Defeitos a evitar na oração

Mulher Orando na Igreja - Jean-Baptiste Jules Trayer (1824-1909) - Domínio público - Wikimedia Commons

1. É a oração que nos deve santificar. Não saberíamos, pois, afastar demais as imperfeições na oração.

Muitas almas oram e queixam-se de não obter. É sinal que sua oração não preenche as condições prescritas por nosso Senhor. A palavra de Deus, com efeito, não pode falhar: Petite et acipietis (Jo 16, 24), pedi e recebereis.

2. Algumas se iludem primeiro quanto ao que pedem. Deus não quer e não pode conceder senão as coisas que se relacionam com o nosso último fim. Tudo o que está fora disto está fora de Deus e é, pois, nada ou pecado.

O fim da criação é a santificação das almas: Pro eis ego sanctifico meipsum ut sint et ipsi sanctificati in vertate (Jo 17, 19). Eu me santifico a mim mesmo por eles, diz Jesus Cristo, que eles também sejam santificados na verdade.

Os bens temporais estão compreendidos na promessa de Deus, mas sob a condição de serem necessários ou úteis à salvação. Não é necessário, pois, pedir de uma maneira absoluta, mas sob a restrição expressa que eles nos ajudem a salvar e a santificar nossa alma.

Quem pode saber se sua saúde é mais favorável à salvação do que a doença, se o sucesso de uma empresa mesmo espiritual é mais vantajoso para o progresso da virtude, se uma vida longa é melhor para nossos interesses espirituais do que uma morte prematura?

Buscai, pois, primeiro o reino dos céus e uma vida santa, e o resto, isto é, os meios temporais necessários, ser-vos-ão dados por acréscimo: Quaerite ergo primum regnum Dei et justitiam ejus et haec omnia adjicientur vobis (Mt 6, 33).

3. Quando a alma aprendeu a limitar seus pedidos aos bens de ordem sobrenatural, um novo escolho a espera.

Todos os meios sobrenaturais de santidade não são destinados indistintamente para todos. Deus não quer realizar em cada uma, no mesmo grau e da mesma maneira, todas as virtudes dos outros santos. Todos não devem ser anacoretas ou mártires ou apóstolos.

Não é necessário, pois, na oração, obstinar-se a querer tal graça particular, boa em si mesma, mas talvez inoportuna.

Quanto mais sábio é simplificar sua oração, aplicar-se em obter a única coisa digna de ser desejada: o amor perfeito, o desapego completo de todas as coisas criadas, a perfeita reprodução de nosso Senhor em nossa alma.

Contudo, Deus às vezes pode querer que peçamos tal graça especial. Então nos indicará sua vontade de uma maneira qualquer ou por uma inspiração ou por uma advertência exterior, ou pela obediência.

4. Certas almas pedem unicamente as coisas sobrenaturais úteis à perfeição. Além disso, na sua oração, não prescrevem a Deus tal graça antes que tal outra, mas somente o amor perfeito. E entretanto sua oração não está ainda sem defeito.

Esta santidade a adquirir elas a compreendem de tal maneira determinada, em conformidade com seus gostos, com seu temperamento, com suas luzes ou idéias correntes.

Se não percebem progresso no seu ponto de vista, nesta via, o único caminho para Deus, admiram-se inquietam-se e duvidam.

É o sinal de uma grande estreiteza de vista querer impor a Deus a maneira de santificr-nos, marcar-lhe métodos e examinar ansiosamente se ele se conforma com nossos planos de santidade.

E quantas decepções uma semelhante alma se prepara na sua vida de oração!

Deus não deve nem nos pedir conselho, nem adaptar-se às nossas curtas visitas humanas. Devemos deixá-lo livre e entregar-lhe a escolha dos meios que nos devem conduzir a ele.

Peçamos simplesmente que nos santifique tratando de cumprir, com seu auxílio, nosso dever, de levar nossa cruz de cada dia e entregarmos o resto à sua solicitude: Jacta super Dominum curam tuam et ipse te enutriet (Sl 54, 23). Lançai em Deus vossos cuidados e ele vos nutrirá.

Quando a alma se entrega assim a Deus sem nunca cessar de pedir humildemente a santidade, tem certeza de alcançá-la.

5. Deus não prometeu ouvir-nos à nossa maneira, mas à Sua. Do mesmo modo, não acrescentou que nos ouviria no momento por nós fixado, mas naquele que Sua sabedoria e bondade julgassem mais conforme à Sua glória e ao nosso bem.

Nova ilusão e nova fonte de decepções para certas almas de vistas curtas! São semelhantes a crianças caprichosas. Quando Deus não ouve no momento seus pequenos desejos, lamentam-se e inquietam-se.

Quando lhe agradaria mais, se confiassem em sua bondade, se lhe dessem completa liberdade de escolher o tempo em que as ouviria.

Aliás, quem ousaria forçar o divino Mestre a dar-nos a perfeição do amor desde o começo da vida espiritual? A santidade é uma obra de grande duração. É necessário muito tempo antes de ficar bastante desapegado de si mesmo e das criaturas, para aceitar completamente a direção de Jesus Cristo.

6. Vários, sem prescreverem o tempo nem a maneira de serem ouvidos, querem ao menos verificar, por seu juízo, se foram ouvidos por Deus. Aí está uma desconfiança escondida, uma dúvida ao menos esboçada sobre a fidelidade de Deus às suas promessas.

Durante esta vida, não devemos ver, porém crer que Jesus nos ouve, visto que Ele o disse: Sem isto, onde está nossa fé?

7. Acreditamos, pois, em Jesus Cristo. Não é Ele digno de ser crido pela palavra? Não investiguemos se certas orações nossas talvez não tenham sido ouvidas.

Creiamos com fé inabalável que toda oração, na medida em que é oração, humilde e confiante, é atendida infalivelmente, mesmo se nossa razão humana não o compreendera.

Deus reserva para si fazer-nos claramente compreender, no céu, o que nos propõe aqui na terra pela fé. No céu veremos a admirável maneira com que nos conduziu durante nossa peregrinação terrestre.

Quando, pois, tivermos feito um pedido, não nos preocupemos mais senão em renová-lo. Deus encarrega-se de atende-lo da maneira e no momento que escolheu. E se temos confiança nEle, o atenderá sempre mais magnificamente do que o teríamos podido esperar.

8. Oh! o egoísmo e o cálculo! Como desagradam a Deus.

Tantas almas querem tomar cautelas contra o próprio Deus, contra este Deus que as criou e resgatou, que lhes deu tudo até esta minúscula razão que lhes permite duvidar de Sua bondade.

Consideram sempre a perfeição como tarefa sua e não de Jesus Cristo. Crêem-se obrigadas a examinar constantemente sua ação com medo de serem uma dia enganadas, Não compreendem que, por seu cálculo e sua prudência humana, impedem o bom Mestre de ser generoso a seu respeito e de acabar nelas Sua obra de amor.

Almas Confiantes, Pe. José Schrijvers, C.SS.R. 3ª Edição, 1955.

Última atualização do artigo em 4 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico

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