Ó Espírito Santo, ensinai-me a conhecer-Vos, a desejar-Vos e a dispor-me para a Vossa ação.
1 – A aproximação do Pentecostes convida-nos a dirigir a nossa mente e o nosso coração para o Espírito Santo: queremos, com a Sua ajuda, conhecê-lO um pouco mais para O amarmos mais, para O invocarmos com maior fervor, para nos dispormos da melhor maneira para secundar a Sua ação nas nossas almas.
O catecismo ensina-nos que em Deus há três Pessoas iguais e distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. Ab aeterno o Pai, conhecendo-Se a Si mesmo, gera o Seu Verbo, Ideia perfeita e substancial em que o Pai Se exprime e à qual comunica toda a Sua bondade, amabilidade, natureza e essência divinas. O Pai e o Verbo, pela Sua bondade e beleza infinitas, amam-Se desde toda a eternidade e deste amor que Os une um ao outro, procede o Espírito Santo. Como o Verbo é gerado pelo Pai por via de conhecimento, assim o Espírito Santo procede do Pai e do Filho por via de amor. O Espírito Santo é, pois, o termo, é a efusão do amor recíproco do Pai e do Filho, efusão tão substancial e perfeita que é uma Pessoa, a terceira Pessoa da Santíssima Trindade, à qual o Pai e o Filho, pela sublime fecundidade do Seu amor, transmitem a Sua mesma natureza e essência sem delas serem despojados. E porque o Espírito Santo é a efusão do amor divino, é chamado “Espírito”, segundo o sentido latino da palavra que significa hálito, respiração, sopro vital. Como em nós a respiração é a manifestação da vida, assim em Deus o Espírito Santo é a expressão, a efusão da vida e do amor do Pai e do Filho, efusão porém, substancial, pessoal que é uma Pessoa. Neste sentido a terceira Pessoa da Santíssima Trindade é chamada o “Espírito do Pai e do Filho” ou também o “Espírito de amor em Deus”, ou seja, o “sopro” de amor do pai e do Filho, “sopro” do amor divino. É neste sentido que os Santos Padres chama ao Espírito Santo o “osculim Patris et Filii“, o beijo do Pai e do Filho, “beijo suavíssimo mas muito secreto”, segundo a terna expressão de S. Bernardo.
Invoquemos este Espírito Santo, Espírito de amor, para que venha acender nos nossos corações a chama da caridade.
2 – Segundo o nosso conceito humano, uma pessoa é um ser: completo, distinto dos outros seres, subsistente, que existe em si mesmo, inteligente e portanto livre, capaz de querer e de amar e por isso amante. Tudo isto se verifica do modo mais perfeito no Espírito Santo: Ele, sopro de amor do Pai e do Filho, é uma Pessoa e uma Pessoa divina. É um ser completo, é todo Ele Deus e não uma parte de Deus; sendo embora perfeitamente igual às outras duas Pessoas divinas, é distinto dElas; é subsistente em Si mesmo, conhece e ama. Sendo o Espírito Santo uma Pessoa divina, podemos ter com Ele relações particulares, como com o Pai e com o Filho. A isto nos convida a Igreja, propondo-nos tão belas invocações ao Espírito Santo e particularmente o hino “Veni creator Spiritus” no qual nos apresenta todos os títulos que tem o divino Paráclito para ser por nós invocado com confiança. O hino começa por se dirigir ao Espírito Santo como “Espírito Criador”, recordando-nos que Ele, juntamente com o Pai e com o Filho, é um só Deus, é o nosso Criador; em seguida, invoca-O como nosso santificado, ou seja, como Aquele que difunde a graça nas nossas almas: imple sperna gratia, quae tu creasti pectora, enchei de graça celeste os corações que criastes. Com efeito, ainda que todas as obras externas de Deus – como a criação, a santificação das almas, etc. – sejam comuns às três Pessoas divinas, todavia, “por uma certa relação e como que afinidade entre as obras externas e o caráter próprio de cada Pessoa, [estas obras] atribuem-se mais a uma que a outra Pessoa” (Enc. Divinum illud.) Assim, ao Espírito Santo, que é o sopro do amor divino, é particularmente atribuída a obra da santificação, que é obra de amor: “O Espírito Santo – ensina Leão XIII – dá um impulso forte e suave e, por assim dizer, dá a última demão ao altíssimo trabalho da nossa eterna predestinação” (ib.). É sob este aspecto particular de Santificador que a Igreja nos convida a invocar o Espírito Santo. Altissimi donum Dei, fons, vivus, ignis, caritas et spiritalis unctio, dom de Deus altíssimo, dom dado às nossas almas para as conduzir à santidade; fonte viva da graça, fogo, doçura espiritual. E ainda: septiformis munere, digitus paternae dexterae, distribuidor dos sete dons, mediante os quais Ele aperfeiçoará a nossa vida espiritual, dedo da mão direita do Pai, que nos deve indicar o caminho da santidade. Com que ímpeto, com que amor e anseio devemos invocar o Espírito Santo, Espírito santificador!
Colóquio – “Ó união maravilhosa no céu, maravilhosa na terra, maravilhosa naquele secretíssimo e perfeitíssimo vínculo da natureza divina onde o Espírito Santo, que é vínculo e laço de amor, une de modo inefável as divinas Pessoas. Oh! Como está unida em perfeitíssima unidade a Santíssima Trindade! Unidade de essência, de substância e de amor. E sois Vós, ó Espírito Santo, o dulcíssimo laço! Ó Divino Espírito, do vínculo com que unis e atais em perfeitíssima união o Pai e o Filho, tirais um vínculo e um nó mediante o qual a alma se une a Deus, à semelhança daquela união divina. E a unis com perfeitíssima liberdade das suas potências, para que não queira e de certa maneira não possa, mercê da graça que a tem tão abraçada e unida ao seu Deus, recordar-se, entender, querer outra coisa além da divina caridade. Oh! quem pudera, como os bem-aventurados do céu, jamais libertar-se de tão ditoso e estreito vínculo!
“Ó Espírito Santo, Vós vindes a nós por amorosa operação de graça… e vindes como fonte, difundindo-Vos na alma e submergindo-a em Vós. Assim como dois rios confluem e se unem ao mesmo tempo, de modo que o menor deixa o seu nome, ou seja, perde o nome, tomando o do maior, assim fazeis Vós, ó Espírito divino, que vindes à alma para Vos unirdes com ela. Mas é necessário que a alma, que é a menor, perca o seu nome, o abandone a Vós, Espírito Santo, e fá-lo-á transformando-se em Vós até se tornar uma só coisa conVosco.
“Ó Espírito santo, vejo-Vos descer à alma como faz o sol, o qual, não encontrando obstáculo, nem impedimento, vai iluminando todas as coisas; desceis como uma seta inflamada que, caindo, vai para o mais profundo lugar que encontra e nele repousa, não parando no caminho, nem pousando em lugares montanhosos, nem altos, mas sim no centro da terra. Assim Vós, Espírito Santo, descendo do céu com as setas inflamadas do Vosso divino amor, não pousais nos corações soberbos e nos espíritos altivos, mas pondes a Vossa morada nas almas humildes e desprezíveis aos seus próprios olhos” (Sta M. Madalena de Pazzi).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.