O Espírito Santo e a atividade

Ó Espírito Santo, sede o inspirador das minhas ações, o regulador da minha atividade.

1 – A alma interior deve chegar gradualmente a pôr toda a sua vida – não só a sua ração, mas também a sua atividade – sob a direção do Espírito Santo. Jesus disse-nos que Ele deve “ensinar-nos todas as coisas e lembrar-nos tudo” (Jo. 14, 26). Consideremos em primeiro lugar a atividade mais estreitamente ligada à nossa vida espiritual e que consiste em procurar realizar durante o dia os bons propósitos formulados na oração: propósitos dos nossos exercícios anuais, dos nossos retiros mensais, das nossas confissões semanais. Por vezes as almas fazem um trabalho quase exclusivamente “moral” e muito pouco “teologal”: procuram corrigir-se dos seus defeitos e exercitar-se nas virtudes com intenção de agradar a Deus, mas na prática continuam, por assim dizer, desligadas dEle. A alma trabalha sozinha, esquecendo-se quase de que nela mora quem poderá não só ajudá-la, mas trabalhar muito melhor do que ela: é semelhante a um marinheiro que, todo ocupado em remar, não aproveita o sopro do vento e assim não recebe nenhuma ajuda. Certamente que a alma não deve negligenciar o seu trabalho, mas deve realizá-lo de um modo mais interior, mais teologal, ou seja, mais dependente de Deus, da ação do Espírito Santo. Em vez de focar diretamente um defeito ou uma virtude, aproveitará muito mais se concentrar a sua atenção na contínua dependência do Mestre interior, passando à ação depois de ter escutado a Sua voz íntima e silenciosa. Enfim, trata-se de agir em todas as coisas, acomodando-se ao movimento interior da graça, à inspiração do Espírito Santo, numa palavra, de transferir o andamento da nossa vida interior das nossas mãos para a direção do Espírito Santo.

2 – Tanto nas relações com o próximo, no desempenho dos deveres quotidianos, na atividade profissional, como também nas obras de apostolado, devemos deixar-nos guiar pelo Espírito Santo. Ele deve tomar a direção de toda a nossa conduta. Para tal fim é necessário, antes de mais, mantermo-nos em contato com Ele, mesmo no meio da ação; breves momentos de pausa ajudar-nos-ão de tempos a tempos a reforçar tal contato ou a restabelecê-lo quando a excessiva atividade ou os impulsos das nossas paixões o tiverem de qualquer modo interrompido. “Nada faço de mim mesmo – disse Jesus – mas como o Pai me ensinou, assim falo” (Jo. 8, 28). Esta era a norma da conduta de Jesus e esta deve ser a norma da nossa conduta: agir em contínua dependência de Deus que, por meio do Seu Espírito, nos sugere tudo o que devemos fazer. Neste campo, porém, é necessário saber distinguir as inspirações do Espírito Santo dos movimentos da natureza e das insinuações do espírito maligno. Sem esta prudente discrição, muito facilmente nos exporíamos a ilusões e a enganos, considerando inspiração divina aquilo que é fruto dos impulsos mais ou menos inconscientes da nossa natureza defeituosa, das nossa paixões. Uma maneira fácil e prática de reconhecer as verdadeiras inspirações do Espírito Santo é ver se nos mantêm e nos fazem entrar cada vez mais na linha da vontade de Deus, ou seja, no cumprimento das ordens dos superiores, das leis a que estamos sujeitos, dos deveres do nosso estado, ou se, pelo contrário, nos fazem sair ou desviar dessa linha. Neste último caso haveria motivo para temer, porque o Espírito Santo não pode impelir-nos senão para o cumprimento da vontade de Deus, e por isso não pode inspirar-nos nada que seja contrário à obediência e aos nossos deveres. Nos casos duvidosos urge recorrer ao conselho de uma pessoa esclarecida e prudente e então a alma que é verdadeiramente conduzida pelo Espírito Santo, será dócil em obedecer ao parecer alheio, ainda que contrário ao seu.

O Espírito Santo, disse Jesus, “habitará convosco e estará em vós” (Jo. 14, 17); que grande loucura seria, pois, agir independentemente dEle que nos foi dado para ser o nosso guia, o nosso santificador.

Colóquio – “Ó Espírito Santo, Vós sois o distribuidor dos tesouros que estão no seio do Pai; Vós sois o tesouro dos conselhos que se fazem entre o Pai e o Verbo. Vós nos manifestais o que devemos fazer para agradar à Trindade; e manifestais no íntimo do coração mediante as Vossas inspirações, ou no exterior pela pregação e pelos conselhos dos Vossos ministros. As portas do céu estão sempre abertas para nos enviarem a graça, mas nós não temos aberta a boca do desejo para a receber. Venha, venha esta graça; venha, ó Pai eterno, venha ó puríssimo Verbo, porque Vos dignastes querer enviar-nos o Vosso Espírito suavíssimo, o Espírito de bondade. Ó Espírito Santo, como vindes cheio de riquezas para nós; feliz aquele que Vos acolhe! Vós trazeis-nos o poder do Pai, o amor ardente do Verbo!” (cfr. Sta M. Madalena de Pazzi).

“Ó Senhor, fazei-me conhecer o caminho que devo seguir para chegar a Vós; ensinai-me a fazer a Vossa vontade e que o Vosso Espírito me guie pelo caminho reto. Criai em mim, Senhor, um coração puro e infundi em mim o Vosso Espírito de retidão e de verdade. ò meu Deus, não me afasteis da Vossa presença, não me tireis o Vosso Espírito Santo, porque sem Ele eu ficaria privado da vida da graça. Sustentai-me, Senhor, com o Vosso Espírito magnânimo, sem o qual nada poderei fazer” (cfr. Sal. 142 e 50).

Ó Espírito Santo, Espírito de verdade, que falais e instruís as almas interiormente, tornai-me atento aos Vossos ensinamentos e dócil às Vossas inspirações.

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

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