Na cidade italiana de Como, recebeu Don Filippo Volta, no dia 18 de Fevereiro de 1745, um grande tesouro. Don Filippo pertencia à nobreza, mas era muito pobre. Seu filho havia de contar, mais tarde: “Meu pai não possuía nada senão uma pequena casa no valor de 14.000 liras e deixou, ao morrer, uma dívida de 17.000 liras. Eu. era, portanto, pobre a não mais poder”.
Contudo, a alegria de Don Filippo foi imensa ao receber o seu tesouro. Este tesouro foi seu filho Alexandre que acabava de nascer naquele dia. E, se o feliz pai pudesse prever o futuro deste filho, sua alegria teria sido maior ainda. Alexandre tornar-se-ia um dos homens mais afamados de seu tempo e, hoje ainda, a inicial de seu nome, “V”, significando “volt”, é escrita e lida vezes sem conta.
Tal celebridade, já se adivinha, não é resultado de poder financeiro. Pois nem cadernos tinha Alexandre para fazer seus primeiros exercícios de caligrafia. Nem foi tal celebridade o fruto só da inteligência que por sinal foi descomunal. Nem bastava para tanto sua operosidade incessante. Tudo isto era amparado e fecundado e abençoado por uma profunda cultura mariana.
Com o auxílio de dois irmãos de Don Filippo, um deles cônego, o outro arcediago da catedral, Alexandre pôde frequentar o colégio dos jesuítas que aí mostravam uma verdadeira predileção por estudantes pobres.
Em 1757 ou 1759 alistou-se nas fileiras marianas. O treinamento recebido na Congregação Mariana marcou-lhe o passo não somente no aperfeiçoamento nas virtudes cristãs, mas no seu avanço na estrada da glória e mesmo para o sucesso na vida material.
Vejamos resumidamente a sua jornada científica, pois não é aqui o lugar para apreciar detalhadamente os seus trabalhos de cientista.
Em 1760, teve que transferir-se para o seminário de Benzi, onde concluiu o curso de filosofia. Com o último dia de aula em Benzi acabou-se para Alexandre a vida escolar. Mas não se acabaram os estudos. Ainda como professor de Universidade, costumava sentar-se entre os estudantes das várias faculdades que teve ocasião de visitar. Não admira, pois, que o homem conhecido como um dos maiores físicos tivesse conhecimentos variadíssimos que ele aproveitava ao serviço de seu profundo amor ao próximo. Baste, por ora, mencionar seus empenhos em transplantar, para sua terra natal, o cultivo da batata para alívio dos pobres daquela região. Foi ele também um dos primeiros que fez experiências para aproveitar os gases dos pântanos.
Entretanto, fica verdade que seus trabalhos principais tiveram por fim a exploração da eletricidade. E são as suas descobertas nesse terreno que lhe asseguram um nome imortal.
São várias as suas invenções neste ramo da ciência.
Em 1774, foi nomeado reitor do ginásio de Como, e em 1778 quis a Universidade de Pavia tê-lo como professor, pois, com a invenção do eletróforo e do eletroscópio tinha fundado a teoria da eletricidade. Agora seguiam-se as invenções umas às outras. Foram a pistola elétrica, o eudiômetro e a lâmpada de ar inflamável. Em 1782, inventou o condensador e começou a interessar-se pelas experiências de Galvani. Repetindo essas experiências, Alexandre Volta descobriu que Galvani interpretava de modo errado os fatos. Este descobrimento levou o grande físico a seu invento mais importante, a coluna voltaica, também chamada pilha voltaica, a primeira fonte de uma corrente elétrica permanente.

Este invento trouxe ao cientista, além de uma pensão vitalícia por parte de Napoleão Iº e uma gratificação em dinheiro, uma verdadeira chuva de honrarias. Napoleão em pessoa assistiu às conferências de Volta no Instituto de France, em Paris, que lhe conferiu a medalha de ouro de distinção. A Real Sociedade de Londres da qual Alexandre era membro, distinguiu-o com a medalha aurea de Copley. Napoleão fê-lo conde e senador do reino da Itália. Mais tarde, o imperador da Áustria, Francisco, nomeou-o diretor da faculdade de filosofia da Universidade de Pádua.
Mencionemos ainda de passagem um fato pouco conhecido: em 1867, apresentou o célebre historiador italiano Césare Cantu (na famosa Exposição Mundial de Paris) uma cópia fotográfica de uma carta de Volta da qual resulta dever-se atribuir ao inventor da pilha voltaica também a idéia do telégrafo elétrico.
Apesar de todas estas vantagens materiais, apesar de tantas honras e distinções, Alexandre Volta permaneceu sempre o humilde filho daquela que se intitulava a “Escrava do Senhor”.
Entre os anos de 1777 e 1782 fez várias viagens de estudos para a Suíça, Alemanha, Holanda, Inglaterra e França. (Falava as línguas de todos estes países. Em algumas delas, como na sua vernácula, escrevia poesias de valor literário). Ora, quando chegou, na primeira viagem, a Lucerna, não pôde resistir em fazer uma visita à sua Mãe celeste no seu santuário de Einsiedeln ( N. Sra. dos Eremitas). Este traço era absolutamente natural para Alexandre, tanto como a Missa dominical, que não deixou de ouvir, mesmo no primeiro domingo, em Paris, tendo chegado àquela cidade, depois de uma viagem bem fatigante, em horas tardias do sábado precedente. Costumava, aliás, assistir à santa Missa todos os dias, seja que estivesse em Como ou Pavia ou em qualquer outro lugar. Também não deixou passar um só dia, sem rezar o seu terço.
Enquanto se achava em Paris, dividia o seu tempo entre as visitas a cientistas e sábios e a frequência às preleções na Universidade; ou inspecionava fábricas, interessando-se não somente pelos métodos técnicos, mas ainda pelas condições de vida dos operários.
Alexandre tinha-se casado com 49 anos, depois de uma vida em que nenhuma mulher tivera lugar em seus pensamentos. Ora, em Paris aproximou-se-lhe o tentador. Mas o congregado nem um momento sequer teve dúvida a respeito de seu dever.
Se Alexandre levou a sério os seus deveres de congregado, não o devemos julgar unicamente pelos seus esforços na santificação própria. Melhor prova ainda é seu interesse pela salvação do próximo. É verdade, toda sua vida era um exemplo vivo da vida católica. Mas ele gostava de misturar-se com o povo simples nas procissões, visitava frequentemente as casas dos camponeses, ensinava-lhes como evitar doenças por meio da limpeza e de uma vida regrada e não desdenhava tomar parte nas suas refeições frugais. Aos domingos de tarde, podia o célebre físico ser visto, na igreja paroquial de San Donnino, empenhado na explicação do catecismo.
Sua fé penetrava toda a sua vida. Por isto não se pode imaginar uma vida mais harmoniosa do que a da família de Volta. Não lhe faltavam as provações. A morte da extremada esposa e do dileto filho Flamínio foram golpes rudes para o coração sensível de Alexandre.
Também ele começou a sentir os efeitos de uma vida laboriosa. Já em Lião (França) fora atacado por uma doença do peito. Em fins de Fevereiro de 1827, teve que recolher-se em consequência de uma febre reumática. Na tarde do dia 4 de Março mandou chamar o padre que o confortou com o santo Viático. Piorando durante a noite, veio o sacerdote, mais uma vez, administrando-lhe a Extrema-Unção. O dia 5 de Março de 1827 marcou o fim da vida do grande congregado.
Mariano Célebres, por Werner J. Soell, S. J., 1955.
Última atualização do artigo em 17 de março de 2025 por Arsenal Católico