Ó Maria que fostes a fiel adoradora de Deus, ensinai-nos a viver em oração contínua.
1 – Para compreender alguma coisa da oração de Maria é preciso procurar no santuário da sua íntima união com Deus. Ninguém como Ela viveu em intimidade com o Senhor. Intimidade de mãe, acima de tudo: quem poderá compreender as estreitas relações de Maria com o Verbo Incarnado, durante os meses em que O trouxe no seu seio virginal? Ainda que exteriormente nada a distingue das mulheres da sua condição, todavia, no segredo do seu coração, desenvolve-se a mais estreita vida de união que pode existir entre Deus e uma pura criatura. “Omnia gloria ejus ab intus” (Sal. 44, 14), toda a glória e grandeza de Maria está no seu interior, verdadeiro santuário que oculta o Santo dos Santos. Maria é o cibório vivo do Verbo Incarnado, cibório todo palpitante de amor, todo imerso na adoração. Trazendo em si a “fornalha ardente de caridade”, como poderá Maria não ficar por ela toda inflamada? E quanto mais se inflama de amor, mais compreende o mistério de amor que se realiza em si: ninguém mais do que Ela teve o sentido da divindade de Jesus, das Suas grandezas infinitas. E do mesmo modo ninguém mais do que Ela sentiu o desejo ardente de se dar toda a Ele, de se perder nEle como uma pequena gota na imensidade do oceano. Eis a oração incessante de Maria: adoração perene do Verbo Humanado que esconde no seu seio; união profunda com Cristo, abismando-se continuamente nEle e transformando-se nEle por amor; um contínuo associar-se às homenagens e aos louvores infinitos que do coração de Jesus sobem à Trindade, oferecendo sem cessar à Trindade estes louvores, na adoração do seu Jesus e, unida a Ele, na adoração da Trindade.
Há um momento do dia em que nós podemos participar do modo mais pleno nesta oração de Maria, é o momento da Comunhão eucarística, em que também nos é dado estreitar Jesus vivo e verdadeiro no nosso coração. Como temos necessidade de que a santíssima Virgem nos ensine a aproveitar deste tão grande dom, a perdermo-nos com Ela no seu e nosso Jesus até nos transformarmos nEle! Como temos necessidade de que Ela nos ensine a associarmo-nos às adorações que sobem do Coração de Jesus à Trindade e as ofereça conosco ao Pai para suprir as nossas deficiências!
2 – De Belém a Nazaré, Maria viveu durante trinta anos em doce intimidade familiar com Jesus. Jesus foi sempre o seu centro de atração, o centro dos seus afetos, dos seus pensamentos, dos seus cuidados. Maria move-se à Sua volta, olha para Ele, procurando constantemente descobrir novos meios de Lhe agradar, de O servir e amar com a máxima dedicação. A sua vontade move-se em uníssono com a vontade de Jesus, o seu coração palpita em perfeita harmonia com o dEle; Ela “participa nos pensamentos de Cristo, nos Seus mais ocultos desejos, de tal modo que se pode dizer que vive a própria vida do Filho” (Pio X, Ad diem illum). Como toda a sua vida, assim a sua oração continua a ser cristocêntrica, mas Cristo leva-a à Trindade. Foi precisamente o mistério da Incarnação que introduziu Maria na plenitude da vida trinitária; as suas particularíssimas relações com as três Pessoas divinas iniciam-se quando o Anjo lhe anuncia que será a Mãe do Filho do Altíssimo por virtude do Espírito Santo. Ela é a filha dileta do Pai, a esposa do Espírito Santo, a Mãe do Verbo, e estas relações não se restringem ao período em que Maria traz em si o Verbo Incarnado, mas estendem-se a toda a sua vida.
Maria é nos apresentada como o modelo mais perfeito das almas que aspiram à intimidade com Deus, e ao mesmo tempo é para nós o guia mais seguro. Guia-nos para Jesus, ensina-nos a concentrar nEle todos os nossos afetos, a dar-nos totalmente a Ele até nos perdermos e transformarmos nEle; mas, por meio de Jesus, guia-nos também à vida de união com a Trindade. Também a nossa alma, pela graça que a reveste, é templo da Trindade, e Maria ensina-nos a viver neste templo como perpétuos adoradores das Pessoas divinas que aí habitam. Que sob a direção de Maria no seja dado também a nós viver nesta atitude de incessante adoração da Trindade que habita na nossa alma.
Colóquio – “Ó Maria, vós sois o trono de Deus, o ostensório do Seu amor. Sois o ostensório vivo de Jesus e quando eu adoro Jesus em vós, é verdadeiramente uma adoração do Santíssimo Sacramento exposto, adoratio in ostensorio. Ó Maria, toda a teologia confirma este vosso belo nome: ostensório de Cristo! Ostensório de Cristo em Belém, na Apresentação, em Caná, na Cruz, na Eucaristia, no Céu. Sim, também no Céu; acaso não vos dizemos: ‘depois deste desterro mostrai-nos – ostende – Jesus, o fruto bendito do vosso ventre’?… Ó Maria, ensinai-me a olhar, a amar Jesus como vós O olhais e O amais, ensinai-me a desejá-lO com o vosso amor, a dar-me a Ele, a ser todo Seu, como vós sóis Sua; ensinai-me a adorar Jesus com os vossos próprios sentimentos. Ó Mãe dulcíssima, ensinai-me a encontrar e a orar a Jesus; enchei-me de Jesus, transformai-me nEle. Ó Maria, introduzi-me na contemplação da vida, da obra e da divindade do vosso Filho. Sede vós o caminho que me conduza a Jesus, o vínculo que me una a Ele e que, com Ele e nEle, me una à Santíssima Trindade” (cfr. P. Eduardo Poppe).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.