O número dos meus anos acaba
depressa, e eu caminho por uma
vereda, que não tornarei a precorrer.
(Jo. XVI, 23)
O TEMPO
Sendo o tempo um dom infinitamente precioso, no entanto poucos são so que o apreciam devidamente.
O que é ele, senão a preparação para a eternidade da bem-aventurança, a posse de Deus: o seu valor é pois, de certo modo divino.
No tempo e com o tempo vais passando a tua vida, entregue a cada uma das tuas obras, as quais colocadas na balança de Deus, hão de decidir um dia da tua recompensa ou castigo.
Oh! tempo inestimável, preço da eternidade! És o primeiro dos dons de Deus, porque de ti estão dependentes todos os outros! Dai um momento só ao condenado, e ele conseguirá a salvação: concedei-o a um bem-aventurado e aumentará a sua glória.
Mas o tempo compõe-se de partes: de anos, meses, semanas, dias, horas e minutos.
Se ele é precioso, preciosas são também as horas e os minutos.
Em rigor, só do momento presente podes dispor, porque só ele está nas tuas mãos. Mas ai! com quanta rapidez desaparece! Fixas-te nele; foge e já não te pertence.
Assim como as águas no rio se vão arrastando umas às outras, assim os segundos e as horas se vão sucedendo e substituindo.
A vida é como o fumo; apercebe-se num momento, para não se divisar no outro[1]. Os nossos dias sobre a terra são como a sombra[2]. O homem desabrocha agora como a flor, para em breve desaparecer como a sombra[3].
Onde estão os dias da tua infância? passaram, para não voltarem. Onde está o dia de ontem? onde as horas que acabam de se sumir?
A corrente do tempo vai arrastando de contínuo a frágil barquinha da tua vida: dentro de poucos anos, talvez até de poucos meses ou dias, entrarás no oceano imenso da eternidade: o tempo passou, e com ele terminou também o número dos dias da tua vida.
Nesse momento, que dirás do tempo que perdeste inutilmente, das horas que dissipaste? Arrependimento tardio e inútil.
Aproveita agora, enquanto podes, este dom precioso.
Não defraudes nenhum dos dias esplêndidos que te são concedidos, nem desperdices a mais pequenina parcela dos dons de Deus[4].
A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.
[1] Sant. IV, 15.
[2] 1. Par. XXIX, 15.
[3] Jó. XIV, 2.
[4] Ecl. XIV, 14.
Última atualização do artigo em 8 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico