Domingo de Pentecostes (Jo. 14, 23-31)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
- Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu pai o amará, e viremos a ele, e faremos nele a nossa habitação.
- Aquele que não me ama, não guarda as minhas palavras. Ora, a palavra que tendes ouvido, não é minha, mas de meu Pai que me enviou.
- Disse-vos tudo isso, enquanto andava convosco.
- Mas o Consolador, o Espírito Santo, que o Pai há de enviar em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar tudo quanto eu vos tenho dito.
- Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz; não vo-la dou assim como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração, nem se atemorize.
- Ouvistes o que eu vos disse: Vou, e torno a vós. Se me amásseis, certamente folgaríeis de que eu vá para junto do Pai, porque o pai é maior do que eu.
- E eu vo-lo disse agora, antes que suceda, para que, quando suceder, acrediteis.
- Já não falarei muito convosco, porque vem o príncipe deste mundo; sobre mim, porém, não tem poder algum.
- Mas isto acontece para que o mundo conheça que eu amo ao Pai, e faço o que o pai me ordenou.
O ESPÍRITO SANTO
No Evangelho de hoje, Jesus nos dá o mais amplo conhecimento do Espírito Santo, mostrando o que Ele é e o que faz neste mundo, enquanto a Epístola do dia narra pormenorizadamente a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos, e os maravilhosos efeitos de transformação que operou neles.
Para conhecer bem esta importante doutrina, vejamos:
- QUEM É o Espírito Santo.
- Qual é a sua OBRA VISÍVEL.
I. QUEM É O ESPÍRITO SANTO
O Espírito Santo é a terceira pessoa da Santíssima Trindade, e procede do pai e do Filho.
Para compreender bem tal procedência, é preciso distinguir a natureza e a pessoa.
A natureza é a essência de uma coisa, considerada como princípio de operação.
A personalidade é aquilo pelo qual uma substância completa e racional é sui juris, ou pertence a si mesma.
Em Deus, a personalidade não se distingue realmente da sua natureza, como acontece nas coisas criadas. A personalidade é essencial à natureza divina.
Dizendo, pois, que o Espírito Santo é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade, não quer dizer que seja de menor importância que as duas outras, porque é designada por último.
As Três Pessoas são iguais em tudo, porque é um só e mesmo Deus, porém é impossível designá-las todas juntamente.
Adotou-se esta ordem em atenção à origem, nomeando: primeiro o Pai que gerou o Filho, depois o Filho que unido ao Pai, e pelo amor recíproco, forma o Espírito Santo.
“O Espírito Santo procede do Pai e do Filho, diz Santo Tomás, assim como o calor vem do sole do raio; ou como o fruto vem, a um tempo, da raiz e do tronco”.
Este dogma baseia-se na Escritura Santa e na Tradição.
a) O Evangelho no-lo mostra claramente. Nosso Senhor diz: Quando vier o Consolador que eu vos enviarei da parte do pai, o Espírito da Verdade. (Jo. 16, 1).
E no Evangelho de hoje: O Consolador, o Espírito Santo que o Pai há de enviar em meu nome, vos ensinará todas as coisas.
Estas palavras mostram que o Espírito Santo procede, não só do pai, mas também do Filho; porque se Ele é enviado, tanto pelo Filho como pelo Pai, é sinal que procede de ambos.
b) Na Tradição vemos que todos os Santos Padres da Igreja nos primeiros séculos ensinam esta mesma verdade, o que prova que esta doutrina em parte integrante da fé católica.
II. A OBRA VISÍVEL DO ESPÍRITO SANTO
Assim como houve uma grande manifestação do Pai, na obra da criação, do Filho na obra da redenção, vemos também o Espírito Santo revelando-se em dias ocasiões memoráveis: no Batismo de Nosso Senhor, sob a forma de uma pomba, e no dia de Pentecostes, sob a forma de línguas de fogo.
A pomba é a imagem da mansidão, da bondade, da paciência, que distinguia o divino Redentor.
As línguas de fogo são o símbolo da luz, do calor e do fogo, porque o ofício do Espírito Santo é iluminar as inteligências, aquecer os corações e fazer arder as almas.
O Espírito Santo é, de fato:
A LUZ das inteligências, fazendo compreender a palavra divina.
O CALOR dos corações, excitando-os ao amor de Deus.
O FOGO das almas, pelo zelo e o apostolado no bem. Ele produziu todos estes efeitos na Pessoa dos Apóstolos, no dia de Pentecostes.
A Epístola nos diz que, apenas puseram-se sobre a cabeça dos apóstolos as línguas de fogo, logo eles, cheios do Espírito Santo, começaram a falar diversas línguas.
Pedro, antes tímido e medroso, levanta-se e, cheio de ardor, prega o Evangelho aos judeus reunidos em Jerusalém, e os que receberam a sua palavra foram batizados; e ficaram agregados naquele dia cerca de 3.000 pessoas. (Atos, 2, 41).
Que luz admirável, que amor generoso, que zelo intrépido na alma de Pedro e dos outros Apóstolos, após terem recebido o Espírito Santo!
A transformação é completa.
E esta transformação é a obra do Espírito Santo.
III. CONCLUSÃO
Além da missão visível, o Espírito Santo tem também uma missão invisível.
Do mesmo modo que Ele visitou os Apóstolos, visita nossas almas, e produz nelas efeitos análogos àqueles do domingo de Pentecostes; somente a sua visita é invisível, e não o conhecemos senão pela fé: É a santificação das almas pela graça.
É certo que, pela graça santificante, vêm as Três Pessoas divinas habitar em nosso coração. Jesus disse: Se alguém me amar… meu Pai há de amá-lo, e nos viremos a ele, e nele faremos morada. (Jo. 14, 23).
Esta morda de Deus na alma é atribuída especialmente ao Espírito Santo, porque é obra do amor divino, e porque o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, como seu amor mútuo.
É o que exprimia São Paulo dizendo: O amor de Deus é derramado e nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. (Rom, 5, 5).
E ainda: Não sabeis porventura que sois o templo de Deus, e que em vós habita o Espírito de Deus? (I Cor. 3, 16).
Como sendo santificador das almas, o Espírito Santo deve ser honrado e invocado de modo especial pelos católicos, como o faz a Igreja, fazendo preceder as reuniões pela recitação do “Vinde espírito Santo” e cantando nas solenes cerimônias o “Veni Creator Spiritus”.
Lembremo-nos dEle, fazendo o sinal da cruz, e invoquemo-lo no começo dos principais exercícios do dia, recitando piedosamente: Vinde, Espírito Santo!…
Comentário Dogmático, Padre Júlio Maria, S.D.N., 1958.
Última atualização do artigo em 21 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico