Terceiro Domingo depois de Pentecostes – Pe. Júlio Maria, S.D.N.

James Tissot, O Bom Pastor [detalhe], entre 1886 e 1894, domínio público, Wikimedia Commons

Terceiro Domingo depois de Pentecostes (Luc. 15, 1-10)

  1. Naquele tempo, aproximaram-se de Jesus os publicanos e os pecadores para o ouvirem.
  2. Os fariseus, porém, e os doutores da lei, murmuravam, dizendo: Este homem acolhe os pecadores e come com eles.
  3. Então Jesus propôs-lhe a seguinte parábola:
  4. Quem é de vós que, possuindo cem ovelhas, e tendo perdido uma delas não deixa as noventa e nove no deserto e vai atrás daquela que se perdeu, até a encontrar?
  5. E havendo-a encontrado, põe-na aos ombros cheio de alegria.
  6. E, de volta à casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo: alegrai-vos comigo, porque achei a minha ovelha que andava perdida.
  7. Digo-vos que semelhantemente maior júbilo haverá no céu por um pecador que fizer penitência, do que por noventa e nove que não precisam de fazer penitência.
  8. Ou, qual a mulher que, possuindo dez dracmas, e tendo perdido uma, não acende a candeia, e varre a casa, e a procura, com muito afã, até a encontrar?
  9. E tendo-a achado, reúne as suas amigas e vizinhas e lhes diz: Alegrai-vos comigo, porque achei a dracma que havia perdido.
  10. Assim eu vos declaro que tal será o júbilo entre os anjos do céu por causa de um pecador que fizer penitência.

MISERICÓRDIA DE DEUS

O Evangelho de hoje é a manifestação tocante da misericórdia divina.

Jesus compara-se a um bom Pastor que deixa um instante o rebanho fiel, e vai à procura da ovelha perdida; e tendo-a encontrado, toma-a sobre seus ombros, volta para a casa e se alegra por ter encontrado a ovelha fugitiva.

Seguindo passo por passo o Evangelho, encontramos uma tríplice gradação da manifestação desta misericórdia para com o pecador.

  1. O pecador AFASTAR-SE: Deus se entristece.
  2. O pecador FOGE: Deus o procura.
  3. O pecador CANSA-SE: Deus o carrega.

I. O PECADOR AFASTA-SE DE DEUS

Pelo Batismo, o homem torna-se filho de Deus e da Igreja.

Esta dupla filiação é inseparavelmente unida, de modo que, deixando de ser filho da Igreja, o homem deixa de ser filho de Deus, no sentido rigoroso do termo: É o que faz dizer que: fora da Igreja não há salvação; como se dissesse: fora de Deus não há salvação.

Para compreender esta verdade, é preciso distinguir na Igreja: o corpo e a alma.

Pertence ao corpo da Igreja aquele que é batizado e não é excomungado.

Pertence à alma da Igreja aquele que vive na graça de Deus.

O homem afasta-se do corpo da Igreja pela heresia, o cisma, a apostasia e a excomunhão.

Afasta-se da alma da Igreja pelo pecado mortal.

Dizendo, pois, que “fora da Igreja não há salvação”, significa que não se podem salvar os que estiverem no erro voluntário e culpado, ou que, pertencendo ao corpo da Igreja, não pertencem à sua alma, pois o estado de graça é necessário para que quer ser salvar.

O pecador pertence ao corpo da Igreja; é membro do rebanho de Jesus Cristo, como a ovelha desgarrada é membro do rebanho, porém o homem se afasta deste rebanho, cometendo o pecado mortal.

Afasta-se de Deus… e este afastamento contrista profundamente o coração de Deus.

As vossas iniquidades vos separam de Deus, diz o profeta. (Is. 59, 2).

Se dissermos que temos sociedade com Deus, e andamos nas trevas do pecado, mentimos e não praticamos a verdade, diz São João. (I Jo. 1, 6).

Deus podia castigar o rebelde, mas não; espera, chora a sorte do infeliz, como o pai do filho pródigo chorava a sorte do filho fugitivo.

II. O PECADOR FOGE DE DEUS

Não somente o pecador se afasta de Deus, mas foge e vai embrenhar-se nos espinhos do vício, longe do rebanho e longe da casa paterna.

Que desavença:

O filho foge de seu pai!

O necessitado foge de seu benfeitor!

O enfermo foge do médico!

O faminto foge do banquete!

A criatura foge de seu Criador!

Deus podia abandonar à sua triste sorte o pobre fugitivo, e este encontraria castigo em seu próprio pecado, mas Ele não quer a morte do pecador, mas sim que se converta e viva. (Ez. 33, 11).

Mais longe foge o pecador, com mais misericórdia, Deus o persegue, abrindo-lhe os braços e o coração para que se arrepende e volte à casa paterna.

O filho pródigo desperdiçava os seus haveres e depois vivia na miséria enquanto o pai ia diariamente à beira da estrada, esperando a volta do filho pródigo arrependido.

Deus corre atrás do pecador, murmurando-lhe aos ouvidos as tocantes lamentações de Isaías: Ouvi, céus, e tu, ó terra… Criei filhos e engrandeci-os; porém eles me desprezaram. (Is. 1, 2).

Que coisa há que eu devia fazer… que não tenha feito? (Is. 5, 4).

Ó meu povo, que vos fiz eu, ou em que te agravei, responda-me? (Mq. 6, 3).

Não sou eu o teu pai, quem te possuo, quem te fez e te criou? (Dt. 32, 6).

Tu abandonas, então, o Deus que te gerou; e tu, criatura, tu te esqueces de teu Senhor? (Dt. 32, 18).

E Deus espera… espera 20, 30, 80 anos, até que o arrependimento entre nesta alma e ela se lance nos braços da misericórdia divina.

Pode uma mulher esquecer-se de seu filho e não ter compaixão do fruto de seu seio. E se ela o esquecesse, eu não me esquecerei de vós, diz Deus, pelo profeta. (Is. 49, 15).

III. CONCLUSÃO

Quando o arrependimento penetra a alma do pecador, Deus não espera que ele mesmo volte, mas, como diz o Evangelho, Ele o põe sobre os ombros alegremente, e o leva até à casa paterna.

De fato, o pecador, sem a graça de Deus, não pode converte-se; mas Deus lhe dá esta graça, carregando-o, como em seus braços, pela graça preventiva, fazendo penetrar nele a graça santificante, que lhe restitui o seu título de filho de Deus.

A satisfação desta conversão é tão grande, que Jesus Cristo não hesita em dizer: que haverá mais júbilo no céu por um pecador que fizer penitência, do que por noventa e nove justos que não têm necessidade de penitência; e que haverá júbilo entre os anjos de Deus por um pecador que faz penitência. (Lc. 15, 10).

Será possível imaginar uma misericórdia mais intensa, mais extensa e mais convidativa?

É impossível?

Deus é a própria misericórdia, sendo este o atributo de que mais se glorifica: Misericordiam volo et non sacrificium. (Mat. 12, 7).

Comentário Dogmático, Padre Júlio Maria, S.D.N., 1958.

Última atualização do artigo em 22 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico

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