual a alma resplandece, tu dás paz e luz às criaturas, tu as conservas no santo temor e manténs unidos os seus corações. Quando falta a tua luz, achamo-nos de súbito mergulhados na desordem e envolvidos nas trevas da injustiça” (cfr. Sta Catarina de Sena).

Ó Senhor, só Vós podeis infundir em mim a verdadeira justiça, porque só Vós sois a justiça infinita, ” Vós sois justo em todos os Vossos caminhos e santo em todas as Vossas obras” (Sal. 144, 17).

“Justo sois, ó Senhor, e retos são so Vossos juízos. Mostrais suma lealdade e justiça em todos os Vossos decretos. A Vossa justiça é eterna e a Vossa lei é firme. Dai-me inteligência para compreender os Vossos preceitos e terei vida. Ensinai-me, ó Senhor, o caminho dos Vossos estatutos e segui-lo-ei com fidelidade. Instruí-me pela senda dos Vossos mandamentos porque nela me deleito; inclinai o meu coração para os Vossos preceitos e não para a avareza. Ensinai-me a amar a justiça e a aborrecer a iniquidade a fim de que possa gozar da Vossa bênção eternamente” (cfr. Sal. 118 e 44).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 24 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico

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