Nossos deveres para com Maria

Nada façamos sem Maria. Não nos contentemos com algumas orações em sua honra, com algumas palavras que lhe dirigimos em ocasiões graves, mas procuremo-la constantemente. Maria pensa sempre em nós, seus olhos não se afastam de nós. Recorramos a ela em nossas dificuldades, em nossas tentaçõos e não comecemos nenhum trabalho, não façamos nenhum exercício de piedade, sem primeiro o confiar a Maria; mas sobretudo não nos aproximemos de Jesus-Hóstia sem nos fazer apresentar por ela. Maria anunciou e preparou o Deus da Eucaristia, foi em seu seio que o Verbo tomou o sangue do qual formou o seu próprio corpo; é chegando-nos a ela, fonte bendita do sangue divino, que nos preparamos para saciar-nos do Sangue de Jesus, e alimentar-nos de seu Corpo sagrado.

Imploremo-la pela Igreja, pelos justos, pelos pecadores. O mundo é muito culpado, e a terra transborda de impiedade, de blasfêmias, de revoltas contra Deus. Essas iniquidades clamam vingança e o peso infinito da santidade divina, da justiça divina, se prepara para esmagar os povos prevaricadores. Quem nos salvará? Será o Coração de Jesus? Ele só deixará cair as torrentes de misericórdia que lavarão a terra, em resposta à súplica de uma voz pura e poderosa de uma advogada eloquente com direitos a alegar e que, por seus méritos, exerça sobre o Juiz um ascendente legítimo e lhe aplaque a justa cólera.

Os anjos sofrem por ver seu Deus tão ultrajado e almejam cobrir o espetáculo de tamanhos horrores, ocultando-os ao olhar três vezes santo do Senhor do mundo; desejariam, ao menos, com seu amor, abrandar-Lhe a ira, mas estão aquém de semelhante missão. Só Maria, a Virgem puríssima, santíssima, a Virgem poderosa, a Mãe dos pecadores, acalmará o seu filho e conseguirá mais uma vez a salvação do mundo.

Não nos mostrou ela que devemos confiar em sua proteção? Não despertou essa Virgem imaculada a fé e não inflamou a caridade? Os peregrinos que vão orar nos santuários de Lourdes, de La Salette, de Pontmain, de Pellevoisin, voltam melhores; os milagres que ela opera, restituindo a saúde aos enfermos, são as menores de suas graças; o bem que faz às almas é um prodigio muito maior.

Já implorais a Maria, piedosos leitores, e seria portanto supérfluo insistir sobre este ponto. Deixai-me, todavia, dizer-vos que vossa confiança se dilatará à medida que lhe conhecerdes as grandezas e a bondade. Estudai-a bem, recordai-vos sempre da imensidade de seus méritos, da sublimidade de sua sabedoria, da extensão de seu poder, da viveza, da intensidade, da força, da ternura de seu amor, e vossas orações serão mais ardentes e mais eficazes.

A imensidade de seus méritos provém das luzes que ela recebeu e da capacidade de amor que lhe foi dada desde a sua conceição e que de início foi muito superior à dos mais excelsos serafins. E essa potência de amor foi sempre aumentando. Maria foi esclarecida, de modo inconcebível, sobre a grandeza e as amabilidades do Altíssimo. O Senhor, é verdade, não lhe revelou todas as coisas; vemos, pelo Evangelho, que certos atos na vida de seu Filho, como o desaparecimento no templo, foram mistérios para ela. Era necessário que a Mãe de tantos aflitos conhecesse a incerteza e a angústia. Mas Maria sempre teve luzes incomparáveis sobre as verdades que auxiliam o mérito, que permitem atos sublimes de caridade. E aí está o princípio de suas grandezas e a causa de seu poder.

Bastará então dirigirmos nossas orações a Maria? Existem almas que parecem por na súplica toda a sua devoção para com essa boa Mãe. Tal devoção é incompleta. Devemos pagar-lhe nossa dívida de reconhecimento, felicitá-la pela sua grandeza, regozijar-nos com sua felicidade e proporcionar-lhe alegrias suaves, imitando-lhe as virtudes.

Foi Maria quem, depois de Deus, mais nos cumulou de benefícios, pois foi ela quem, depois de Deus, mais nos amou, e seu amor é o mais poderoso e o mais eficaz. De quantos perigos nos preservou! Quantas inspirações boas, quantos estímulos e quantas carinhosas repreensões nos vieram dela ou por ela! Quantas graças de luz e de força pediu e obteve para nós! No céu o havemos de saber; não esperemos, porém, até lá para lhe dizer nossa gratidão.

A gratidão, acrescentemos o testemunho de nossa admiração, honremos-lhe a dignidade, rendamos glória às suas extraordinárias qualidades e grandezas.

Uma das grandes alegrias celestes será venerar Maria, exprimir-lhe nosso respeito, felicitá-la pelos dons que lhe foram concedidos, e desde já este dever nos deveria ser mui suave. Assim o compreende a Igreja, e bastaria dizermos do fundo do coração as palavras que ela nos sugere para cumprirmos dignamente com este dever. A oração predileta que a Igreja dirige a Maria é tão bela quanto comovente. É uma oração vinda do céu, pois é a repetição da mensagem enviada pelo Pai celeste à sua Filha bem-amada. Começa por um louvor às suas grandezas: Ave Maria gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in mulieribus et benedictus fructus ventris tui, Jesus. É só depois de havermos felicitado a Santíssima Virgem pelos seus privilégios, depois de nos termos alegrado com sua dignidade, que lhe pedimos, com uma simplicidade enternecedora, para rogar por nós, pobres pecadores, agora e na hora de nossa morte.

Ah! regozijemo-nos com sua felicidade. Não a podemos avaliar, é certo, mas devemos lembrar-nos de que a felicidade consiste na contemplação das belezas divinas e no amor satisfeito. Então Maria, que penetra tão fundo no conhecimento das infinitas belezas de Deus, e o ama com tão intenso amor, goza de uma satisfação que ultrapassa de muito a satisfação de todas as criaturas juntas. Oh! quão doce é este pensamento ao coração do cristão que preza sua Mãe! E, entretanto, ele pode ainda dilatar essa felicidade, pois, à alegria essencial de que goza Maria, pode acrescentar prazeres acidentais pela prática da virtude e pela glória que rende a Deus.

Se Maria ama a Deus com um amor sublime, tudo quanto for feito por Deus lhe causará uma alegria viva e delicada, mais viva e mais delicada que o júbilo causado aos bem-aventurados. E se ela nos ama com um amor carinhosíssimo e todo sobrenatural, deleita-se mais que o nosso anjo da guarda, mais que os nossos pais e amigos, no bem que nos vê praticar e que deve aumentar nossa felicidade por toda a eternidade. Proporcionai a Maria alegrias tão suaves, almas cristãs, mostrai-lhe, por generosos sacrifícios, pelo exercício das mais árduas virtudes, que nada vos custa em se tratando de lhe agradar. Então, mais que nunca, experimentareis os efeitos de sua poderosa proteção.

O Caminho que leva a Deus, Auguste Saudreau, 1937.

Última atualização do artigo em 4 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico

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